domingo, 20 de fevereiro de 2022

É o fim do tucanistão em São Paulo?

Charge: Cazo
Por Renato Rovai, na revista Fórum:


São Paulo foi apelidado de tucanistão não à toa.

Desde 1994, quando Mário Covas venceu a eleição que o PSDB governa o estado. E antes disso, de 1982 até 1994, foi o PMDB quem mandou nele.

O PSDB, como se sabe, saiu da costela do antigo PMDB.

É uma hegemonia sem qualquer nível de comparação no país.

E que se fosse exercida por um partido de esquerda como o PT daria espaço para muitos tratados "sociológicos" ou artigos de colunistas que se consideram exemplos de democratas para explicar o quão deletério e a não alternância de poder.

Mas essa hegemonia nunca esteve tão ameaçada. Porque João Doria mesmo não fazendo um governo horroroso (já que tem na pesquisa Ipespe divulgada hoje 24% de ótimo e bom e 38% de regular), tem uma rejeição muito alta.

Se viesse a ser candidato à reeleição teria muita dificuldade de confirmar um segundo mandato, porque na pesquisa espontânea do Ipespe fica atrás de Haddad e de Tarcísio.

Mas o cenário é ainda pior. Doria pretende sair candidato a presidência da República e lançar seu vice, Rodrigo Garcia, para o cargo de governador.

Rodrigo não é tão conhecido como Doria e ainda terá que carregar o fardo de apoiar Doria no estado. Ou seja, vai amarrar seu burro numa âncora que não lhe permitirá navegar. Mesmo com toda a força da máquina do Estado pode ficar a ver navios.

Inclusive porque o bolsonarismo vai sair com um candidato forte, o ministro Tarcísio, que virá com um discurso de milico realizador, um perfil que o paulista adora.

E que o eleitor de Bolsonaro vai aceitar como uma luva. Se Bolsonaro tem 26% de intenção de votos para presidente da República, Tarcísio vai ter isso ou algo muito perto disso

Eles vão fazer uma dobrada muito firme.

Como tudo leva a crer será a de Lula com Haddad, que pelo andar da carruagem deve ter o apoio de Boulos e mesmo de Márcio França no médio prazo.

A não ser que a federação não saia e França finque pé na sua candidatura.

Se ficarem como fortes candidatos, Haddad, Tarcísio e Rodrigo Garcia, não vai ser fácil que o terceiro chegue na rodada final da eleição.

Se Márcio França insistir em se candidatar, pode ser ainda mais difícil, porque um eleitorado que iria com Garcia por não gostar nem do bolsonarismo e nem do petismo pode ir pra França ao invés de ir para o candidato tucano.

A derrota dos tucanos nunca esteve tão madura.

E a vitória de um candidato progressista, que por enquanto parece que tende a ser Haddad, nunca esteve tão madura também.

Haddad pode colar a rejeição de Bolsonaro em São Paulo no seu candidato Tarcísio se for ele seu adversário de 2º turno. O ruim e péssimo da avaliação do seu governo é de 56% num dos estados mais conservadores do país.

Afora o fato de que se tornando o candidato de uma frente progressista, Haddad terá não só o apoio de Lula, mas de Alckmin, França, Boulos e quase toda a cidadania ativa do estado.

Não é algo a ser desprezado.

As chances de uma virada em São Paulo nunca foram tão grandes.

Pode ser agora em 2022 o fim do tucanistão.

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