Por João Paulo Cunha, no jornal Brasil de Fato:
Trump parece governar o Brasil do Temer. Além das iniciais e da vaidade antipática, eles ostentam várias semelhanças. Acham que seus países são empresas e os tratam como CEOs tacanhos e insensíveis. Indispõem-se com visões de mundo contrárias às suas, emitindo sinais de uma realidade que só existe nas suas cabeças e de seus partidários mais submissos. Reclamam da imprensa ao mesmo tempo em que criam um arsenal de fatos alternativos para uso próprio.
Há mais fatos que unificam a ação dos dois mandatários, ao Norte e ao Sul da América. Querem interferir na autonomia dos outros países, em nome de uma democracia que não faz o dever de casa. Os dois atacam o sistema público de saúde e consideram segurança uma operação de guerra. E, para completar, convivem com o racismo e o machismo de costas para o mundo civilizado, esvaziando as políticas de igualdade.
As tristes coincidências poderiam ser resultado de um momento particularmente preocupante de crise de valores por que passa o mundo. O fortalecimento da direita tem sido traduzido em ações que concentram os ganhos econômicos de forma cada vez mais extrema, que atacam as políticas de emancipação e estabelecem uma ordem excludente e discriminatória.
Trump, no entanto, levou a tal grau esse método que começa a ser rechaçado até em seu próprio terreno, perdendo o apoio de alguns empresários que davam o mínimo de racionalidade à sua alienação. De um lado, arrogava apoio de supremacistas e racistas, enquanto, de outro, anunciava o retorno do poderio americano. O que é uma forma mais aceitável de manutenção da mesma mitologia de desprestígio da diferença, com o eixo deslocado para os outros países. Os outros são sempre um empecilho às fantasias de onipotência.
Havia uma loucura mais ou menos controlável, por vezes ridícula, outras mais perigosas. Mesmo atitudes perniciosas, como as referentes ao acordo climático e a promessa de construção de muros, eram tratadas dentro de um contexto de debate político, como é tradição no país. Trump representa parte significativa dos eleitores dos EUA, ele exprime uma linha de força que precisa ser levada a sério para ser combatida com mais efetividade.
Há, no entanto, uma situação peculiar no caso de Charlottesville, que é a transmissão de uma linha de energia política de que parte da moral para chegar ao material. Do preconceito à grana. Os americanos convivem com todo tipo de doido, menos o que rasga dinheiro. Sem o apoio do empresariado, o presidente republicano não leva adiante seu conservadorismo moral. A direita ideológica acha que levou Trump ao poder. O capital tem certeza. O que pode vir dessa tensão é motivo de preocupação em todo o mundo.
Mas a situação brasileira é grave o bastante para se ocupar de Trump nesse momento. Temos nossos próprios desvarios a superar. Talvez a melhor inspiração legada pela situação americana venha da saudável atitude de destruir monumentos alusivos ao passado escravista. Ao botar abaixo estátuas de generais confederados, que lutaram para manter a escravidão, não se passa a limpo o passado, mas se evidencia o empenho em não eternizar as injustiças.
O Brasil tem vários confederados a derrubar, que certamente serão defendidos por parcela da sociedade saudosa de privilégios e aeroportos vazios. São confederados os que negam o racismo, os que combatem as cotas, os que justificam a violência contra as mulheres.
Vestem uniformes de generais escravistas os que querem destruir o SUS e a universidade pública, os que cortam gastos públicos para remunerar o capital financeiro. Os que cortam aumentos do salário mínimo para pagar deputados coniventes com a corrupção evidente.
Estão erigidos em estátua equestres os que desejam tornar o BNDES um apêndice do mercado, os que entregam o patrimônio público estratégico às multinacionais, os que fragilizam as relações trabalhistas e miram o ataque final à previdência. São confederados os barões da imprensa, com sua ação incivilizada de calar as vozes da pluralidade pela repetição compulsiva do mesmo.
É preciso jogar por terra os partidos fisiológicos e os empresários viciados em corromper com dinheiro público. Há ainda a parcela mais daninha dos confederados morais, que jogam contra a humanidade do homem, contra a beleza da diversidade da vida e do desejo, contra a força revolucionária da arte que não pacifica as consciências.
