sábado, 18 de setembro de 2010

A covardia do governo diante da mídia

Reproduzo artigo de Cláudio Gonzalez, publicado no blog Papillon:

Uma das vantagens de manter um blog pessoal é poder escrever sem o compromisso de ter de observar algumas normas de conduta que o exercício do jornalismo nos obriga a seguir. Este é um espaço livre, sem as amarras de um veículo de comunicação. Portanto, posso desabafar e questionar: até quando os covardes do governo Lula vão permitir ser esmagados pelo denuncismo midiático sem esboçar qualquer reação à altura? Qualquer um ligado ao governo que faça um mínimo comentário sobre os excessos da imprensa é imediatamente desautorizado. Gente do próprio Palácio do Planalto atende telefonemas de Lo Pretes e Bergamos da vida para desautorizar quem critica a imprensa.

Esta “denúncia” da Folha de ontem, repercutida com naturalidade espantosa em todos os veículos da grande imprensa, é tão escandalosamente falsa, montada, superficial… que se eu fosse um dos jornalistas que a assinaram, passaria o resto da vida envergonhado. Mas como o governo não reage – pelo contrário, dá corda para as ilações –, eles vão em frente. Acusações sem nenhuma prova e com inúmeros indícios de falsidade vão sendo reproduzidas aos borbotões e chega a um ponto tão surreal que ninguém mais sabe exatamente quais são as acusações ou onde está a infração. Fica no ar apenas a atmosfera de escândalo.

E o que faz o governo diante deste cenário? Simplesmente aceita a chantagem midiática, pois parece concordar que não há pecado maior para um político do que criticar a imprensa, mesmo quando ela comete um crime grave de calúnia e difamação com claros objetivos eleitorais. Eu gostaria muito de estar errado. Sei lá, talvez os que estão no centro do poder, como Franklin Martins, o Lula, o Marco Aurélio, o Santana… já tenham pensado em tudo, traçado um plano de reação que nós, pobres militantes que conhecemos apenas aquilo que a imprensa divulga, não podemos saber qual é para não atrapalhar o sucesso da empreitada.

Mas, infelizmente, desconfio que eles não têm plano nenhum. São apenas seres acovardados diante do poder da mídia. Aí ficamos nós aqui, fazendo papel de ridículos em nossos blogs, no Twitter, nas redes sociais, esperneando diante dos abusos da corja midiática, enquanto as “fontes palacianas” atendem com sorrisos o telefonema do jornalista da Folha e confirmam: “é, a Erenice errou no tom da nota, não podia ter atacado a imprensa e a candidatura do Serra como ela fez…”.

O governo Lula tem muitos méritos. Muitos mesmo. Mas sua relação covarde e de submissão em relação à grande imprensa é de dar dó. Parece que eles não aprenderam nada, absolutamente nada, com a crise política de 2005. Repetem os mesmos erros e se submetem pacificamente às pressões do mesmo denuncismo irresponsável e golpista. Ainda que isso não tenha conseguido, até o momento, produzir resultados eleitorais concretos – Dilma continua favorita – a mídia se fortalece de tal forma que os poderes Judiciário, Legislativo, Executivo e até os movimentos sociais acabam ficando sem armas para enfrentar os abusos da imprensa. Viram reféns de um quinto-poder sem limites, que se coloca acima do bem e do mal, destrói reputações, acaba com carreiras, prejudica negócios legítimos com a certeza da impunidade. Lembra muito um trecho daquele poema “No caminho com Maiakovski”:

Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.

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10 comentários:

Eason Nascimento disse...

O novo congresso eleito neste atual processo eleitoral e que inicia suas atividades em 2011 deverá ser pressionado por todas as entidades da sociedade que se sentem indignada com a atuação das nossas organizações midiáticas. Esta luta não poderá ser adiada. Será uma batalha duríssima mas que terá que ser travada e vencida em nome da democracia no país. Quanto ao PT concordo com o articulista que apanha sem se defender. É omisso no trato do embate com a mídia se mostrando acuado frente a enxurrada de denúncias quase sempre descabidas com o mais claro objetivo eleitoral de beneficiar a candidatura tucana.
http://easonfn.wordpress.com

francisco.latorre disse...

vou de idelber avelar.

