Por razões políticas de classe, a mídia tem seu candidato preferencial, o demotucano José Serra. Ao mesmo tempo, ela fará de tudo para enquadrar a candidatura de Dilma Rousseff, a mais forte concorrente nas eleições de 2010. Esta dupla tática já foi usada na campanha de Lula em 2002 e resultou na famosa “carta ao povo brasileiro”, também ironizada de “carta aos banqueiros”. Ela fará campanha, aberta e enrustida, para Serra, mas tentará evitar “extravagâncias” de Dilma. O objetivo é domesticar o seu programa e afastar os “setores mais radicais, bolcheviques”.
Os movimentos neste sentido já se fazem sentir. Seguindo recomendações do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o comando petista registrou a candidatura de Dilma e anexou um “programa provisório”. O texto reúne as principais resoluções do congresso partidário, ocorrido em fevereiro último. A gritaria foi imediata. Nas emissoras de televisão e nos jornalões, os comentaristas de aluguel atacaram várias propostas, como a da redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais, da criação do Imposto sobre Grandes Fortunas e da não criminalização dos movimentos sociais.
“Uso intensivo da blogosfera”
O alvo central da gritaria histérica, porém, foi o capítulo que trata da democratização dos meios de comunicação. O texto afirma, entre outros pontos, que “apesar dos avanços dos últimos anos, a maioria da população brasileira conta, como único veículo cultural e de informação, com as cadeias de rádio e de televisão, em geral, pouco afeitas à qualidade, ao pluralismo e ao debate democrático”. Diante deste cenário adverso à democracia, o “programa provisório” de Dilma Rousseff apresentava várias propostas concretas e progressistas, entre elas:
“Ampliação da rede de equipamentos, como centros culturais, museus, teatros e cinemas, política que deve estar articulada com a multiplicação dos pontos de cultura, representando amplo movimento de socialização cultural”; “Iniciativas que estimulem o debate de idéias, com o fortalecimento das redes públicas de comunicação e o uso intensivo da blogosfera”; “Medidas que promovam a democratização da comunicação social no país, em particular aquelas voltadas para combater o monopólio dos meios eletrônicos de informação, cultura e entretenimento”.
Resoluções da 1ª Confecom
O texto deixava explícito que se baseou nos debates na 1ª Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), realizada em dezembro passado, e assumia abertamente as suas resoluções. “Elas prevêem o estabelecimento de um novo parâmetro legal para as telecomunicações no país; a reativação do Conselho Nacional de Comunicação Social; o fim da propriedade cruzada; a exigência de uma porcentagem para a produção regional, de acordo com a Constituição Federal; a proibição da sublocação de emissoras e de horários; e o direito de resposta coletivo”.
Mas, da mesma forma como a Confecom foi sabotada pelos barões da mídia, o “programa provisório” também foi duramente bombardeado nas últimas horas. Para evitar maiores traumas, o comando de campanha simplesmente pediu ao TSE para retirar as “menções polêmicas”, sob a desculpa de que o programa oficial será elaborado pelo conjunto dos partidos coligados. Com mais esta trapalhada, ele deu força aos donos da mídia, que festejaram sua vitória parcial. A questão é: Dilma Rousseff, eleita presidente, enfrentará a tirania midiática ou se dobrará as suas pressões e chantagens?
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4 comentários:
Miro, é a existância da TV Globo que confere ao Brasil status democracia. Nada de eleição, nada de voto, nada de nada. O que determina se o Brasil é ou não é uma democracia é essa estrutura que nós chamamos Organizações Globo. Ou rompemos com isso ou não há sentido em fazer-se eleições. Para romper com esse ciclo de ditadura midiática temos que estar prontos para enfrentar o tratamento que nos será dispensado pela imprensa mundial. A Globo decidirá se a Dilma vai presidir uma democracia ou uma ditadura e, por bizarro que pareça, quem vai decidir o que a Globo vai decidir, é a Dilma (??????!!!!!) Ou a Dilma rompe com essa estrutura ou estamos chovendo no molhado mais uma vez. Ela pode fazer isso pq terá Lula, solto,liderando os movimentos sociais e as outras entidades da sociedade civil. A hora é essa.
A resposta é simples: não. Assim como não o fez Lula. E por maiores que sejam os malabarismos pelos quais se tente justificar essa postura recuada - colocar a culpa na figura mitológica da correlação de forças é a preferida - o fato é que PT e mídia vivem um mutualismo, por mais que a mídia deixe claro que seu candidato não é Dilma. O PT simplesmente não quer entrar nessa briga por que a luta seria encarniçada. Nós da esquerda revolucionária que temos que roer o osso, como sempre. Nada virá desses pelegos.
Abraços
Prezado Miro.
Dependerá de nós, da mobilização popular, das organizações sindicais e populares, pressionar o Governo Dilma para enfrentar o PIG.
O PT não é um partido revolucionário. É "apenas" um partido de esquerda.
Vamos batalhar pela vitória de Dilma agora. E, depois, batalhar pelo máximo de democracia que pudermos, nos limites do capitalismo.
Quando chegarmos a esses limites, caberá ao povo brasileiro decidir que rumos tomar.
Agora entendo porque este blog não tem nenhum comentário, nenhum passa na censura! Lamentável camarada, meu comentário foi uma crítica tranquila
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