Por Laurindo Lalo Leal Filho, no sítio Carta Maior:
“Em ano de política...”. A expressão pode ser ouvida na boca das mais diversas pessoas em várias partes do país, reveladora do que é a política para muitos brasileiros. Confundem, com razão, ação política com ano eleitoral.
Às vezes há ainda o complemento: “nesse ano rola muito dinheiro” fechando o raciocínio de que se trata apenas de mais um negócio datado. Não sem alguma razão (ou muita?).
Por essas e por outras a vida política fica empobrecida reduzindo-se, para a maioria da população, ao ato obrigatório de votar.
Há várias explicações para essa alienação. Desde a herança simbólica do voto censitário, em vigor no Brasil durante toda a monarquia até os dias atuais, onde a política só surge no debate nacional três meses antes das eleições através do chamado “horário eleitoral gratuito” no rádio e na TV, que de gratuito nada tem. É pago às emissoras através de renúncia fiscal.
Claro que, ao longo dos períodos não eleitorais, circulam através da mídia informações políticas. Mas são informações organizadas pelos meios de comunicação segundo seus interesses. Apenas “in-formam”, ou seja colocam na forma os fatos prontos para serem servidos ao público.
Diferente seria se a política fosse comunicada, no sentido de torná-la comum a todos, dividida, partilhada. Seriam diferentes visões de mundo e de sociedade circulando através dos grandes meios de comunicação dando ampla possibilidade de escolha aos que as recebessem.
Temos hoje muita informação e pouquíssima comunicação. Somos talvez a única grande democracia do mundo onde não existe um programa de debates políticos em rede aberta, com alcance nacional, capaz de tornar comuns os fatos políticos do cotidiano.
Em livro recente, o professor Danilo Rothberg transcreve trechos do programa Newsnigth, da BBC, onde toda noite questões centrais para a vida do pais são debatidas (Jornalismo Público, Editora UNESP). Um bom exemplo de comunicação.
E aqui ao lado, na Argentina, a televisão pública dá outro exemplo positivo ao colocar no ar programas como El Debate. Nele defensores de posições divergentes sobre temas nacionais polêmicos são colocados frente-a-frente. A platéia convidada emite também sua opinião, através de dispositivos eletrônicos, antes e depois do debate. É significativo ver como o esclarecimento leva a mudanças.
São programas que colocam a política no dia-a-dia da população facilitando posteriores escolhas eleitorais. Aqui ficamos restritos às precárias mensagens partidárias oferecidas nos três meses que antecedem as eleições. Não que elas não sejam importantes mas é muito pouco.
Para candidatos e partidos ocupar o tempo no rádio e na TV é um jogo de vida ou morte. Muitos têm apenas esse espaço, garantido por lei, para se dirigir ao eleitor. Quantos não foram banidos das telas por se confrontarem com os interesses das emissoras? Exemplos, entre muitos: Saturnino Braga e Leonel Brizola vetados pela Rede Globo e Luiza Erundina, pela Bandeirantes.
A situação torna-se mais grave porque foi-se o tempo em que o voto era conquistado nos comícios. A televisão acabou com isso tornando-se o principal cabo eleitoral do pais.
Não é por acaso que todo ano de eleição começa com a corrida dos partidos em busca de alianças para garantir o maior tempo possível de TV. Como está acontecendo agora. Programas partidários, ideologia, planos de governo, nada disso importa para a maioria das coligações. O que interessa são os minutos no ar.
E nessa disputa feroz como eles são utilizados? Quase sempre com os mesmos critérios dos comerciais de sabonete. Se no dia-a-dia a TV não trata o telespectador como cidadão e sim como consumidor, nos programas eleitorais ele é tratado apenas como eleitor de quem se quer conquistar o voto. Nos dois momentos o mecanismo de sedução é o mesmo: a emoção se sobrepondo à razão.
Salvo exceções, honrosas, o horário foi transformado em um grande bazar sob o controle de profissionais de propaganda. A mesma lógica da programação convencional foi adotada pelas mensagens políticas. Numa vende-se mercadorias, na outra candidaturas.
Perde-se assim a grande oportunidade de ampliar o debate democrático oferecido por lei. Planos de governo são subordinados a trens que voam, projetos de pontes e estradas irrealizáveis feitos apenas para aparecer na TV, performances de artistas sem idéias em busca de votos e por ai adiante.
Ou o pior: o uso desse espaço precioso e privilegiado para banalizar temas sérios como, por exemplo, a legalização do aborto, transformado na eleição passada em peça publicitária de alto impacto.
Estamos diante de dois desafios: exigir das emissoras de rádio e de TV, no dia-a-dia, mais respeito pela política tornando-a objeto da comunicação e não apenas da informação e, ao mesmo tempo, cobrar dos partidos e candidatos um uso mais sério e conseqüente do “horário eleitoral”, um dos mais importantes espaços democráticos existentes no pais.
