Por Paulo Moreira Leite, em seu blog:
Abertas as urnas italianas, nossos sábios do comentário político poderiam explicar por que imaginavam que Mário Monti, o interventor do BC Europeu que governou o país com um programa de austeridade, poderia ter mais do que uma parcela irrisória dos votos.
Explica-se essa ilusão por uma ideologia – o mito, tão conveniente a quem fica longe do sacrifício, de que o sofrimento de grandes parcelas da população é o caminho inevitável para tirar um país da crise.
A ideia era que, mesmo a contragosto, a população acabaria concordando em apertar os cintos, comprometer o futuro das novas gerações – e ainda bater palmas. Com isso, um tecnocrata sem votos teria chance pelo menos de ser uma voz auxiliar no futuro dos italianos. A razão dos mercados, assim, teria apoio nas urnas. Não deu. De uma forma ou de outra, 9 entre 10 italianos repudiaram o programa econômico imposto ao país pelo Banco Central Europeu, hoje instrumento do governo alemão para definir os rumos do Velho Mundo.
O principal instrumento dessa ideologia é a ideia de um Banco Central independente, que estaria acima da pressão de governos – especialmente aqueles que cometem o pecado de preocupar-se com o bem-estar dos eleitores e por isso são chamados de “populistas”, sempre em tom de desprezo.
(Para quem não acompanha o debate, sugiro a leitura de “A Razão Populista”, de Ernesto Laclau, cientista político argentino que ilumina incompreensões, desvios e preconceitos manipulados por vários críticos – à direita e à esquerda – dos políticos “populistas”).
Mario Monti era a encarnação desse sistema, que avançou mais na Europa do que em outras partes do mundo por uma questão prática. Enquanto no resto do mundo o Banco Central responde a um determinado governo – muitas vezes eleito democraticamente –, no Velho Mundo vive-se uma situação especial. O Banco Central é mesmo “independente” dos eleitores. Escolhido por todos os governos, não presta contas a ninguém – tornando-se um alvo fácil dos mercados.
Não tem compromisso com o futuro das famílias comuns nem com o emprego da juventude.
Sua base social é vaporosa, pulverizada. Não responde a ninguém. Por isso todos os governos europeus caem como dominó, mas a política do BCE continua a mesma.
Monti era fruto dessa aberração política. Quando ficou claro que o bunga bunga Silvio Berlusconi não iria cumprir as ordens de Ângela Merkel, foi trocado como um executivo é demitido quando se mostra incapaz de cumprir ordens de seus acionistas. Graças a essa medida, o próprio Berlusconi poupou-se de um desgaste maior e pode retornar em posição de triunfo – só não foi o primeiro colocado por uma diferença de centésimos.
O novo impasse político italiano tem peculiaridades, mas é idêntico ao dos países vizinhos. Incapazes de colocar suas instituições políticas a serviço da maioria, que não abre mão do crescimento, do emprego e da defesa de suas garantias, os sucessivos governos europeus estão condenados a cair em velocidade cada vez maior. O escândalo de corrupção que já atinge o PP espanhol, com um mandato recém-saído das urnas, é apenas um sintoma deste enfraquecimento político.
Abertas as urnas italianas, nossos sábios do comentário político poderiam explicar por que imaginavam que Mário Monti, o interventor do BC Europeu que governou o país com um programa de austeridade, poderia ter mais do que uma parcela irrisória dos votos.
Explica-se essa ilusão por uma ideologia – o mito, tão conveniente a quem fica longe do sacrifício, de que o sofrimento de grandes parcelas da população é o caminho inevitável para tirar um país da crise.
A ideia era que, mesmo a contragosto, a população acabaria concordando em apertar os cintos, comprometer o futuro das novas gerações – e ainda bater palmas. Com isso, um tecnocrata sem votos teria chance pelo menos de ser uma voz auxiliar no futuro dos italianos. A razão dos mercados, assim, teria apoio nas urnas. Não deu. De uma forma ou de outra, 9 entre 10 italianos repudiaram o programa econômico imposto ao país pelo Banco Central Europeu, hoje instrumento do governo alemão para definir os rumos do Velho Mundo.
O principal instrumento dessa ideologia é a ideia de um Banco Central independente, que estaria acima da pressão de governos – especialmente aqueles que cometem o pecado de preocupar-se com o bem-estar dos eleitores e por isso são chamados de “populistas”, sempre em tom de desprezo.
(Para quem não acompanha o debate, sugiro a leitura de “A Razão Populista”, de Ernesto Laclau, cientista político argentino que ilumina incompreensões, desvios e preconceitos manipulados por vários críticos – à direita e à esquerda – dos políticos “populistas”).
Mario Monti era a encarnação desse sistema, que avançou mais na Europa do que em outras partes do mundo por uma questão prática. Enquanto no resto do mundo o Banco Central responde a um determinado governo – muitas vezes eleito democraticamente –, no Velho Mundo vive-se uma situação especial. O Banco Central é mesmo “independente” dos eleitores. Escolhido por todos os governos, não presta contas a ninguém – tornando-se um alvo fácil dos mercados.
Não tem compromisso com o futuro das famílias comuns nem com o emprego da juventude.
Sua base social é vaporosa, pulverizada. Não responde a ninguém. Por isso todos os governos europeus caem como dominó, mas a política do BCE continua a mesma.
Monti era fruto dessa aberração política. Quando ficou claro que o bunga bunga Silvio Berlusconi não iria cumprir as ordens de Ângela Merkel, foi trocado como um executivo é demitido quando se mostra incapaz de cumprir ordens de seus acionistas. Graças a essa medida, o próprio Berlusconi poupou-se de um desgaste maior e pode retornar em posição de triunfo – só não foi o primeiro colocado por uma diferença de centésimos.
O novo impasse político italiano tem peculiaridades, mas é idêntico ao dos países vizinhos. Incapazes de colocar suas instituições políticas a serviço da maioria, que não abre mão do crescimento, do emprego e da defesa de suas garantias, os sucessivos governos europeus estão condenados a cair em velocidade cada vez maior. O escândalo de corrupção que já atinge o PP espanhol, com um mandato recém-saído das urnas, é apenas um sintoma deste enfraquecimento político.
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