Todos ao chão.
Trump parece governar o Brasil do Temer. Além das iniciais e da vaidade antipática, eles ostentam várias semelhanças. Acham que seus países são empresas e os tratam como CEOs tacanhos e insensíveis. Indispõem-se com visões de mundo contrárias às suas, emitindo sinais de uma realidade que só existe nas suas cabeças e de seus partidários mais submissos. Reclamam da imprensa ao mesmo tempo em que criam um arsenal de fatos alternativos para uso próprio.
Há mais fatos que unificam a ação dos dois mandatários, ao Norte e ao Sul da América. Querem interferir na autonomia dos outros países, em nome de uma democracia que não faz o dever de casa. Os dois atacam o sistema público de saúde e consideram segurança uma operação de guerra. E, para completar, convivem com o racismo e o machismo de costas para o mundo civilizado, esvaziando as políticas de igualdade.
As tristes coincidências poderiam ser resultado de um momento particularmente preocupante de crise de valores por que passa o mundo. O fortalecimento da direita tem sido traduzido em ações que concentram os ganhos econômicos de forma cada vez mais extrema, que atacam as políticas de emancipação e estabelecem uma ordem excludente e discriminatória.
Trump, no entanto, levou a tal grau esse método que começa a ser rechaçado até em seu próprio terreno, perdendo o apoio de alguns empresários que davam o mínimo de racionalidade à sua alienação. De um lado, arrogava apoio de supremacistas e racistas, enquanto, de outro, anunciava o retorno do poderio americano. O que é uma forma mais aceitável de manutenção da mesma mitologia de desprestígio da diferença, com o eixo deslocado para os outros países. Os outros são sempre um empecilho às fantasias de onipotência.
Havia uma loucura mais ou menos controlável, por vezes ridícula, outras mais perigosas. Mesmo atitudes perniciosas, como as referentes ao acordo climático e a promessa de construção de muros, eram tratadas dentro de um contexto de debate político, como é tradição no país. Trump representa parte significativa dos eleitores dos EUA, ele exprime uma linha de força que precisa ser levada a sério para ser combatida com mais efetividade.
Há, no entanto, uma situação peculiar no caso de Charlottesville, que é a transmissão de uma linha de energia política de que parte da moral para chegar ao material. Do preconceito à grana. Os americanos convivem com todo tipo de doido, menos o que rasga dinheiro. Sem o apoio do empresariado, o presidente republicano não leva adiante seu conservadorismo moral. A direita ideológica acha que levou Trump ao poder. O capital tem certeza. O que pode vir dessa tensão é motivo de preocupação em todo o mundo.
Mas a situação brasileira é grave o bastante para se ocupar de Trump nesse momento. Temos nossos próprios desvarios a superar. Talvez a melhor inspiração legada pela situação americana venha da saudável atitude de destruir monumentos alusivos ao passado escravista. Ao botar abaixo estátuas de generais confederados, que lutaram para manter a escravidão, não se passa a limpo o passado, mas se evidencia o empenho em não eternizar as injustiças.
O Brasil tem vários confederados a derrubar, que certamente serão defendidos por parcela da sociedade saudosa de privilégios e aeroportos vazios. São confederados os que negam o racismo, os que combatem as cotas, os que justificam a violência contra as mulheres.
Vestem uniformes de generais escravistas os que querem destruir o SUS e a universidade pública, os que cortam gastos públicos para remunerar o capital financeiro. Os que cortam aumentos do salário mínimo para pagar deputados coniventes com a corrupção evidente.
Estão erigidos em estátua equestres os que desejam tornar o BNDES um apêndice do mercado, os que entregam o patrimônio público estratégico às multinacionais, os que fragilizam as relações trabalhistas e miram o ataque final à previdência. São confederados os barões da imprensa, com sua ação incivilizada de calar as vozes da pluralidade pela repetição compulsiva do mesmo.
É preciso jogar por terra os partidos fisiológicos e os empresários viciados em corromper com dinheiro público. Há ainda a parcela mais daninha dos confederados morais, que jogam contra a humanidade do homem, contra a beleza da diversidade da vida e do desejo, contra a força revolucionária da arte que não pacifica as consciências.
Todos ao chão.
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