Por Cynara Menezes, no blog Socialista Morena:
Censuraram uma exposição de arte queer em Porto Alegre neste final de semana. Um grupo, liderado pelo Movimento Brasil “Livre” e pela apresentadora de TV e defensora dos animais Luísa Mell, fez um escarcéu nas redes sociais contra algumas das 270 obras da mostra Queermuseu: Cartografias da diferença na arte brasileira, que trazia nomes consagrados como Lygia Clark, Candido Portinari, Flávio de Carvalho e Leonílson. Para espanto dos reais apreciadores da arte, o banco Santander cedeu às pressões dos fanáticos e cancelou a exposição, prevista para acabar em outubro.
“Entendemos que algumas das obras da exposição Queermuseu desrespeitavam símbolos, crenças e pessoas, o que não está em linha com a nossa visão de mundo. Quando a arte não é capaz de gerar inclusão e reflexão positiva, perde seu propósito maior, que é elevar a condição humana”, declarou o banco em sua página no facebook.
Desde a ditadura militar não se via tal furor contra as artes no país. Como neo-senhoras de Santana, as donas-de-casa paulistanas que, nos anos 1980, se arvoravam em defensoras da moral e dos bons costumes, os puritanos do MBL chamavam as obras de “arte degenerada”, “blasfema”, “vilipêndio à religião” e outros adjetivos dignos de beatas do interior. Ao contrário das senhoras de Santana originais, porém, os carolas que exigiram o fim da mostra queer têm ao redor de 20 anos de idade.
Um bando de garotos e garotas que se comportam como velhinhos igrejeiros do século passado, como este cara que ficou cho-ca-do ao ver escrito a palavra “Fuck” e não se importou de pagar mico gravando um vídeo para “lacrar” nas redes sociais.
Uma tela de Adriana Varejão de 1994, ou seja, de 23 anos atrás, que retratava uma cena de sexo com uma cabra, foi uma das mais visadas pelos papa-hóstias do MBL. Também foi criticada como “apologia à pedofilia” a obra da artista plástica Bia Leite inspirada no tumblr Criança Viada, que faz sucesso nas redes desde 2012 com fotos de crianças em poses engraçadas, autorizadas pelos próprios retratados na infância. O autor do tumblr se mostrou indignado com a censura, em post no facebook.
“Esse tumblr é meu, eu criei em 2012 e as fotos foram enviadas pelos próprios donos. As frases que ilustram as obras da Bia são minhas e me doeu pra caralho ver que algo que eu escrevi, que foi tão lindamente entendido por anos, acabar sendo colocado como apologia à pedofilia por tanta gente inconsequente e desinformada”, protestou Iran Giusti.
Também foram criticadas pelos puritanos algumas obras que “ousaram”, em pleno século 21, questionar a religião, como um Cristo com vários braços, misturado com o deus indiano Shiva, e hóstias onde estava escrito “Vagina”, “Língua” e “Cu”. As neo-senhoras de Santana, gente que nunca entrou numa galeria de arte, subitamente viraram críticos renomados. Coordenadora do MBL no Rio Grande do Sul, Paula Cassol vaticinou: “Não entendo que isto seja arte”.
Até o ex-ator pornô Alexandre Frota virou defensor da moral e dos bons costumes contra a exposição queer. “Ataques como esses às famílias e à fé estão cada vez mais comuns e isto precisa parar já!”, disse o protagonista de Garoto de Programa, com a travesti Bianca Soares. Só no Brasil mesmo…
Se a exposição gerou gritaria de moralistas, a censura à mostra queer está mobilizando defensores da livre manifestação nas artes em todo o país. Um ato pela Liberdade de Expressão Artística e Contra a LGBTTFobia está marcado para o próximo dia 12, em Porto Alegre, em frente ao Santander Cultural.
Enquanto isso, os censuradores (os mesmos que vivem criticando o “politicamente correto” em nome da “liberdade de expressão”) afirmam que não é censura o que fizeram. Em 1981, as senhoras de Santana originais também diziam que não queriam censurar. “Nosso movimento é pacífico, sem conotação política e religiosa. Nunca pedimos censura”, diziam as donas-de-casa, que afirmavam ser “sexualmente resolvidas”. Alguém aí lembrou do “apartidário” MBL?
