Por Altamiro Borges
São Paulo, 30 de novembro de 2016
A Ricardo Gandour
Diretor nacional de jornalismo da CBN
Gostaríamos que este seja o primeiro passo de uma relação que – no que depender de nós – será propositiva, construtiva e de um diálogo aberto e constante.
Como você bem sabe, nós, repórteres, produtores, redatores, apuradores e jornalistas de modo geral da CBN São Paulo temos pleiteado, desde a sua implantação, há cerca de um ano, a reversão do modelo atual de escala de trabalho e folgas.
Como alternativa à escala atual, já fizemos três propostas – todas refutadas pelo departamento jurídico, RH e direção de jornalismo, sem que houvesse uma possibilidade de reforma nos equívocos pontuais ou estruturais. A primeira proposta foi elaborada e negociada com participação do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, como é de conhecimento da direção de jornalismo. A última proposta foi desenhada com a participação de várias pessoas e assinada por quase toda a redação.
Chegamos ao nosso limite.
Enquanto, em média, um trabalhador brasileiro tem cerca de 150 dias de descanso anuais, nós temos 97 – levando em consideração os dias de férias. Se desconsiderarmos as férias, temos quase a metade de dias de descanso do que a média dos trabalhadores (67 a 120). É um disparate.
Antes, a cada mês trabalhávamos em dois dias de fim de semana e folgávamos em seis.
Na prática, tínhamos condição de viajar, visitar nossa família e resolver questões que, durante a semana, tomados pela rotina de trabalho, não conseguimos resolver – como compromissos médicos, por exemplo.
Hoje, a cada cinco finais de semana, folgamos apenas um inteiro.
Dos oito principais feriados deste ano, trabalhamos em pelo menos seis. Há turmas que passaram o ano sem folgar em nenhum feriado. Só conseguiram folgar agora, no feriado da Proclamação da República, por conta de um ajuste feito pela chefia – que trocou a ordem dos plantões –, o que, aliás, deixou outra turma sem folga dupla durante seis finais de semana seguidos.
Essa situação tem provocado um desgaste físico e emocional sem precedentes para todos nós.
A conta chegou.
Neste ano, quatro jornalistas – de uma redação não tão grande – precisaram ser afastados por problemas de estresse acumulado e estafa relacionados ao trabalho. Doenças, depressão, problemas psicológicos. Tudo isso provoca absenteísmo que, por sua vez, afeta a produtividade e aumenta a sobrecarga de trabalho para todos.
No desempenho de suas atividades, quatro colegas tiveram, no intervalo de um ano, registros de agressões físicas graves por parte de policiais e manifestantes, sem que tivessem recebido, em nossa opinião, atendimento e respaldo adequados por parte do Sistema Globo de Rádio.
O desgaste físico e psicológico, porém, não altera o nível de dedicação da equipe. Mesmo no limite, temos nos desdobrado para manter a engrenagem rodando, a rádio funcionando e o produto com a qualidade do Grupo Globo e o padrão desses 25 anos da CBN. E o resultado é atestado nas grandes coberturas em que estivemos envolvidos no último ano. Mas a qualidade do nosso trabalho está seriamente em risco por conta do desgaste absoluto da equipe.
A insatisfação é geral e irrestrita. A direção de jornalismo certamente tem a sensibilidade para perceber isso. É muito difícil, nestas condições, manter profissionais engajados e dispostos a propor ideias, sugerir modelos e participar efetivamente do processo contínuo de adequação e atualização da rádio aos novos tempos. Aliás, no último ano, pelo menos quatro jornalistas altamente capacitados decidiram se desligar voluntariamente da rádio, tendo a escala como um das principais razões.
A principal justificativa para a mudança usada pela direção, além dos motivos jurídicos, foi o fato de que o modelo de escala implantado, com um final de semana de folga por mês, seria estendido às outras redações do Grupo Globo, o que nunca aconteceu. Em redações com o mesmo ritmo de trabalho e as mesmas demandas, inclusive nas rádios concorrentes, o modelo utilizado é o de três finais de semana de folga para um trabalhado – nem mesmo outras regionais da CBN têm o nosso modelo. Por que os outros conseguem, mas nós não?
O desgaste e o esgotamento vêm em um momento em que estamos acumulando dois anos sem reajustes salariais. A empresa se recusa sequer a recompor a inflação do período. O reajuste de 10,94% dos salários, retroativo a dezembro de 2015, foi determinado pelo Tribunal Regional do Trabalho, mas até agora não foi concedido.
Além de manipular a sociedade, a CBN – a rádio que toca mentira – também esfola os seus jornalistas – alguns que até são mais realistas do que o rei. Na semana passada, os profissionais da emissora – que pertence ao império da Rede Globo – entregaram uma carta à direção da empresa com duras críticas às péssimas condições de trabalho. Eles reivindicam jornadas menos estafantes e o respeito aos direitos trabalhistas. Segundo relatos, atualmente a equipe paulista folga apenas em um fim de semana a cada cinco trabalhados e somente em dois feriados por ano. "Essa situação tem provocado um desgaste físico e emocional sem precedentes para todos nós", afirma o documento.
Ainda de acordo com os relatos, somente neste ano quatro jornalistas foram afastados por problemas de estresse acumulado e estafa relacionados ao trabalho. Também há casos de depressão e transtornos psicológicos. Outro problema é que os profissionais não podem escolher quando vão tirar as folgas relativas aos bancos de horas acumulados, já que horas-extras não são pagas. Eles ainda sofrem com constantes mudanças de horários nos turnos de trabalho. Além de denunciar as péssimas condições de trabalho, os jornalistas da CBN reivindicam pagamento do reajuste salarial de 10,94%, retroativo a dezembro de 2015, determinado pelo Tribunal Regional do Trabalho, mas até agora não concedido.
