Por Wagner de Alcântara Aragão, no site Brasil Debate:
Em cidades de grande e médio porte são consideráveis as atrações artísticas com entrada gratuita. Exposições em museus, rodas de conversa em bibliotecas, sessões de exibição de filme, feiras de artesanato, oficinas, shows musicais, entre outras atividades – promovidas pelo poder público ou por instituições do terceiro setor – representam possibilidade de acesso da população mais pobre a bens culturais.
Na prática, porém, não é apenas a gratuidade do espetáculo que assegura a democratização da arte.
Notam-se pelo menos dois obstáculos a esse objetivo nobre: um, a divulgação dessas atrações, quase sempre restrita a bolhas; outro, uma certa aura deveras sofisticada, elitista, excludente que ronda boa parte dos equipamentos culturais.
De uns tempos para cá, tenho sondado com meus alunos o grau de conhecimento que têm sobre os espaços culturais públicos da cidade – refiro-me à minha atuação docente em Curitiba – e a respeito da agenda desses espaços. Ato contínuo, procuro obter dos estudantes – jovens, adultos – a impressão que guardam sobre museus, teatros e salas de cinema alternativas.
Reconhecer e identificar os espaços não chega a ser problema. Até sabem que em determinado local funciona um centro de cultura, em outro lugar de leitura; e que o casarão imponente expõe a história da nossa gente. Poucos são informados, todavia, das atividades que ocorrem nesses locais. Desconhecem, para citar um exemplo, que a Caixa Cultural, situada em ponto central de Curitiba, dispõe de mostras variadas, com entrada franca. Ignoram, para mencionar outro caso, que o Museu Oscar Niemeyer tem entrada gratuita às quartas-feiras.
“Falta divulgação”, “a informação não circula”, “para ficar sabendo só indo atrás” são alguns depoimentos recorrentes. E têm fundamento. Os panfletos que trazem a agenda e os cartazes de anúncio das atrações só estão lá, dentro ou no máximo à porta dos equipamentos. No mobiliário urbano e outros meios de massa só há propaganda dos mega eventos, com ingressos impraticáveis para a maioria da população. Na “TV do ônibus”, tela em que se veiculam notícias e publicidade e implantada nas linhas de maior fluxo de pessoas, pouco se vê de agenda cultura pública.
Todavia, mesmo entre os jovens e adultos que ficam sabendo da existência das atrações, há uma porção que não se sente à vontade para entrar, experimentar, conhecer determinados espaços. “Acho o casarão bonito, mas, não sei, dá vergonha de entrar, é muito chique”, declarou tempos desses uma estudante jovem, 20 anos no máximo, que se considera apreciadora de arte, a respeito do Museu Paranaense, também localizado em zona central da capital. Um colega afirmou ter vontade de visitar o centro cultural do bairro Portão, por onde passa quando vai um shopping vizinho, entretanto tem a sensação de que vai ficar “perdido” ao entrar.
Que lição podemos tirar dessas constatações?
Que uma gestão cultural urbana que se propõe democrática e popular deve ser preocupar não só com a abertura e manutenção de equipamentos, e com a promoção de atividades de ingresso gratuito. É preciso que espaços e atividades se apresentem como plurais, de fato. Isso começa pela divulgação maciça e massiva das atrações agendadas e chega a formas de recepção nesses ambientes menos formais, mais naturais, didáticas, convidativas.
Imprescindível ainda que políticas públicas em outras áreas conversem com as ações culturais. As escolas devem se aproximar e serem aproximadas desses espaços. O transporte público, contar com tarifas sociais – algumas cidades já experimentaram passagens de R$ 1 ou mesmo gratuitas, aos domingos, ou ao menos uma vez por mês.
Sem esse leque de ações, nem tão complexas assim – basta olhar solidário e vontade política para implementá-las – apenas uma parcela de privilegiados continuará a ser beneficiada pelas políticas culturais.