Detalhe: a exposição não era obrigatória, claro. Ficava em um espaço privado e só iria até lá quem assim o desejasse. O que tanta gente tapada foi fazer numa exposição de arte queer permanece um mistério.
“Entendemos que algumas das obras da exposição Queermuseu desrespeitavam símbolos, crenças e pessoas, o que não está em linha com a nossa visão de mundo. Quando a arte não é capaz de gerar inclusão e reflexão positiva, perde seu propósito maior, que é elevar a condição humana”, declarou o banco em sua página no facebook.
Desde a ditadura militar não se via tal furor contra as artes no país. Como neo-senhoras de Santana, as donas-de-casa paulistanas que, nos anos 1980, se arvoravam em defensoras da moral e dos bons costumes, os puritanos do MBL chamavam as obras de “arte degenerada”, “blasfema”, “vilipêndio à religião” e outros adjetivos dignos de beatas do interior. Ao contrário das senhoras de Santana originais, porém, os carolas que exigiram o fim da mostra queer têm ao redor de 20 anos de idade.
Um bando de garotos e garotas que se comportam como velhinhos igrejeiros do século passado, como este cara que ficou cho-ca-do ao ver escrito a palavra “Fuck” e não se importou de pagar mico gravando um vídeo para “lacrar” nas redes sociais.
Uma tela de Adriana Varejão de 1994, ou seja, de 23 anos atrás, que retratava uma cena de sexo com uma cabra, foi uma das mais visadas pelos papa-hóstias do MBL. Também foi criticada como “apologia à pedofilia” a obra da artista plástica Bia Leite inspirada no tumblr Criança Viada, que faz sucesso nas redes desde 2012 com fotos de crianças em poses engraçadas, autorizadas pelos próprios retratados na infância. O autor do tumblr se mostrou indignado com a censura, em post no facebook.
“Esse tumblr é meu, eu criei em 2012 e as fotos foram enviadas pelos próprios donos. As frases que ilustram as obras da Bia são minhas e me doeu pra caralho ver que algo que eu escrevi, que foi tão lindamente entendido por anos, acabar sendo colocado como apologia à pedofilia por tanta gente inconsequente e desinformada”, protestou Iran Giusti.
Também foram criticadas pelos puritanos algumas obras que “ousaram”, em pleno século 21, questionar a religião, como um Cristo com vários braços, misturado com o deus indiano Shiva, e hóstias onde estava escrito “Vagina”, “Língua” e “Cu”. As neo-senhoras de Santana, gente que nunca entrou numa galeria de arte, subitamente viraram críticos renomados. Coordenadora do MBL no Rio Grande do Sul, Paula Cassol vaticinou: “Não entendo que isto seja arte”.
Até o ex-ator pornô Alexandre Frota virou defensor da moral e dos bons costumes contra a exposição queer. “Ataques como esses às famílias e à fé estão cada vez mais comuns e isto precisa parar já!”, disse o protagonista de Garoto de Programa, com a travesti Bianca Soares. Só no Brasil mesmo…
Se a exposição gerou gritaria de moralistas, a censura à mostra queer está mobilizando defensores da livre manifestação nas artes em todo o país. Um ato pela Liberdade de Expressão Artística e Contra a LGBTTFobia está marcado para o próximo dia 12, em Porto Alegre, em frente ao Santander Cultural.
Enquanto isso, os censuradores (os mesmos que vivem criticando o “politicamente correto” em nome da “liberdade de expressão”) afirmam que não é censura o que fizeram. Em 1981, as senhoras de Santana originais também diziam que não queriam censurar. “Nosso movimento é pacífico, sem conotação política e religiosa. Nunca pedimos censura”, diziam as donas-de-casa, que afirmavam ser “sexualmente resolvidas”. Alguém aí lembrou do “apartidário” MBL?
Detalhe: a exposição não era obrigatória, claro. Ficava em um espaço privado e só iria até lá quem assim o desejasse. O que tanta gente tapada foi fazer numa exposição de arte queer permanece um mistério.
1 comentários:
Essa turma não tem o que fazer? Não sãos estas mesmas pessoas que defendem a a liberdade de expressão da mídia tradicional? Alexandre Frota por si só já é uma aberração pornográfica!
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