Por Miguel do Rosário, no blog O Cafezinho:
Enquanto o Brasil ainda vibrava, quase inconsciente de si mesmo, nas festas alucinadas de seu carnaval, um novo fato político dominou um noticiário carente de novidades. A candidatura de Eduardo Campos, antes apenas uma hipótese nos cálculos eleitorais para 2014, tornara-se uma certeza, uma determinação partidária.
Poder-se-ia afirmar também, sem desmerecer a decisão do PSB, ou mesmo o valor de Campos, que houve uma decisão midiática. O Globo, por exemplo, iniciou uma minicampanha bastante astuciosa, há alguns dias. Primeiro, atiçou os brios socialistas com notinhas, na maioria das vezes apócrifa, baseada em fontes anônimas, de que Lula articulava a candidatura de Campos para vice-presidente; em seguida, deu espaço para o PSB se “defender”.
Por fim, a principal cartada do PSB veio no dia 10, em pleno domingo de carnaval:
A declaração de Campos caiu como uma bomba sobre as hostes governistas, embora fosse previsível. Ela consolida a estratégia socialista de usar o antipetismo midiático para se lançar nacionalmente. Sim, porque o ataque ao PMDB é apenas uma forma de lesar indiretamente o PT.
Não é uma estratégia exatamente nova. Ciro Gomes a usou muito enquanto foi candidato. Os petardos antipetistas lhe granjeavam enorme destaque na imprensa nacional. Mas Ciro também batia, de forma ainda mais pesada e contundente, na mídia, no PSDB e em José Serra.
Campos é mais esperto, uma qualidade que, em excesso, pode virar o pior dos defeitos. Sobretudo porque as forças de oposição à direita, desesperadas com a falta de perspectiva de poder, tendem a se pendurar em qualquer um que lhes ofereça um pouco de oxigênio. A esperteza se converte então em oportunismo e hipocrisia, como se constata na coluna de hoje de Merval Pereira:
A lealdade do partido de Campos sempre foi mais a Lula que ao PT, e atualmente a discordância vai desde a gestão pública até a política de alianças, que o PSB considera muito pragmática e pouco representativa de um governo que se quer de centro-esquerda.
Ora, as alianças do PT são merecedoras de todas as críticas, embora todos admitam que são necessárias à famigerada governabilidade. Mas o PSB é um aliancista ainda mais radical que o PT, estabelecendo alianças com PSDB, DEM e PMDB em todo país. De maneira que, partindo do PSB, a crítica ao pragmatismo na política de alianças do PT soa como um lamentável farisaísmo. Não esqueçamos, todavia, que a frase não é do PSB e sim de Merval, um mitônomo contumaz, especializado em transferir suas próprias opiniões para a boca de outros.
Seja como for, um outro fato se impôs ao cenário político pós-carnavalesco. As máscaras de Joaquim Barbosa, anunciadas pela grande mídia, como o produto que seria mais vendido no feriado, registrou um mico absoluto. Mais uma vez, os comerciantes que tomaram decisões com base em matérias de jornal, se lascaram. Da mesma forma, Campos poderá cometer um erro terrível se basear sua estratégia eleitoral numa aliança com uma mídia que, embora ainda muito influente nos estratos sociais superiores, não tem força junto à maioria da população.
Mas talvez tudo isso esteja nos cálculos de Campos. Ganhar o voto de uma classe média hostil ao PT, em virtude dos escândalos e de seu próprio perfil conservador, mas que também guarda péssimas lembranças da era tucana.
Com relação a conjuntura, alguns aecistas acreditam que o maior número de candidatos beneficiará a oposição, porque dificultará uma vitória de Dilma Rousseff no primeiro turno. De fato. Apesar de Marina Silva e Eduardo Campos tirarem votos do PSDB, eles também tiram do PT, aumentando as chances da eleição ser decidida apenas ao final de outubro.
A própria oposição, contudo, que tem como um de seus porta-vozes o colunista Merval Pereira, admite que, nessas circunstâncias, o PSDB pode nem ir para o segundo turno. Merval admite que será mais fácil derrotar o PT a partir de uma chapa, montada no segundo turno, encabeçada por Marina ou Campos, do que liderada pelo PSDB.
Caso Marina ou Eduardo Campos cheguem a um segundo turno contra o PT, será mais fácil viabilizar uma aliança vitoriosa saída da base governista, com o apoio dos partidos hoje na oposição. Mas se se repetir a hegemonia do PSDB entre o eleitorado de oposição, mais uma vez será difícil vencer a eleição se não houver um grande acordo entre os derrotados do primeiro turno.
Todos esses cálculos, de qualquer forma, esquecem o fator principal: combinar com os russos. O poder da caneta presidencial faz milagres. Pode até mesmo fazer Campos desistir de sua candidatura, em prol de mais espaço no governo para o PSB. Ou – o que eu acho mais provável – pode transformar Campos numa candidatura não de oposição mas de apoio a Dilma. Essa seria a opção mais inteligente, além de ser bem menos arriscada. Se vier como um candidato de oposição, Campos periga perder eleição como um grande derrotado não somente em 2014, mas também em 2018. Se vier como um candidato “amigo” poderá contribuir para enriquecer o debate eleitoral e pode perder “ganhando”, ou seja, ampliando o espaço de seu partido no governo federal, além de aumentar seu cacife para 2018.
