Fernando Frazão/ABr |
O refluxo das manifestações de rua nos primeiros dias de julho (no domingo, apenas 20 manifestantes apareceram para protestar em frente ao prédio onde mora o governador carioca Sergio Cabral) e o fim dos bloqueios dos caminhoneiros podem dar a falsa impressão de que, após a ressaca cívica, nós e o governo teremos alguma calmaria no mar revolto neste mês de férias de inverno.
Não contem com isso. Uma rápida olhada no calendário político indica que vem aí mais uma semana quente nos gabinetes e nas ruas. O principal evento está marcado para quinta-feira: é o "Dia Nacional de Lutas", com greves e passeatas, organizado pelas principais centrais do país, mas elas já não estão se entendendo e a temperatura pode subir.
Para se ter uma ideia do clima, o deputado federal Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), líder da Força Sindical, está em guerra com a CUT, ligada ao PT, por conta das bandeiras que serão levadas às manifestações. Paulinho não aceita que o PT aproveite a chamada da greve geral para defender a constituinte exclusiva e o plebiscito para fazer a reforma política. Quer se limitar à reivindicação da jornada de 40 horas semanais e a derrubada do fator previdenciário.
Se o PT e a CUT insistirem, a Força Sindical ameaça levar cartazes de "Fora Dilma" para as manifestações. Paulinho, que há tempos vem se estranhando com o governo federal, não esconde seu objetivo: ""Nosso objetivo é empurrá-la para o buraco". Pelo que se vê e ouve nos corredores do Congresso Nacional e nas reuniões de partidos teoricamente aliados, ele não é o único.
Este é apenas um exemplo de como andam conflagradas as relações no movimento social, que sempre apoiou os governos petistas, e poderia compensar as dificuldades enfrentadas pela presidente Dilma Rousseff no Congresso Nacional. Até os índios já declararam guerra: na semana passada, caciques da etnia mundurucu entraram no STJ com uma ação criminal contra Gilberto Carvalho, da Secretaria Geral, justamente o ministro encarregado de fazer a ponte do governo com os movimentos sociais.
Mesmo a chamada "agenda positiva" construída pelo governo, como o programa "Mais Médicos", que prevê a importação de profissionais, previsto para ser lançado na tarde desta segunda-feira no Palácio do Planalto, vem sendo bombardeado pelas entidades de classe, que pedem melhores condições de trabalho para os brasileiros.
O anúncio de mais R$ 7 bilhões em recursos para a saúde foi programado para a véspera da "Marcha dos Prefeitos" marcada para amanhã, numa tentativa de acalmar também esta área que no ano passado vaiou a presidente Dilma no mesmo evento em Brasília. A presidente chegou a discutir com seus assessores se deveria ou não ir ao encontro em que apresentará aos prefeitos o plano para a fixação de 10 mil médicos brasileiros e estrangeiros em cidades do interior. O mais provável é que Dilma vá, pois esta é uma tradição mantida desde o primeiro ano do governo de Lula.
Cercada de problemas por todos os lados, a presidente resiste a trocar a equipe econômica, mas já dá sinais de que poderá mexer na articulação política. A ministra Ideli Salvatti, que chegou a chorar numa reunião do PT na semana passada e pensou em pedir demissão do cargo, poderá fazê-lo esta semana, se as coisas se acalmarem um pouco, o que parece difícil nesta altura do campeonato.
Engana-se, porém, quem imagina que Dilma possa entregar os pontos: "Não pensem que eu estou acuada. Vou para cima e vou disputar o nosso legado", garante Dilma, segundo frase reproduzida hoje na abertura da coluna de Ricardo Noblat, em "O Globo".
1 comentários:
"Não pensem que eu estou acuada. Vou para cima e vou disputar o nosso legado". É exatamente isso que todos nós esperamos. E que a presidenta saiba que nós também espetamos dispostos a ir para cima visto que o legado é nosso.
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