Ainda de acordo com os relatos, somente neste ano quatro jornalistas foram afastados por problemas de estresse acumulado e estafa relacionados ao trabalho. Também há casos de depressão e transtornos psicológicos. Outro problema é que os profissionais não podem escolher quando vão tirar as folgas relativas aos bancos de horas acumulados, já que horas-extras não são pagas. Eles ainda sofrem com constantes mudanças de horários nos turnos de trabalho. Além de denunciar as péssimas condições de trabalho, os jornalistas da CBN reivindicam pagamento do reajuste salarial de 10,94%, retroativo a dezembro de 2015, determinado pelo Tribunal Regional do Trabalho, mas até agora não concedido.
"A empresa se recusa sequer a recompor a inflação do período. O desgaste e o esgotamento vêm em um momento em que estamos acumulando dois anos sem reajustes salariais", afirma a carta. Diante deste cenário dramático, o Sindicato dos Jornalistas de São Paulo tem se reunindo com os jornalistas da CBN/Globo e já protestou junto à direção da empresa. Confira abaixo a íntegra da carta:
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São Paulo, 30 de novembro de 2016
A Ricardo Gandour
Diretor nacional de jornalismo da CBN
Gostaríamos que este seja o primeiro passo de uma relação que – no que depender de nós – será propositiva, construtiva e de um diálogo aberto e constante.
Como você bem sabe, nós, repórteres, produtores, redatores, apuradores e jornalistas de modo geral da CBN São Paulo temos pleiteado, desde a sua implantação, há cerca de um ano, a reversão do modelo atual de escala de trabalho e folgas.
Como alternativa à escala atual, já fizemos três propostas – todas refutadas pelo departamento jurídico, RH e direção de jornalismo, sem que houvesse uma possibilidade de reforma nos equívocos pontuais ou estruturais. A primeira proposta foi elaborada e negociada com participação do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, como é de conhecimento da direção de jornalismo. A última proposta foi desenhada com a participação de várias pessoas e assinada por quase toda a redação.
Chegamos ao nosso limite.
Enquanto, em média, um trabalhador brasileiro tem cerca de 150 dias de descanso anuais, nós temos 97 – levando em consideração os dias de férias. Se desconsiderarmos as férias, temos quase a metade de dias de descanso do que a média dos trabalhadores (67 a 120). É um disparate.
Antes, a cada mês trabalhávamos em dois dias de fim de semana e folgávamos em seis.
Na prática, tínhamos condição de viajar, visitar nossa família e resolver questões que, durante a semana, tomados pela rotina de trabalho, não conseguimos resolver – como compromissos médicos, por exemplo.
Hoje, a cada cinco finais de semana, folgamos apenas um inteiro.
Dos oito principais feriados deste ano, trabalhamos em pelo menos seis. Há turmas que passaram o ano sem folgar em nenhum feriado. Só conseguiram folgar agora, no feriado da Proclamação da República, por conta de um ajuste feito pela chefia – que trocou a ordem dos plantões –, o que, aliás, deixou outra turma sem folga dupla durante seis finais de semana seguidos.
Essa situação tem provocado um desgaste físico e emocional sem precedentes para todos nós.
A conta chegou.
Neste ano, quatro jornalistas – de uma redação não tão grande – precisaram ser afastados por problemas de estresse acumulado e estafa relacionados ao trabalho. Doenças, depressão, problemas psicológicos. Tudo isso provoca absenteísmo que, por sua vez, afeta a produtividade e aumenta a sobrecarga de trabalho para todos.
No desempenho de suas atividades, quatro colegas tiveram, no intervalo de um ano, registros de agressões físicas graves por parte de policiais e manifestantes, sem que tivessem recebido, em nossa opinião, atendimento e respaldo adequados por parte do Sistema Globo de Rádio.
O desgaste físico e psicológico, porém, não altera o nível de dedicação da equipe. Mesmo no limite, temos nos desdobrado para manter a engrenagem rodando, a rádio funcionando e o produto com a qualidade do Grupo Globo e o padrão desses 25 anos da CBN. E o resultado é atestado nas grandes coberturas em que estivemos envolvidos no último ano. Mas a qualidade do nosso trabalho está seriamente em risco por conta do desgaste absoluto da equipe.
A insatisfação é geral e irrestrita. A direção de jornalismo certamente tem a sensibilidade para perceber isso. É muito difícil, nestas condições, manter profissionais engajados e dispostos a propor ideias, sugerir modelos e participar efetivamente do processo contínuo de adequação e atualização da rádio aos novos tempos. Aliás, no último ano, pelo menos quatro jornalistas altamente capacitados decidiram se desligar voluntariamente da rádio, tendo a escala como um das principais razões.
A principal justificativa para a mudança usada pela direção, além dos motivos jurídicos, foi o fato de que o modelo de escala implantado, com um final de semana de folga por mês, seria estendido às outras redações do Grupo Globo, o que nunca aconteceu. Em redações com o mesmo ritmo de trabalho e as mesmas demandas, inclusive nas rádios concorrentes, o modelo utilizado é o de três finais de semana de folga para um trabalhado – nem mesmo outras regionais da CBN têm o nosso modelo. Por que os outros conseguem, mas nós não?
O desgaste e o esgotamento vêm em um momento em que estamos acumulando dois anos sem reajustes salariais. A empresa se recusa sequer a recompor a inflação do período. O reajuste de 10,94% dos salários, retroativo a dezembro de 2015, foi determinado pelo Tribunal Regional do Trabalho, mas até agora não foi concedido.
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