À medida que os Estados Unidos se deparam com a crescente oposição à sua nova empreitada imperialista, a promoção histérica de uma intervenção militar pintada de “humanitária” contra a Síria, as opções diplomáticas continuam sobre a mesa.
Nesta semana, a Rússia apresentou uma proposta à Síria para a entrega do seu arsenal químico à supervisão internacional. O governo do presidente Bashar al-Assad aceitou o plano, uma medida que muitos consideram não ter sido prevista pelos EUA. E os argumentos pela intervenção evidenciam-se como falhos.
A Rússia e a China vêm se opondo incisivamente contra a intervenção militar, a ingerência e a violação da soberania síria, e esta pode ser a razão pela qual o recurso à força não ganhou adeptos em número suficiente. Não se trata apenas de ambos os países terem poder de veto no Conselho de Segurança (que, em teoria, deve ser consultado e aprovar a opção para que haja qualquer intervenção), mas principalmente porque outra agressão ilegítima talvez pese demais na conta norte-americana.
A expressiva falta de apoio, seja nas ruas, nas organizações internacionais ou nas instituições políticas domésticas dos EUA, é também evidenciada à medida que a retórica intervencionista se enfraquece. Embora a mídia tradicional internacional mantenha seu clamor pela intervenção, as manifestações populares têm tomado força, o que condiciona o apoio político interno, sobretudo nos EUA.
No Reino Unido, o premiê David Cameron levou um balde de água fria, com a votação dos parlamentares que rejeitaram a participação do país em uma intervenção. Nos EUA, os congressistas de ambos os partidos expressivos, Republicano e Democrata, ameaçaram Obama com a palavra “inconstitucional”, caso ele tomasse a decisão autocrática de desatar uma ação militar sem o consentimento do Congresso. Em resposta a esta falta de apoio doméstico e internacional (com uma opção pela continuação das negociações), o presidente Obama foi forçado a declarar para a nação que “suspenderá” a intervenção militar a favor da proposta russa, não sem explicar que a “humanitária” opção do Estado policial do mundo (ou seja, a agressão) continua sendo uma possibilidade.
Neste sentido, a proposta russa, que recebeu amplo apoio internacional, a partir do consentimento sírio, pode ser interpretada também como uma salvação para os EUA, que após rufar incessantemente os tambores da guerra, se viram berrando praticamente sozinhos, ou melhor, acompanhados pela França, que se vê quase manca. Em contexto global, a mudança de perspectiva pode ser favorável à Rússia, que tem a oportunidade de expressar um papel de liderança diplomática e assertiva na questão da soberania, ao contrário da imposição bruta da “potência” estadunidense.
Nem mesmo a máquina de guerra que é a Organização para o Tratado do Atlântico Norte (Otan) respondeu positivamente à nova aventura imperialista. O seu secretário-geral, Anders Fogh Rasmussen, chegou a dizer que não via a organização envolvida em uma intervenção militar sem o consentimento do Conselho de Segurança (CS), como vinha propagandeando o Reino Unido, há duas semanas. Segundo o premiê britânico, que participa no empenho por institucionalizar a violação do direito internacional, o CS não é “o único” foro onde a questão poderia ser debatida. Mas Cameron acabou, felizmente, sendo removido de cena por seus próprios conterrâneos.
Desde o começo, o governo da Síria demonstra-se comprometido com um diálogo político nacional, e até mesmo aceitou que ele fosse realizado em âmbito internacional (proposta também feita pela Rússia, em parceria com os EUA), como a solução para o conflito armado de dois anos e meio. Mas o apoio estrangeiro, bélico e financeiro, sobretudo, mas principalmente político, dado aos “grupos da oposição”, que incluem também mercenários a soldo do imperialismo, deu a estes a sensação de que têm maior legitimidade ou poder em suas investidas contra o governo sírio. Comprova-se, constantemente, a responsabilidade das “potências” ocidentais (e de vizinhos aliados a elas) pela devastação, a desestruturação e o sofrimento extremo dos civis sírios.
Resta esperar o desenvolvimento e o debate da proposta russa, no âmbito do Conselho de Segurança e em negociações bilaterais com os EUA, para se entender aonde a opção pela diplomacia ou o empenho pela agressão levará a Síria e, certamente, toda a região adjacente, neste que é visto pelos Estados Unidos como mais um jogo geoestratégico de influências.
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