domingo, 25 de setembro de 2016

Greca, Doria e o vomito nas eleições!

Por Altamiro Borges

Na última semana de campanha para o primeiro turno das eleições municipais, as pesquisas apontam para um cenário tenebroso em várias capitais. Devido ao ceticismo reinante no país, muito em função da escandalização da política difundida pela mídia falsamente moralista, há indícios de que as urnas poderão produzir verdadeiros “vomitaços”, com a eleição de candidatos fisiológicos, reacionários e sem qualquer compromisso com a humanização das cidades. É certo que não dá para confiar nos institutos de pesquisas – seja no “Datafalha” ou no “Glopobe” –, que servem a interesses escusos nos processos eleitorais. Mesmo assim, não dá para desconsiderar totalmente os resultados das suas sondagens. E os sinais são preocupantes para o futuro da democracia brasileira.

Em Curitiba, hoje famosa por abrigar o “justiceiro” Sergio Moro, o líder nas pesquisas é o sinistro ex-prefeito Rafael Greca, que concorre pelo nanico PMN e tem o apoio do governador Beto Richa, o espancador de professores. Ele é conhecido pela postura autoritária e por várias denúncias de corrupção – inclusive de ter furtado um acervo de 12 obras de arte de um museu municipal. Na quinta-feira passada (22), durante sabatina promovida pelo jornal “Bem Paraná” e pela Pontifícia Universidade Católica, ele revelou toda a sua visão elitista e preconceituosa. “Eu nunca cuidei dos pobres, eu não sou São Francisco de Assis. Até porque a primeira vez quer tentei carregar um pobre e pôr dentro do meu carro, eu vomitei por causa do cheiro”, afirmou na maior caradura. Diante da repercussão negativa nas redes sociais, o demagogo velhaco até tentou posar de humilde e pediu desculpa por seu “deslize”. Que tristeza!

Já em Belo Horizonte, que em outubro de 2014 escorraçou o cambaleante Aécio Neves na sua maior overdose eleitoral, agora pode eleger um filhote do ex-governador. Haja contradição. O ex-jogador João Leite (PSDB), que ganhou fama no Atlético Mineiro, está na frente nas pesquisas. Em segundo lugar, aparece outra figura futebolística, o ex-cartola Alexandre Kalil (PHS). A disputa entre duas figuras sem experiência administrativa ou compromisso com a cidade revela o grau de despolitização neste pleito. Até a revista “Veja”, que ajudou a difundir o clima de ceticismo na política, registrou em tom jocoso que “a eleição em BH é Cruzeiro versus Atlético”. “O clima de torcida de futebol tem dado o tom da acirrada disputa pela prefeitura de Belo Horizonte”. Que retrocesso!

O risco de retrocesso em São Paulo

Por último, como ilustração sobre as tendências sombrias do pleito municipal do próximo domingo (2), vale registrar a aparente reviravolta em São Paulo. As últimas pesquisas indicam que o ricaço João Doria disparou na reta final da campanha e já ultrapassou o “azarado” Celso Russomanno. Filhote do governador Geraldo Alckmin, o empresário-picareta é um novato no ninho tucano e não conta com a simpatia nem dos veteranos líderes da legenda. Neste sábado (24), a Folha serrista revelou que “um terço dos integrantes da cúpula do PSDB paulistano abdicou de seus cargos na executiva municipal da sigla num movimento de boicote à candidatura de João Doria à Prefeitura de São Paulo”.

“Somos forçados, neste momento, quando deseja nos representar alguém que simboliza tudo contra o que lutamos desde a nossa fundação, a dizer não a esta candidatura", afirma o manifesto obtido com exclusividade pela Folha. Intitulado “Nota dos tucanos autênticos da cidade de São Paulo”, o documento confirma a grave divisão do tucanato – que antecipa a rinha tucana para a disputa presidencial de 2018 entre Geraldo Alckmin e José Serra. O texto também critica a “intervenção do diretório estadual”, controlado pelo governador, que teria impedido a apuração das queixas de abuso de poder político, econômico, de propaganda irregular e compra de votos na campanha do ricaço nas prévias internas. “Por esse conjunto de valores, não podemos votar em Doria”.

