Por Wladimir Pomar, no site Correio da Cidadania:
A visita de Bolsonaro a Trump iluminou com maior nitidez seu projeto estratégico de transformar o Brasil numa semicolônia dos Estados Unidos. Não se trata apenas de subordinar as correntes brasileiras de comércio aos interesses norte-americanos. Trata-se de abrir totalmente as portas do Brasil à ação predatória das empresas capitalistas norte-americanas, incluindo a cessão de territórios e de áreas tecnológicas estratégicas, a exemplo da base de lançamento de foguetes de Alcântara.
Para piorar, a estratégia bolsonarista está sendo levada a cabo num momento em que os Estados Unidos enfrentam uma crescente crise em seu desenvolvimento econômico, com consequências desastrosas nas taxas de emprego, nos padrões de vida de sua população e em seu comércio internacional. Dizendo de outro modo, o capitalismo estadunidense se tornou incapaz de repetir, mesmo em pequena escala, o que fez nos anos 1970. Isto é, promover uma corrente de exportação e de investimentos de capitais que possibilitou à ditadura militar da época propagar, por algum tempo, a existência de um “milagre econômico”. Sua estratégia atual é simplesmente predatória.
A incapacidade atual do capitalismo norte-americano está relacionada tanto aos interesses mundiais de seu setor hegemônico, o setor financeiro, cujos lucros são principalmente originados da especulação, quanto à política ultranacionalista de Trump, que tem como projetos emblemáticos a construção de um muro na fronteira com o México, o confronto com a China e o desmonte da zona do euro.
Nessas condições, a subordinação aos interesses norte-americanos representa, na prática, a oferta de privatização, a baixo preço, dos principais instrumentos de desenvolvimento econômico do Brasil. A decisão de vender todas as empresas estatais, incluindo as de setores estratégicos (bancos, energia, minérios, agricultura), na expectativa de atrair investimentos produtivos, é uma ilusão. Ela se confronta com a realidade crítica daqueles interesses e vai conduzir o Brasil rapidamente a um charco econômico, social e político ainda mais profundo do que o atual.
Ou, como sustentam alguns comentaristas, vai inverter totalmente o processo de crescimento econômico. Com a monopolização ainda maior da economia pelas empresas multinacionais estrangeiras, a desindustrialização e as distorções da infraestrutura (por exemplo, ausência de rede ferroviária e de um sistema nacional de cabotagem marítima) serão acentuadas, elevando preços, tornando menos competitivos os produtos que disputam o mercado internacional e tornando os produtos destinados ao mercado interno ainda mais inacessíveis a grandes contingentes da população.
Para piorar, o governo Bolsonaro, com as reformas prometidas (em especial a das aposentadorias), também trabalha intensamente no sentido de reduzir empregos, salários e pensões. Joga sobre os ombros dos que trabalham a tarefa de reduzir os custos das empresas capitalistas, de elevar os lucros dessas empresas e de sustentar o pagamento dos débitos internos e externos do país.
Assim, embora a burguesia latifundiária do agronegócio esteja preocupada em manter a China como destino de grande parte de sua produção, ela parece satisfeita com as promessas bolsonaristas de liquidar qualquer processo de reforma agrária, tomar medidas radicais contra os sem-terra e os indígenas, fechar os olhos ao desflorestamento, e ampliar os investimentos estrangeiros na agricultura comercial.
Portanto, apesar de algumas resistências internas no grupo dominante bolsonarista, não se pode descartar a intenção do presidente de subordinar o Brasil, estrita e servilmente, à política dos EUA em todas as questões internacionais, o que inclui ataques políticos e econômicos à China, apoio à política expansionista israelense, e a intenção de invadir a Venezuela para assumir o controle da produção petrolífera desse país, impondo por lá um governo totalmente servil aos interesses norte-americanos.
É evidente que o conjunto dessas políticas tende a se confrontar cada vez mais não só com os milhões de brasileiros que não votaram nele, mas também com parcelas crescentes dos que depositaram seu voto no candidato que prometia liquidar com tudo de ruim existente no país. E que tal confronto tende a levar o bolsonarismo a colocar cada vez mais em evidência seu viés fascista e profundamente antinacional, antidemocrático e antipopular, procurando liquidar os direitos democráticos e apelando para medidas ditatoriais.
