“Bolívia nas ruas e urnas contra o imperialismo”, do jornalista Leonardo Wexell Severo, é um livro-reportagem indispensável para se entender os últimos acontecimentos que abalaram o país irmão – vitima da violência fascista das oligarquias, das conspirações do “império do mal” e das manipulações da mídia hegemônica. Ele cobre todos os episódios que agitaram esta nação no ano passado: desde as iniciativas separatistas da direita racista da chamada Meia Lua, passando pela consagradora vitória de Evo Morales no referendo de agosto, até a marcha de 20 de outubro em que 200 mil bolivianos comemoraram a convocação do referendo sobre a nova Constituição.
“A história é um carro alegre”
Com base em três viagens realizadas nos momentos de maior tensão e em várias entrevistas com autoridades e lideranças políticas, o autor, editor do jornal Hora do Povo e assessor de imprensa da CUT, demonstra que está em curso um processo com marcas revolucionárias na Bolívia, que lembra uma canção de Chico Buarque e Pablo Milanês: “A história em um carro alegre, cheio de um povo contente, que atropela indiferente todo aquele que a negue”. A ativa mobilização dos movimentos sociais, em especial dos indígenas, que compõem mais de 60% da população, foi o fator chave que barrou as investidas golpistas e separatistas da oligarquia e do império ianque.
Diferente de outros países da América Latina, que ingressaram na onda de vitórias eleitorais de governantes progressistas, mas que ainda esbarram no descenso das lutas sociais, a Bolívia hoje conta com intensa participação popular. A luta de classes vive uma fase de ascensão. “Nas ruas e nas urnas”, o povo defende os avanços conquistados com a vitória de Evo Morales nas eleições presidenciais em dezembro de 2005. No referendo revogatório de agosto, o “sim” à continuidade do seu mandato obteve 67,4% dos votos. Já os referendos “autonomistas” de Santa Cruz, Tarija, Beni e Pando, ocorridos poucos antes, tiveram alta abstenção e revelaram as fragilidades da elite.
Carros com a suástica nazista
O povo está decidido a avançar nas suas conquistas. A nacionalização dos hidrocarbonetos, que estancou o saque do petróleo e gás – antes, 82% dos recursos ficavam com as empresas e apenas 18% iam para o Estado; agora é o inverso –, possibilitou investimentos nos programas sociais – como o que garante Renda Dignidade aos idosos. O país erradicará o analfabetismo ainda neste ano. Já a reforma agrária progride, inclusive em Santa Cruz, onde apenas 15 famílias detinham mais de 80% das terras. O autor mostra que estes avanços devem ser consolidados e ampliados com a nova Constituição, com vários artigos progressistas, que passará por referendo em janeiro.
A oligarquia resiste com violência a tais conquistas. Leonardo Severo não esconde a sua aversão às cenas de racismo e fascismo nos antros da direita. Bandos armados humilhando os indígenas, carros com a suástica nazista transitando livremente, pichações hediondas nos muros contra os “collas” (indígenas), destruição de prédios públicos. Ele também comprova a descarada atuação golpista da embaixada dos EUA, tendo à frente o embaixador separatista Philip Goldberg, que já foi expulso do país. E denuncia a postura da mídia local, controlada por poucas famílias. O livro é um valioso contraponto às abjetas manipulações da mídia boliviana, mundial e brasileira.
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