Por Luciano Martins Costa, no Observatório da Imprensa:
Jornais de todo o mundo registraram na quarta-feira (16/1) que o Facebook lançou seu próprio serviço de busca, chamado em português de Busca Social, mas enfrenta uma nova desvalorização de suas ações, por conta de reações negativas do público a mudanças feitas na rede social de imagens Instagram e pelas expectativas exageradas criadas em torno do anúncio do novo aplicativo.
Na imprensa brasileira, a tendência é destacar a queda no valor da empresa, que ainda não conseguiu apresentar um modelo de negócio capaz de produzir receita com seus aplicativos para telefones celulares. No entanto, o foco exclusivo na questão da monetização, que é uma demanda imediata dos investidores, pode estar equivocado. Atrair publicidade clássica pode não ser necessariamente o principal valor dos negócios desse tipo.
Pesquisadores de comunicação social e outros protagonistas dos debates sobre o futuro da imprensa discutem com muita frequência os possíveis impactos das tecnologias digitais de comunicação e informação na mídia tradicional. De modo geral, o núcleo dessas discussões tem sido a saturação do campo antes dominado pelos meios, que se impunham como filtros ou veículos de informação entre as fontes e o público.
As novas tecnologias alteram radicalmente os papéis, permitindo que o público deixe a passividade e se transforme em protagonista, num ambiente em que tudo passa a ser mídia, de modo que aquilo que era classicamente mídia perde relevância. Uma das consequências dessa transformação é a perda de valor da mediação, o que coloca sob risco o modelo de negócio que até aqui vinha sustentando as empresas de comunicação.
Os chamados veículos de comunicação tentam se remunerar limitando o acesso do público aos seus conteúdos, mas com isso limitam a audiência, criando uma contradição difícil de administrar, pois cada veículo precisa mostrar seu produto, atrair um grande número de pessoas, mas ao mesmo tempo tem que colocar barreiras de pedágio para obter alguma remuneração. Por outro lado, esses produtos são muito semelhantes entre si, porque poucas dessas empresas podem suportar o custo de produzir conteúdos exclusivos.
Liberdade de informação
Embora apareçam aqui e ali notícias sobre bons resultados de alguns jornais em suas edições digitais, os números não oferecem qualquer garantia de que se tenha chegado a um sistema capaz de assegurar receitas suficientes para manter o custo da produção de jornalismo de qualidade. Por outro lado, os veículos de comunicação precisam lidar com a resistência de seus parceiros preferenciais no modelo antigo, as agências de publicidade, que seguem funcionando na base da intermediação de interesses.
Além disso, um novo impacto poderá abalar essa aliança: cresce fortemente a chamada mídia corporativa, por meio da qual empresas comuns tratam de se comunicar diretamente com seus públicos de interesse, dispensando a mediação tradicional. Esse cenário autoriza a questionar o eixo das discussões predominantes sobre o futuro das comunicações.
A questão extrapola em muito o problema da monetização dos negócios digitais e coloca em debate o tema da propriedade da informação. Muito provavelmente estamos testemunhando uma mudança ainda mais radical, na própria natureza da comunicação, que poderá não se basear mais em marcas tradicionais, mas nos graus de relacionamento entre as partes.
O suicídio do tecnólogo americano Aaron Swartz, na sexta-feira ()11/1), impulsionou o movimento pela liberdade de expressão e a gratuidade das informações na internet. Ele estava sendo processado por haver baixado 5 mil artigos acadêmicos sem autorização e corria o risco de ser condenado a até 30 anos de prisão (ver “A internet perdeu um de seus mais brilhantes sonhadores”). Desde então, centenas de pesquisadores passaram a disponibilizar cópias gratuitas de suas produções acadêmicas, como apoio ao movimento liderado por Swartz, criando constrangimento para a principal entidade atingida por sua ação, o Instituto de Tecnologia de Massachusetts.