“Em ano de política...”. A expressão pode ser ouvida na boca das mais diversas pessoas em várias partes do país, reveladora do que é a política para muitos brasileiros. Confundem, com razão, ação política com ano eleitoral.
Às vezes há ainda o complemento: “nesse ano rola muito dinheiro” fechando o raciocínio de que se trata apenas de mais um negócio datado. Não sem alguma razão (ou muita?).
Por essas e por outras a vida política fica empobrecida reduzindo-se, para a maioria da população, ao ato obrigatório de votar.
Há várias explicações para essa alienação. Desde a herança simbólica do voto censitário, em vigor no Brasil durante toda a monarquia até os dias atuais, onde a política só surge no debate nacional três meses antes das eleições através do chamado “horário eleitoral gratuito” no rádio e na TV, que de gratuito nada tem. É pago às emissoras através de renúncia fiscal.
Claro que, ao longo dos períodos não eleitorais, circulam através da mídia informações políticas. Mas são informações organizadas pelos meios de comunicação segundo seus interesses. Apenas “in-formam”, ou seja colocam na forma os fatos prontos para serem servidos ao público.
Diferente seria se a política fosse comunicada, no sentido de torná-la comum a todos, dividida, partilhada. Seriam diferentes visões de mundo e de sociedade circulando através dos grandes meios de comunicação dando ampla possibilidade de escolha aos que as recebessem.
Temos hoje muita informação e pouquíssima comunicação. Somos talvez a única grande democracia do mundo onde não existe um programa de debates políticos em rede aberta, com alcance nacional, capaz de tornar comuns os fatos políticos do cotidiano.
Em livro recente, o professor Danilo Rothberg transcreve trechos do programa Newsnigth, da BBC, onde toda noite questões centrais para a vida do pais são debatidas (Jornalismo Público, Editora UNESP). Um bom exemplo de comunicação.
E aqui ao lado, na Argentina, a televisão pública dá outro exemplo positivo ao colocar no ar programas como El Debate. Nele defensores de posições divergentes sobre temas nacionais polêmicos são colocados frente-a-frente. A platéia convidada emite também sua opinião, através de dispositivos eletrônicos, antes e depois do debate. É significativo ver como o esclarecimento leva a mudanças.
São programas que colocam a política no dia-a-dia da população facilitando posteriores escolhas eleitorais. Aqui ficamos restritos às precárias mensagens partidárias oferecidas nos três meses que antecedem as eleições. Não que elas não sejam importantes mas é muito pouco.
Para candidatos e partidos ocupar o tempo no rádio e na TV é um jogo de vida ou morte. Muitos têm apenas esse espaço, garantido por lei, para se dirigir ao eleitor. Quantos não foram banidos das telas por se confrontarem com os interesses das emissoras? Exemplos, entre muitos: Saturnino Braga e Leonel Brizola vetados pela Rede Globo e Luiza Erundina, pela Bandeirantes.
A situação torna-se mais grave porque foi-se o tempo em que o voto era conquistado nos comícios. A televisão acabou com isso tornando-se o principal cabo eleitoral do pais.
Não é por acaso que todo ano de eleição começa com a corrida dos partidos em busca de alianças para garantir o maior tempo possível de TV. Como está acontecendo agora. Programas partidários, ideologia, planos de governo, nada disso importa para a maioria das coligações. O que interessa são os minutos no ar.
E nessa disputa feroz como eles são utilizados? Quase sempre com os mesmos critérios dos comerciais de sabonete. Se no dia-a-dia a TV não trata o telespectador como cidadão e sim como consumidor, nos programas eleitorais ele é tratado apenas como eleitor de quem se quer conquistar o voto. Nos dois momentos o mecanismo de sedução é o mesmo: a emoção se sobrepondo à razão.
Salvo exceções, honrosas, o horário foi transformado em um grande bazar sob o controle de profissionais de propaganda. A mesma lógica da programação convencional foi adotada pelas mensagens políticas. Numa vende-se mercadorias, na outra candidaturas.
Perde-se assim a grande oportunidade de ampliar o debate democrático oferecido por lei. Planos de governo são subordinados a trens que voam, projetos de pontes e estradas irrealizáveis feitos apenas para aparecer na TV, performances de artistas sem idéias em busca de votos e por ai adiante.
Ou o pior: o uso desse espaço precioso e privilegiado para banalizar temas sérios como, por exemplo, a legalização do aborto, transformado na eleição passada em peça publicitária de alto impacto.
Estamos diante de dois desafios: exigir das emissoras de rádio e de TV, no dia-a-dia, mais respeito pela política tornando-a objeto da comunicação e não apenas da informação e, ao mesmo tempo, cobrar dos partidos e candidatos um uso mais sério e conseqüente do “horário eleitoral”, um dos mais importantes espaços democráticos existentes no pais.
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