segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Recessão mundial assombra a Europa

Por Altamiro Borges

Estudos recentes indicam que o fantasma da recessão mundial, temido desde o estouro da bolha especulativa nos EUA, já assombra a Europa. A primeira nação do velho continente a sentir seus efeitos foi a ex-sólida Dinamarca. Na seqüência, as estatísticas apontaram crescimento negativo também nos dois países motores da União Européia. Pela primeira vez nos últimos quatro anos, a Alemanha registrou queda de 0,5% no Produto Interno Bruto no segundo trimestre, contra 1,3% de crescimento no primeiro. Já na França, a contração do PIB foi de 0,3% no mesmo período.


Em ambos os casos, o derretimento do dólar e a instabilidade dos mercados mundiais foram os detonadores dos maus presságios, incidindo fortemente sobre as suas exportações. A França, por exemplo, teve um déficit comercial recorde de 24 bilhões de euros neste primeiro semestre. Para complicar ainda mais o cenário capitalista, a inflação dá sinais de descontrole e o desemprego volta a crescer aceleradamente. Até adoradores do deus-mercado, como Axel Weber, dirigente do Banco Central da Europa, já admitem uma recessão sem precedentes na história recente.

Dura aterrissagem da economia

Chris Giles, articulista do Financial Times, foi um dos que alertou para este risco iminente. Para ele, as notícias dos últimos dias causam “certo choque” para os que acompanham a evolução da economia européia. “O grande medo é o de que a atual desaceleração se torne um ciclo vicioso no qual a fraqueza da economia abala o já frágil sistema financeiro. Para muitos, o que parece certo é a veracidade do velho adágio que diz que, quando os EUA espirram, o resto do mundo pega um resfriado. A conversa sobre descolamento – capacidade das economias de se manterem firmes diante da fraqueza norte-americana – se provou completamente falsa”.

Já o professor Nouriel Roubini, da Universidade de Nova Iorque, é um dos mais pessimistas nas previsões. Na sua avaliação, “todas as economias do G-7 parecem caminhar para recessões com aterrissagem dura”. Como causadores da crise, ele lista a compressão do crédito e da liquidez, a queda nas Bolsas de Valores do mundo todo, o elevado preço do petróleo e das commodities, a disparada do euro e “a incapacidade das autoridades econômicas em reagir por medo de estimular ainda mais a inflação”, entre outras. Para ele, esta “mistura venenosa deve empurrar a economia mundial – e não apenas os Estados Unidos – a uma séria e prolongada recessão”.

Abalo nos emergentes do Bric

Como alerta ao governo Lula, ele prognostica que o desastre nos países desenvolvidos porá fim ao crescimento das economias chamadas emergentes do Bric (Brasil, Rússia, Índia e China). Ele garante que a China e os países asiáticos em desenvolvimento serão prejudicados pela queda nas exportações ao G-7; já a Índia, Brasil e outros “emergentes” sofrerão aumentos dos seus déficits comerciais e sentirão “súbita parada do capital” estrangeiro. A exportação das commodities seria duramente prejudicada pela queda dos preços decorrente da crise nos EUA e na Europa.

Roubini é bem mais pessimista do que Chris Giles, que vê vantagens na retração do mercado de commodities dos países chamados emergentes. De qualquer forma, as previsões de ambos, com base nas informações recentes sobre a retração da economia européia, não são nada animadoras. Como diz o ditado, aonde há fumaça, há fogo. O Brasil que se cuide para não arder em chamas.

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