Ao contrário do que dizem os jornais, o sistema de busca do Facebook não significa apenas a abertura de concorrência com o Google: afeta diretamente a mídia tradicional, abre espaço para o compartilhamento de informações e pode representar mais um prego no ataúde das empresas mediadoras.
Na imprensa brasileira, a tendência é destacar a queda no valor da empresa, que ainda não conseguiu apresentar um modelo de negócio capaz de produzir receita com seus aplicativos para telefones celulares. No entanto, o foco exclusivo na questão da monetização, que é uma demanda imediata dos investidores, pode estar equivocado. Atrair publicidade clássica pode não ser necessariamente o principal valor dos negócios desse tipo.
Pesquisadores de comunicação social e outros protagonistas dos debates sobre o futuro da imprensa discutem com muita frequência os possíveis impactos das tecnologias digitais de comunicação e informação na mídia tradicional. De modo geral, o núcleo dessas discussões tem sido a saturação do campo antes dominado pelos meios, que se impunham como filtros ou veículos de informação entre as fontes e o público.
As novas tecnologias alteram radicalmente os papéis, permitindo que o público deixe a passividade e se transforme em protagonista, num ambiente em que tudo passa a ser mídia, de modo que aquilo que era classicamente mídia perde relevância. Uma das consequências dessa transformação é a perda de valor da mediação, o que coloca sob risco o modelo de negócio que até aqui vinha sustentando as empresas de comunicação.
Os chamados veículos de comunicação tentam se remunerar limitando o acesso do público aos seus conteúdos, mas com isso limitam a audiência, criando uma contradição difícil de administrar, pois cada veículo precisa mostrar seu produto, atrair um grande número de pessoas, mas ao mesmo tempo tem que colocar barreiras de pedágio para obter alguma remuneração. Por outro lado, esses produtos são muito semelhantes entre si, porque poucas dessas empresas podem suportar o custo de produzir conteúdos exclusivos.
Liberdade de informação
Embora apareçam aqui e ali notícias sobre bons resultados de alguns jornais em suas edições digitais, os números não oferecem qualquer garantia de que se tenha chegado a um sistema capaz de assegurar receitas suficientes para manter o custo da produção de jornalismo de qualidade. Por outro lado, os veículos de comunicação precisam lidar com a resistência de seus parceiros preferenciais no modelo antigo, as agências de publicidade, que seguem funcionando na base da intermediação de interesses.
Além disso, um novo impacto poderá abalar essa aliança: cresce fortemente a chamada mídia corporativa, por meio da qual empresas comuns tratam de se comunicar diretamente com seus públicos de interesse, dispensando a mediação tradicional. Esse cenário autoriza a questionar o eixo das discussões predominantes sobre o futuro das comunicações.
A questão extrapola em muito o problema da monetização dos negócios digitais e coloca em debate o tema da propriedade da informação. Muito provavelmente estamos testemunhando uma mudança ainda mais radical, na própria natureza da comunicação, que poderá não se basear mais em marcas tradicionais, mas nos graus de relacionamento entre as partes.
O suicídio do tecnólogo americano Aaron Swartz, na sexta-feira ()11/1), impulsionou o movimento pela liberdade de expressão e a gratuidade das informações na internet. Ele estava sendo processado por haver baixado 5 mil artigos acadêmicos sem autorização e corria o risco de ser condenado a até 30 anos de prisão (ver “A internet perdeu um de seus mais brilhantes sonhadores”). Desde então, centenas de pesquisadores passaram a disponibilizar cópias gratuitas de suas produções acadêmicas, como apoio ao movimento liderado por Swartz, criando constrangimento para a principal entidade atingida por sua ação, o Instituto de Tecnologia de Massachusetts.
Ao contrário do que dizem os jornais, o sistema de busca do Facebook não significa apenas a abertura de concorrência com o Google: afeta diretamente a mídia tradicional, abre espaço para o compartilhamento de informações e pode representar mais um prego no ataúde das empresas mediadoras.
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