http://www.idelberavelar.com/archives/2010/09/velocidade_serenidade_e_politica.php

Discordo dos camaradas que dizem que o governo contemporizou demais com os conglomerados máfio-midiáticos. O governo agiu corretamente com eles: 1) Garantiu a liberdade de imprensa: Globo, Veja, Folha e Estadão jamais foram censurados, apesar das insistentes referências a Hitler e Mussolini na imprensa brasileira; 2) Iniciou a comunicação direta com a população, através de órgãos como o Blog do Planalto e o Blog da Petrobras; 3) Democratizou a circulação das verbas de publicidade, o que realmente enfureceu os caras; 4) Realizou a Confecom, que envolveu a sociedade civil e estabeleceu as bases para um outro modelo de comunicação.

Fazer mais que isso não é papel de governo. Combater a mídia não é tarefa do governo. É tarefa nossa. Nesse combate, superestimar o poder do adversário pode ser tão daninho como subestimá-lo. Falar como se Globo e Veja estivessem em condições de dar um golpe de estado hoje só serve para produzir confusão do lado de cá e aumentar a moral do lado de lá. Pedir que Lula vá à TV atacar uma insignificância como Mario Sabino é entregar a bola ao time deles. A bola está com a gente, lembram?

O que há que se fazer agora é fortalecer a campanha para fechar essa parada no primeiro turno. Depois da eleição, podemos pensar em uma grande ofensiva sobre esses veículos, com campanhas de cancelamento de assinaturas e, muito especialmente, intensa pressão sobre os anunciantes, atividade que não tem muita tradição no Brasil e que produz efeitos devastadores quando bem aplicada aqui nos EUA. Eu sinto que nós já temos força para isso. Tem que ser bem feito, mas temos.

Por enquanto, a tarefa é ganhar a eleição no dia 03 de outubro. Claro que essa tarefa inclui o combate a distorções da mídia. Mas ela também inclui—e às vezes nos esquecemos disso—apresentar nossa candidata a esses 10% de indecisos que ainda estão por aí. A candidata é fera, sabe das coisas, nós governamos bem e temos o que mostrar. Vamos embora pra luta com um pouquinho mais de leveza e alegria.

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francisco.latorre disse...

vou de idelber avelar.

http://www.idelberavelar.com/archives/2010/09/velocidade_serenidade_e_politica.php

Discordo dos camaradas que dizem que o governo contemporizou demais com os conglomerados máfio-midiáticos. O governo agiu corretamente com eles: 1) Garantiu a liberdade de imprensa: Globo, Veja, Folha e Estadão jamais foram censurados, apesar das insistentes referências a Hitler e Mussolini na imprensa brasileira; 2) Iniciou a comunicação direta com a população, através de órgãos como o Blog do Planalto e o Blog da Petrobras; 3) Democratizou a circulação das verbas de publicidade, o que realmente enfureceu os caras; 4) Realizou a Confecom, que envolveu a sociedade civil e estabeleceu as bases para um outro modelo de comunicação.

Fazer mais que isso não é papel de governo. Combater a mídia não é tarefa do governo. É tarefa nossa. Nesse combate, superestimar o poder do adversário pode ser tão daninho como subestimá-lo. Falar como se Globo e Veja estivessem em condições de dar um golpe de estado hoje só serve para produzir confusão do lado de cá e aumentar a moral do lado de lá.

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Euclides disse...

Antes de mais nada e para que as coisas fiquem claras, sou petista filiado, portanto, de carteirinha, desde sua fundação.
Entretanto, não posso deixar de concordar com o Cláudio, em gênero, número e grau, essa covardia já ultrapassou todos os limites, até do ridículo, em que pese um post publicado na inominável, pelo Lauro Cemitério, que dois Ministros foram contra e não concordaram, com mais esse agachamento, com a demissão da Erenice: o Fanklin Martins e o Alexandre Padilha. Não é por isso que vamos desistir da luta, mas que vamos cobrar mais posicionamento do partido e do Governo a isso vamos, pois, para completar, já estou de saco cheio de ser tratado, como bandido!

VERA LUCIA PASQUALETTO disse...