Em cidades de grande e médio porte são consideráveis as atrações artísticas com entrada gratuita. Exposições em museus, rodas de conversa em bibliotecas, sessões de exibição de filme, feiras de artesanato, oficinas, shows musicais, entre outras atividades – promovidas pelo poder público ou por instituições do terceiro setor – representam possibilidade de acesso da população mais pobre a bens culturais.
Na prática, porém, não é apenas a gratuidade do espetáculo que assegura a democratização da arte.
Notam-se pelo menos dois obstáculos a esse objetivo nobre: um, a divulgação dessas atrações, quase sempre restrita a bolhas; outro, uma certa aura deveras sofisticada, elitista, excludente que ronda boa parte dos equipamentos culturais.
De uns tempos para cá, tenho sondado com meus alunos o grau de conhecimento que têm sobre os espaços culturais públicos da cidade – refiro-me à minha atuação docente em Curitiba – e a respeito da agenda desses espaços. Ato contínuo, procuro obter dos estudantes – jovens, adultos – a impressão que guardam sobre museus, teatros e salas de cinema alternativas.
Reconhecer e identificar os espaços não chega a ser problema. Até sabem que em determinado local funciona um centro de cultura, em outro lugar de leitura; e que o casarão imponente expõe a história da nossa gente. Poucos são informados, todavia, das atividades que ocorrem nesses locais. Desconhecem, para citar um exemplo, que a Caixa Cultural, situada em ponto central de Curitiba, dispõe de mostras variadas, com entrada franca. Ignoram, para mencionar outro caso, que o Museu Oscar Niemeyer tem entrada gratuita às quartas-feiras.
“Falta divulgação”, “a informação não circula”, “para ficar sabendo só indo atrás” são alguns depoimentos recorrentes. E têm fundamento. Os panfletos que trazem a agenda e os cartazes de anúncio das atrações só estão lá, dentro ou no máximo à porta dos equipamentos. No mobiliário urbano e outros meios de massa só há propaganda dos mega eventos, com ingressos impraticáveis para a maioria da população. Na “TV do ônibus”, tela em que se veiculam notícias e publicidade e implantada nas linhas de maior fluxo de pessoas, pouco se vê de agenda cultura pública.
Todavia, mesmo entre os jovens e adultos que ficam sabendo da existência das atrações, há uma porção que não se sente à vontade para entrar, experimentar, conhecer determinados espaços. “Acho o casarão bonito, mas, não sei, dá vergonha de entrar, é muito chique”, declarou tempos desses uma estudante jovem, 20 anos no máximo, que se considera apreciadora de arte, a respeito do Museu Paranaense, também localizado em zona central da capital. Um colega afirmou ter vontade de visitar o centro cultural do bairro Portão, por onde passa quando vai um shopping vizinho, entretanto tem a sensação de que vai ficar “perdido” ao entrar.
Que lição podemos tirar dessas constatações?
Que uma gestão cultural urbana que se propõe democrática e popular deve ser preocupar não só com a abertura e manutenção de equipamentos, e com a promoção de atividades de ingresso gratuito. É preciso que espaços e atividades se apresentem como plurais, de fato. Isso começa pela divulgação maciça e massiva das atrações agendadas e chega a formas de recepção nesses ambientes menos formais, mais naturais, didáticas, convidativas.
Imprescindível ainda que políticas públicas em outras áreas conversem com as ações culturais. As escolas devem se aproximar e serem aproximadas desses espaços. O transporte público, contar com tarifas sociais – algumas cidades já experimentaram passagens de R$ 1 ou mesmo gratuitas, aos domingos, ou ao menos uma vez por mês.
Sem esse leque de ações, nem tão complexas assim – basta olhar solidário e vontade política para implementá-las – apenas uma parcela de privilegiados continuará a ser beneficiada pelas políticas culturais.
0 comentários:
Postar um comentário