Poder-se-ia afirmar também, sem desmerecer a decisão do PSB, ou mesmo o valor de Campos, que houve uma decisão midiática. O Globo, por exemplo, iniciou uma minicampanha bastante astuciosa, há alguns dias. Primeiro, atiçou os brios socialistas com notinhas, na maioria das vezes apócrifa, baseada em fontes anônimas, de que Lula articulava a candidatura de Campos para vice-presidente; em seguida, deu espaço para o PSB se “defender”.
Por fim, a principal cartada do PSB veio no dia 10, em pleno domingo de carnaval:
A declaração de Campos caiu como uma bomba sobre as hostes governistas, embora fosse previsível. Ela consolida a estratégia socialista de usar o antipetismo midiático para se lançar nacionalmente. Sim, porque o ataque ao PMDB é apenas uma forma de lesar indiretamente o PT.
Não é uma estratégia exatamente nova. Ciro Gomes a usou muito enquanto foi candidato. Os petardos antipetistas lhe granjeavam enorme destaque na imprensa nacional. Mas Ciro também batia, de forma ainda mais pesada e contundente, na mídia, no PSDB e em José Serra.
Campos é mais esperto, uma qualidade que, em excesso, pode virar o pior dos defeitos. Sobretudo porque as forças de oposição à direita, desesperadas com a falta de perspectiva de poder, tendem a se pendurar em qualquer um que lhes ofereça um pouco de oxigênio. A esperteza se converte então em oportunismo e hipocrisia, como se constata na coluna de hoje de Merval Pereira:
A lealdade do partido de Campos sempre foi mais a Lula que ao PT, e atualmente a discordância vai desde a gestão pública até a política de alianças, que o PSB considera muito pragmática e pouco representativa de um governo que se quer de centro-esquerda.
Ora, as alianças do PT são merecedoras de todas as críticas, embora todos admitam que são necessárias à famigerada governabilidade. Mas o PSB é um aliancista ainda mais radical que o PT, estabelecendo alianças com PSDB, DEM e PMDB em todo país. De maneira que, partindo do PSB, a crítica ao pragmatismo na política de alianças do PT soa como um lamentável farisaísmo. Não esqueçamos, todavia, que a frase não é do PSB e sim de Merval, um mitônomo contumaz, especializado em transferir suas próprias opiniões para a boca de outros.
Seja como for, um outro fato se impôs ao cenário político pós-carnavalesco. As máscaras de Joaquim Barbosa, anunciadas pela grande mídia, como o produto que seria mais vendido no feriado, registrou um mico absoluto. Mais uma vez, os comerciantes que tomaram decisões com base em matérias de jornal, se lascaram. Da mesma forma, Campos poderá cometer um erro terrível se basear sua estratégia eleitoral numa aliança com uma mídia que, embora ainda muito influente nos estratos sociais superiores, não tem força junto à maioria da população.
Mas talvez tudo isso esteja nos cálculos de Campos. Ganhar o voto de uma classe média hostil ao PT, em virtude dos escândalos e de seu próprio perfil conservador, mas que também guarda péssimas lembranças da era tucana.
Com relação a conjuntura, alguns aecistas acreditam que o maior número de candidatos beneficiará a oposição, porque dificultará uma vitória de Dilma Rousseff no primeiro turno. De fato. Apesar de Marina Silva e Eduardo Campos tirarem votos do PSDB, eles também tiram do PT, aumentando as chances da eleição ser decidida apenas ao final de outubro.
A própria oposição, contudo, que tem como um de seus porta-vozes o colunista Merval Pereira, admite que, nessas circunstâncias, o PSDB pode nem ir para o segundo turno. Merval admite que será mais fácil derrotar o PT a partir de uma chapa, montada no segundo turno, encabeçada por Marina ou Campos, do que liderada pelo PSDB.
Caso Marina ou Eduardo Campos cheguem a um segundo turno contra o PT, será mais fácil viabilizar uma aliança vitoriosa saída da base governista, com o apoio dos partidos hoje na oposição. Mas se se repetir a hegemonia do PSDB entre o eleitorado de oposição, mais uma vez será difícil vencer a eleição se não houver um grande acordo entre os derrotados do primeiro turno.
Todos esses cálculos, de qualquer forma, esquecem o fator principal: combinar com os russos. O poder da caneta presidencial faz milagres. Pode até mesmo fazer Campos desistir de sua candidatura, em prol de mais espaço no governo para o PSB. Ou – o que eu acho mais provável – pode transformar Campos numa candidatura não de oposição mas de apoio a Dilma. Essa seria a opção mais inteligente, além de ser bem menos arriscada. Se vier como um candidato de oposição, Campos periga perder eleição como um grande derrotado não somente em 2014, mas também em 2018. Se vier como um candidato “amigo” poderá contribuir para enriquecer o debate eleitoral e pode perder “ganhando”, ou seja, ampliando o espaço de seu partido no governo federal, além de aumentar seu cacife para 2018.
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