quinta-feira, 24 de março de 2011

O PSD de Kassab vai vingar?

Por Altamiro Borges

Lançado no início desta semana, o “novo” Partido Social-Democrático (PSD), liderado pelo prefeito da capital paulista, Gilberto Kassab, ainda é uma incógnita. Não se sabe ao certo qual será a sua dimensão, o tamanho das adesões à legenda. Também não se conhece quais serão seus compromissos programáticos e sua tática, suas alianças e alinhamentos.

Artilharia pesada dos demos

De concreto, sabe-se que a fundação do novo partido representa um duro baque para os demos e respinga também nos tucanos. Caciques do DEM estão irritados com o ex-filiado. Em seu twitter, ACM Neto chamou a nova legenda de “partido sem decência” e “partido sem dignidade”, ironizando suas iniciais. O líder dos demos, mais sujo do que pau de galinheiro, não se olha no espelho!

O partido também já decidiu abrir guerra contra o atual prefeito paulistano. “O DEM tem de ir para a oposição ao Kassab. Vamos enfrentá-lo em São Paulo... Kassab abandonou São Paulo para espalhar a política de baixo nível pelo país. Paulistano não perdoa. Não é à toa ele ter 43% de rejeição”, declarou, em tom belicista, o líder da bancada dos demos.

Temores dos tucanos

Já no caso dos tucanos, o temor é o do maior encolhimento da oposição de direita no país. Os chefões do PSDB evitam criticar em público o novo partido, mas sabem que as conseqüências podem ser negativas no futuro. O senador Aécio Neves, que parece ter tomado de assalto o que sobrou do DEM, lamenta a possível perda de importantes bases de apoio para o seu sonho presidencial.

Já José Serra, que bancou Gilberto Kassab para a prefeitura da capital e era considerado seu padrinho – “durmo de paletó para atendê-lo”, chegou a brincar na TV o servil prefeito ao falar sobre ex-governador notívago –, também teme os desdobramentos da crise no bloco neoliberal-conservador. Segundo o Portal IG, “Serra orientou aliados a ficarem longe do novo partido de Kassab”.

Base governista solta rojões

Enquanto a oposição de direita lambe suas feridas, os partidos de sustentação do governo Dilma Rousseff soltam rojões e exploram as contradições no campo adversário. O líder governista na Câmara Federal, deputado Cândido Vaccarezza (PT/SP), já adiantou que irá procurar o PSD com o objetivo de “discutir e fortalecer os laços com o novo partido que se forma... Todo fortalecimento do governo é positivo. O Kassab não entrou no PT. Ele formou um partido e esse partido vem para a base do governo”.

Kassab também tem recebido afagos diretos do Palácio do Planalto. O secretário-geral da Presidência, ministro Gilberto Carvalho, já fez questão de dar entrevistas elogiando o prefeito paulistano. “Ele sempre manteve um comportamento cuidadoso. Eu diria até um pouco distinto da tradição. Ele nunca fez uma inauguração sem convidar o presidente. Ao contrário de prefeitos e até aliados nossos que, às vezes, se apropriam de recursos e faturam apenas para si. Nesse sentido, Kassab foi diferente”.

As dúvidas sobre o futuro

Habilidoso, Gilberto Carvalho avaliou como positiva e “contraditória” a aproximação do prefeito. “Apoio você nunca recusa... Em São Paulo, a oposição do PT ao Kassab é forte. Mas, com governo federal do presidente Lula e agora com a presidenta Dilma, o prefeito sempre manteve um comportamento cuidadoso... Não vejo nenhum problema de ele nos apoiar. O que não significa compromisso do governo federal com o partido dele. Vamos ver qual vai ser o comportamento deste partido novo”.

As dúvidas do secretário-geral da Presidência sobre o futuro do PSD são procedentes. Afinal, a fundação do partido ficou aquém do que se alardeava. A mídia alardeou que Kassab conseguiria a adesão de mais 20 deputados federais, a maioria deles do DEM, e também do governador de Santa Catarina. Até agora, porém, menos de dez ingressaram na legenda e o demo Colombo preferiu recuar. Em São Paulo, principal base do prefeito, metade dos eleitos em 2010 com seu apoio direto rejeitaram a sedução.

Contradições ou oportunismo?

O deputado Eli Corrêa Filho anunciou hoje que não ingressará no PSD do seu “amigo” prefeito. “Sempre fui desse partido e estou bem aqui”. Além dele, continuarão no DEM os deputados Rodrigo Garcia, Jorge Tadeu Mudalen e Alexandre Leite. Abandonarão o barco os deputados Guilherme Campos, Junji Abe, Eleuses Paiva e Walter Ihoshi, além do vice-governador paulista, Guilherme Afif Domingos. Segundo notícias de bastidores, demos e tucanos montaram uma operação de guerra para conter a sangria.

Além da quebra de expectativas sobre as adesões, há muitas indagações sobre como se comportará o novo partido. No ato em São Paulo, na segunda-feira (21), Gilberto Kassab afirmou que a legenda seria “independente”, fez elogios ao governador Geraldo Alckmin e disse a aliança com PSDB no Estado “é indestrutível”. Já num evento na Bahia, ele sinalizou que o PSD fará parte da base de sustentação do governo federal. “O melhor para o Brasil será ajudar a presidenta Dilma”. Contradição ou oportunismo?

Programa de centro-direita

Já no que se refere ao seu perfil ideológico, o PSD surge como uma legenda tipicamente de centro-direita. Entre os “12 princípios” anunciados nesta semana, ele defende a “livre iniciativa, liberdade individual, respeito aos contribuintes, direito de propriedade e respeito a contratos”, segundo revelou o jornal Valor. O partido ainda propõe a flexibilização dos direitos trabalhistas, “com o predomínio do negociado sobre o legislado” – uma velha tese dos demos, ex-PFL, ainda no reinado de FHC.

“A nova legenda, articulada pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, defende também o voto distrital. Em uma das poucas concessões a uma plataforma de esquerda está o apoio a programas voltados às famílias carentes”, descreve o Valor. Segundo informa, o ultra-liberal Guilherme Afif Domingos ficou responsável por coordenar a elaboração do programa final do partido, que deverá ser apresentado em agosto. Mas com estes “doze princípios” já dá para prever que boa coisa não vai surgir!

2 comentários:

Noir disse...

Vai se vingar de quem, do Serra?

Anônimo disse...

Miro,

fico imaginando duas cosias:
1) O Aécio ganhou - enfraqueceu Serra sem precisar se dirigir pessoalmente a ele, foi pior: fez o principal (e último e mais estratégico) aliado serrista a abandonar o barco. Novo partido, do jeito que o Aécio queria, agora é só questão de tempo o Aécio ir e comandar. (A não ser que ele prefira herdar o PSDB, que tem mais representatividade, mas estará sempre à direita)
2) O Serra ganhou´. O PSDB como um todo não aguenta mais o Serra, aí o Kassab vai e faz uma casinha pra eles. O Serra vai querer posar de desenvolvimentista em 2014. Acontece que nesses meses ele (Serra) já percebeu que o PSDB é do Aécio e que o DEM já era, em 2014 o PSDB estará muito mais nas mãos de Aécio do que já está. Então o Serrá tem a porta aberta pra entrar no PSD "herdeiro de jucelino". O que acha?

@robsonfs9