Sobre o violento retrocesso que representa a candidatura de João Doria vale conferir o artigo de Guilherme Boulos, líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), publicado nesta quinta-feira (22) na Folha:

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Doria, um gestor em causa própria

As eleições municipais em São Paulo têm sido palco da tentativa de promover supostos "outsiders" da política, alçados por uma carreira anterior nos negócios e na mídia. João Doria Junior e, em menor medida, Celso Russomano buscam explorar a imagem de alguém "de fora", alheio às corrupções e negociatas dos políticos.

O caso de João Doria é emblemático. Vende a fama de gestor empresarial, limpinho e cheiroso, colocando-se como representante do mítico setor privado avesso à corrupção e voltado para o bem comum. Ganhou notoriedade com os eventos do Lide (Grupo de Líderes Empresariais), que reúne os ricaços nacionais e agentes públicos em rega-bofes na badalada Ilha de Comandatuba.

O Lide se apresenta com os nobres objetivos de contribuir para o "desenvolvimento econômico e social" e fortalecer os "princípios éticos de governança", mas já foi acusado de ser na prática uma grande reunião de lobistas em busca de favorecimentos e ávidos por abocanhar o fundo público. Talvez uma injustiça contra este seleto clube do 1%. Mas João Doria, o patrono destes encontros, mostrou saber valer-se das boas amizades para a gestão de seus negócios pessoais.

Em 2015 seu grupo empresarial recebeu R$ 950 mil do governo federal, através da Apex (agência responsável pelo fomento às exportações), dirigida por seu amigo David Barioni. A verba pública foi destinada para "organizar eventos no Brasil e no exterior".

Além disso, conforme revelado no início deste ano, Doria aproveitou uma estada de Barioni em sua luxuosa casa de Campos do Jordão para pedir um favor pessoal, que a Apex bancasse uma exposição de artes de sua esposa, Bia Doria, com custo estimado em R$ 1,7 milhão.

Do governo estadual de Alckmin, padrinho de sua candidatura, Doria obteve R$ 1,5 milhão por anúncios em revistas da Doria Editora. O que chama mais atenção são os R$ 501 mil destinados para a revista "Caviar Lifestyle", cujo nome já aponta para que público está dirigida. A questão é qual o interesse público em investir esta quantia num anúncio de nove páginas na "Caviar Lifestyle"?

A imagem de Doria como promotor dos "princípios éticos" é colocada em xeque ainda por outros casos que vieram à tona. Além de cultivar amizades no paraíso natural de Comandatuba, Doria parece ser afeito a negócios no paraíso fiscal das Ilhas Virgens britânicas. Seu nome apareceu recentemente nos famosos "Panama Papers" pela utilização de uma offshore do escritório Mossack Fonseca para a compra de um apartamento em Miami, sem que a propriedade aparecesse em seu nome.

Doria é conhecido por seu gordo patrimônio imobiliário. Sua casa no Jardim Europa, por exemplo, tem mais de 7.000 m². Mas faz jus à velha máxima de que o rico, quanto mais tem, mais quer. Resolveu expandir sua mansão de Campos do Jordão numa área pública de 400 m². Invadiu área pública. Logo ele, que se apressa em condenar as ocupações de sem-teto na cidade de São Paulo. Só pode invadir se for mansão, candidato?

E como se não bastasse, apesar da Justiça ter determinado reintegração de posse em 2009, há sete anos, o puxadinho-caviar de Doria permanece lá. A tropa de choque de Alckmin, tão "eficiente" em outros casos, parece não conhecer o caminho da mansão de Campos do Jordão.

Todos estes fatos confirmam que João Doria é mesmo um "bom gestor", mas um gestor em causa própria. Ter a capacidade de aumentar seu patrimônio e obter vantagens – por meios bastante questionáveis – não habilita ninguém para a função pública. Ao contrário, inspira desconfiança.

O dono da "Caviar Lifestyle", assim como a maioria de seus parceiros do setor privado, de limpinho e cheiroso parece só ter a fama e o colarinho. Fama sustentada por boas peças de marketing eleitoral. Estado mínimo é só para os investimentos sociais. Quando se trata de financiar seus projetos e interesses com verba pública defendem mesmo é o Estado máximo. De "novo" este tipo de gestão não tem nada.

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