Tal processo pode ficar ainda mais conflituoso se as ligações de próceres do bolsonarismo com a corrupção e com o crime organizado das milícias urbanas vierem à tona. A crescente disputa entre as diversas frações parlamentares, policiais, das promotorias e dos juízes, antes mais ou menos unidos na cruzada antipetista, pode trazer à tona fraudes, apropriação de dinheiro público e outras ações corruptas nada republicanas, a exemplo da apropriação de alguns bilhões de dólares pela Lava Jato de Curitiba, capazes de desnudar o núcleo central do poder político atual e dar maior evidência ao conjunto de contradições que conforma a situação atual e contém o que muitos analistas chamam de desafios táticos e estratégicos.
Em termos táticos o Brasil se confronta, de imediato, com a possibilidade de ver liquidados os direitos democráticos formais constantes na Constituição de 1988, assistir à aprovação de uma reforma no sistema previdenciário que mantém os privilégios das castas dominantes e achata os direitos dos trabalhadores, ser levado a uma ação militar que interfere na soberania de países vizinhos e liquidar suas principais correntes de comércio internacional.
Em termos estratégicos, a situação coloca em evidência não só os perigos à democracia, mas também os perigos à condição do Brasil como nação independente em desenvolvimento e à maioria do povo brasileiro como sobrevivente. É provável que em sua história moderna, mesmo sob condições democráticas unicamente formais, o país não tenha se confrontado com perigos tão profundos e complexos.
Para enfrenar tais perigos será necessário não só um mergulho profundo nas condições de vida e nas lutas dos trabalhadores e excluídos, que conformam a base da sociedade brasileira, mas também uma definição mais consistente dos problemas e soluções estratégicos e táticos que emergiram com a vitória eleitoral do bolsonarismo e com as tendências reais deste.
Por um lado, será preciso aproveitar e incentivar as trapalhadas e desavenças nas hostes bolsonaristas, mesmo que tais trapalhadas e desavenças representem a imolação de uma corrente ou outra delas. Por outro, será um erro nutrir qualquer ilusão estratégica de que tal imolação possa mudar a natureza dessas correntes fascistas e promover mudanças radicais em seus objetivos e em sua política antinacional, antidemocrática e antipopular. Tal tipo de mudança em uma ou outra dessas correntes talvez só venha a ocorrer quando a maior parte da base da sociedade se levantar e se mobilizar contra aquelas políticas.
Em vista disso, a tática deve ser flexível e ampla, mas deve estar subordinada à estratégia de mudanças e reformas profundas no sentido nacional, democrático e popular, levando em conta as experiências positivas e negativas dos governos Lula e Dilma. Em outras palavras, sem redefinir sua estratégia, as forças políticas defensoras da soberania nacional, da democracia e dos interesses populares podem ficar presas aos problemas táticos imediatos e, eventualmente, afundar neles, um dos principais perigos da atualidade.
Para piorar, a estratégia bolsonarista está sendo levada a cabo num momento em que os Estados Unidos enfrentam uma crescente crise em seu desenvolvimento econômico, com consequências desastrosas nas taxas de emprego, nos padrões de vida de sua população e em seu comércio internacional. Dizendo de outro modo, o capitalismo estadunidense se tornou incapaz de repetir, mesmo em pequena escala, o que fez nos anos 1970. Isto é, promover uma corrente de exportação e de investimentos de capitais que possibilitou à ditadura militar da época propagar, por algum tempo, a existência de um “milagre econômico”. Sua estratégia atual é simplesmente predatória.
A incapacidade atual do capitalismo norte-americano está relacionada tanto aos interesses mundiais de seu setor hegemônico, o setor financeiro, cujos lucros são principalmente originados da especulação, quanto à política ultranacionalista de Trump, que tem como projetos emblemáticos a construção de um muro na fronteira com o México, o confronto com a China e o desmonte da zona do euro.
Nessas condições, a subordinação aos interesses norte-americanos representa, na prática, a oferta de privatização, a baixo preço, dos principais instrumentos de desenvolvimento econômico do Brasil. A decisão de vender todas as empresas estatais, incluindo as de setores estratégicos (bancos, energia, minérios, agricultura), na expectativa de atrair investimentos produtivos, é uma ilusão. Ela se confronta com a realidade crítica daqueles interesses e vai conduzir o Brasil rapidamente a um charco econômico, social e político ainda mais profundo do que o atual.
Ou, como sustentam alguns comentaristas, vai inverter totalmente o processo de crescimento econômico. Com a monopolização ainda maior da economia pelas empresas multinacionais estrangeiras, a desindustrialização e as distorções da infraestrutura (por exemplo, ausência de rede ferroviária e de um sistema nacional de cabotagem marítima) serão acentuadas, elevando preços, tornando menos competitivos os produtos que disputam o mercado internacional e tornando os produtos destinados ao mercado interno ainda mais inacessíveis a grandes contingentes da população.