Miro,

As vezes faço esta mesma pergunta... mas paro e me pergunto nas consequências e de que forma seria possível ao Governo fazer isso. E sempre me bate um medo. De que se o governo combater isso... nesse exato momento... não vai ser bom... pois temos um judiciário muito perigoso.
O Governo infelizmente não tem como combater isso....
Somos nos que temos que dar respaldo com nossas ações...
Isso seria uso de poder por parte do governo... Infelizmente Brasil não é Venezuela...ou Argentina. Nosso povo tem que ir as ruas.... e exigir isso....

Anônimo disse...

Discordo da opinião, principalmente pelo mau uso do adjetivo "covarde" e do sujeito.
Em nenhum momento o autor citou os verdadeiros responsáveis pelo quadro que hoje encontramos na nossa mídia nativa, que são os oligarcas históricos, que desde muito manipulam informações, distorcem fatos e inventam mentiras, e sempre estiveram impunes.
Somos nós todos, o povo, principalmente a camada mais esclarecida deste, que temos a responsabilidade e o dever de dar um basta.
E somente através de legislação apropriada e com pressão popular, é que conseguiremos extirpar essa anomalia de nosso país.

Anônimo disse...

Concordo com o Idelber Avelar.
Não podemos dar ao PIG a bandeira da liberdade de imprensa diante da comunidade mundial. É isto o que eles querem: se apossar dessa bandeira.
Importante é derrotar os parlamentares representantes do PIG no Congresso Nacional. A bancada dos barões da mídia tem muita força no nosso parlamento. Se queremos derrotá-los, devemos trabalhar desde já para enfraquecer essa bancada do PIG.
Portanto, nesse xadrez, o governo Dilma tem que jogar com sabedoria, respeitando os princípios democráticos e colocando o PIG no seu devido lugar: na lata de lixo da história.
Abs,
Valmont.

Unknown disse...

Olha Miro,confesso que eu também tô muito irritada com isso.Porque o PT antigamente era tudo,menos covarde,mto pelo contrário.Agente como militante se orgulhava daquele espírito combativo e aguerrido que nenhum outro partido possuia e isso sempre causava inveja nelles .Então eu pergunto:Onde foi parar essa combatividade, essa agressividade,no bom sentido,do PT?Agora,que tem tudo pra vir pra cima desses cretinos revidando à altura qualquer acusação e trazendo todos os "telhados de vidros"delles à tona tb.Não faz pq?Ouve tudo que é calúnia e acusação calado.A imprensa em peso junto com a tucanalha criando factoides o dia todo e o PT calado,como se nada estivesse acontecendo.No programa da Dilma, nenhuma menção sobre todas as calúnias do Serra, aliados e imprensa.Parece que o Zé caluniador,no programa delle foi um gentleman ,no entanto,só caluniou e esbravejou contra ela todo programa.Embora,isso não tenha produzido nem se refletido negativamente na campanha,vai se criando no inconsciente coletivo das pessoas,pelo menos as mais desinformadas,uma imagem negativa.Pq é a velha história:uma mentira repetida sempre,acaba virando verdade.Olha,estamos muito decepcionadas com essa passividade toda e não estamos reconhecendo aí o antigo PT de luta e combativo,justo agora que tinha tudo pra não abrir as pernas pra essa mídia que nunca engoliu o PT, nunca respeitou o Lula e faz tudo pra desqualificar e prejudicar a Dilma.Essa tarefa fica só para os militantes?Não,deve partir da cúpula do partido e do governo também.Chega de passividade,queremos os brios do partido de volta.

Antônio do Amaral Rocha disse...

Miro, é sempre importante informar que o poema que fecha a sua matéria é de autoria do magnífico poeta Eduardo Alves da Costa. Afora isso, nada a reparar ao seu ótimo artigo.

Anônimo disse...

Se tenho um elogio sincero a fazer sobre o PT é o seguinte:
Vocês são extremamente hábeis na arte de dissimular.
Sabem se calar para esperar o silêncio fazer efeito.
Sabem falar para obter o efeito desejado.
Sabem inverter os papéis, sabem se apropriar da fala de quem as deveria pronunciar.
Sabem criar factóides para assumirem a condição de vítimas, quando na verdade, são réus.
Vocês, mais do que qualquer outro partido político, merecem permanecer na presidência da república pela eficiência com que ensinam aos outros partidos como é fazer política.
VIVA LULA!
VIVA DILMA!
VIVA O PT!