Foto: Adriano Machado/Reuters |
Depois de atravessar sete décadas de existência num país que, negando direitos e oportunidades à maioria de seu povo, me permitiu acesso individual a tantas oportunidades e mesmo privilégios, é impossível evitar uma tentativa de reflexão sobre o Brasil, as brasileiras e os brasileiros.
A memória de minha existência como correspondente estrangeiro em Paris e Washington, ou mesmo como simples viajante em férias, deixou uma comparação permanente e inevitável.
Ao contrário do que pude ver nestes lugares - com as distorções inevitáveis de um olhar educado pela memória individual de outra sociedade, outra história - o dia de nossa independência é uma tentativa de combinar grandes contradições, entre aquilo que se comemora nas cerimônias oficiais e aquilo que se vê no cotidiano do país real.
Celebramos uma independência de uma nobreza tropical sem heróis, que nunca foi capaz de falar à alma dos índios nem ao sonho dos pretos e brancos pobres que aqui viviam, porque estranha a suas necessidades e adversária de seus sonhos simples e mais profundos.
Em grandes polos de cultura e desenvolvimento do país, a começar pelo Brasil pernambucano, a monarquia Orleans e Bragança consolidou-se com ajuda do almirante Cochrane, senhor da guerra do Império Britânico contratado pelo ouro e o diamante das Geraes para sufocar com violência repugnante as revoltas autonomistas que pipocavam pelo litoral da colônia.
Em grandes polos de cultura e desenvolvimento do país, a começar pelo Brasil pernambucano, a monarquia Orleans e Bragança consolidou-se com ajuda do almirante Cochrane, senhor da guerra do Império Britânico contratado pelo ouro e o diamante das Geraes para sufocar com violência repugnante as revoltas autonomistas que pipocavam pelo litoral da colônia.
Nascia ali uma tradição reacionária e consolidava-se um espírito excludente, de colonizadores dentro de sua própria terra, que iria reproduzir-se com poucos retoques nos seculos seguintes.
A nova ordem velha consolidou-se pelo acordo que preservou heranças coloniais intocáveis, alimentadas por instituições malignas que seriam reforçadas e protegidas - a escravidão do negro e o massacre do indígena - permanecendo como elos fundamentais de um vida social capaz de sobreviver até hoje, apesar de solavancos e breves ameaças.
Neste horizonte, impossível deixar de pensar o 7 de setembro de 2023 marca uma oportunidade rara na história.
Escolhido pelos brasileiros e brasileiras para um inédito terceiro mandato presidencial, Luiz Inácio Lula da Silva terá a oportunidade única de lançar os fundamentos de uma independência de verdade, baseada em valores há muitos buscados pela humanidade - liberdade, igualdade e fraternidade.
O país aguarda.
Alguma dúvida?
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