Para piorar, o governo Bolsonaro, com as reformas prometidas (em especial a das aposentadorias), também trabalha intensamente no sentido de reduzir empregos, salários e pensões. Joga sobre os ombros dos que trabalham a tarefa de reduzir os custos das empresas capitalistas, de elevar os lucros dessas empresas e de sustentar o pagamento dos débitos internos e externos do país.
Assim, embora a burguesia latifundiária do agronegócio esteja preocupada em manter a China como destino de grande parte de sua produção, ela parece satisfeita com as promessas bolsonaristas de liquidar qualquer processo de reforma agrária, tomar medidas radicais contra os sem-terra e os indígenas, fechar os olhos ao desflorestamento, e ampliar os investimentos estrangeiros na agricultura comercial.
Portanto, apesar de algumas resistências internas no grupo dominante bolsonarista, não se pode descartar a intenção do presidente de subordinar o Brasil, estrita e servilmente, à política dos EUA em todas as questões internacionais, o que inclui ataques políticos e econômicos à China, apoio à política expansionista israelense, e a intenção de invadir a Venezuela para assumir o controle da produção petrolífera desse país, impondo por lá um governo totalmente servil aos interesses norte-americanos.
É evidente que o conjunto dessas políticas tende a se confrontar cada vez mais não só com os milhões de brasileiros que não votaram nele, mas também com parcelas crescentes dos que depositaram seu voto no candidato que prometia liquidar com tudo de ruim existente no país. E que tal confronto tende a levar o bolsonarismo a colocar cada vez mais em evidência seu viés fascista e profundamente antinacional, antidemocrático e antipopular, procurando liquidar os direitos democráticos e apelando para medidas ditatoriais.
Tal processo pode ficar ainda mais conflituoso se as ligações de próceres do bolsonarismo com a corrupção e com o crime organizado das milícias urbanas vierem à tona. A crescente disputa entre as diversas frações parlamentares, policiais, das promotorias e dos juízes, antes mais ou menos unidos na cruzada antipetista, pode trazer à tona fraudes, apropriação de dinheiro público e outras ações corruptas nada republicanas, a exemplo da apropriação de alguns bilhões de dólares pela Lava Jato de Curitiba, capazes de desnudar o núcleo central do poder político atual e dar maior evidência ao conjunto de contradições que conforma a situação atual e contém o que muitos analistas chamam de desafios táticos e estratégicos.
Em termos táticos o Brasil se confronta, de imediato, com a possibilidade de ver liquidados os direitos democráticos formais constantes na Constituição de 1988, assistir à aprovação de uma reforma no sistema previdenciário que mantém os privilégios das castas dominantes e achata os direitos dos trabalhadores, ser levado a uma ação militar que interfere na soberania de países vizinhos e liquidar suas principais correntes de comércio internacional.
Em termos estratégicos, a situação coloca em evidência não só os perigos à democracia, mas também os perigos à condição do Brasil como nação independente em desenvolvimento e à maioria do povo brasileiro como sobrevivente. É provável que em sua história moderna, mesmo sob condições democráticas unicamente formais, o país não tenha se confrontado com perigos tão profundos e complexos.
Para enfrenar tais perigos será necessário não só um mergulho profundo nas condições de vida e nas lutas dos trabalhadores e excluídos, que conformam a base da sociedade brasileira, mas também uma definição mais consistente dos problemas e soluções estratégicos e táticos que emergiram com a vitória eleitoral do bolsonarismo e com as tendências reais deste.
Por um lado, será preciso aproveitar e incentivar as trapalhadas e desavenças nas hostes bolsonaristas, mesmo que tais trapalhadas e desavenças representem a imolação de uma corrente ou outra delas. Por outro, será um erro nutrir qualquer ilusão estratégica de que tal imolação possa mudar a natureza dessas correntes fascistas e promover mudanças radicais em seus objetivos e em sua política antinacional, antidemocrática e antipopular. Tal tipo de mudança em uma ou outra dessas correntes talvez só venha a ocorrer quando a maior parte da base da sociedade se levantar e se mobilizar contra aquelas políticas.
Em vista disso, a tática deve ser flexível e ampla, mas deve estar subordinada à estratégia de mudanças e reformas profundas no sentido nacional, democrático e popular, levando em conta as experiências positivas e negativas dos governos Lula e Dilma. Em outras palavras, sem redefinir sua estratégia, as forças políticas defensoras da soberania nacional, da democracia e dos interesses populares podem ficar presas aos problemas táticos imediatos e, eventualmente, afundar neles, um dos principais perigos da atualidade.
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