Por Paulo Moreira Leite, em seu blog:
O acordo Marina Silva-Eduardo Campos continua no centro das análises políticas e vai seguir assim por vários meses. Representa, na prática, uma tentativa de formar uma chapa competitiva para enfrentar Dilma Rousseff, até hoje com 38% das intenções de voto, contra 32% da soma dos adversários. Ninguém sabe o que vai acontecer com essa aliança. Ninguém imaginava uma operação dessas há uma semana. É possível avaliar alguns pontos:
1. A primeira constatação é obvia, mas necessária. Além de Dilma, eleita com a mão de Lula, são dois ex-ministros de seu governo que se uniram para disputar seu legado em 2014. Para quem passou os últimos anos falando no fim do “lulismo”, é a oportunidade de uma autocrítica. Mesmo fora do PT, mesmo no campo adversário do governo que Lula ajudou a eleger, é a sua herança que se disputa e projeta como a grande presença na política brasileira em 2014 e quem sabe nos próximos anos. Quem gosta de comparações históricas irá encontrar poucos exemplos parecidos.
2. A grande pergunta de hoje é saber se Marina Silva tem liderança a ponto de transferir todos os seus votos para quem escolheu. Lula escolheu Dilma em 2010 e foi capaz de fazer dela a nova presidente da República. Mas Marina não é Lula. Além disso, Lula e Dilma têm a mesma história, vinham do mesmo partido e partilhavam o mesmo governo. Era possível dizer que esse apoio representava uma continuidade política. Não se pode dizer a mesma coisa sobre Marina e Eduardo Campos. Até outro dia eram adversários. E estariam concorrendo em caminhos paralelos até o primeiro turno se Marina tivesse conseguido legalizar a rede. Seus eleitores sabem disso. Se Eduardo Campos não se mostrar um concorrente competitivo, a base de Marina irá aceitar passivamente uma situação secundária?
3. Embora apresentado como pacto programático, por enquanto os dois firmaram um acordo pragmático. Estão unidos pela vontade de derrotar Lula-Dilma de qualquer maneira, opção menos evidente em Eduardo Campos, mas escancarada pela linguagem de oposição venezuelana de Marina Silva. Falta chegar a acordos importantes, porém. O governador de Pernambuco tem uma história desenvolvimentista, que, deixando de lado lendas infanto-juvenis, é diferente e até oposta a todo programa de sustentabilidade conhecido. Enquanto Marina Silva é adversária de usinas hidroelétricas, o PSB tem lideranças a favor de pesquisas nucleares. Eduardo Campos é aliado do agronegócio, enquanto Marina é adversária. A história política do país está repleta de acordos entre contrários. A questão é conseguir fazer pactos dessa natureza sem perder a credibilidade junto aos próprios eleitores.
4. Acho provável que ocorram algumas mudanças nas pesquisas, que terão efeitos políticos importantes. Nos primeiros levantamentos, Dilma deve ficar com uma vantagem maior. É matemática. Sem a concorrente mais votada, o bolo de votos disponíveis será redividido entre os candidatos que restaram. A pergunta política envolve o que irá acontecer nas próximas semanas e meses. Eduardo deve ficar em segundo? Parece possível, mas não se vê como poderá fazer isso sem superar um problema que já derrubou muitos candidatos que pareciam imbatíveis – o tempo de propaganda na TV.
5. O destino de Eduardo Campos irá depender não só de Marina, mas também de Aécio Neves. Aliado no bloco oposicionista, o candidato do PSDB é o alvo a abater por Eduardo Campos-Marina. Ou Aécio assume uma vantagem confortável entre os oposicionistas, o que parece muito mais complicado de ocorrer, agora. Ou terá de sair da frente para a dupla subir. Isso só será possível com um acordo pelo alto, envolvendo mudanças e benefícios, o que não é fácil entre os tucanos. O sucesso de Campos-Marina pode levar Aécio a se interessar em disputar o governo de Minas, onde o PT pode se transformar numa ameaça real pela primeira vez. Em qualquer caso, a possibilidade de ficar fora do segundo turno, pela primeira vez desde 1994, seria uma difícil posição para o PSDB.
O acordo Marina Silva-Eduardo Campos continua no centro das análises políticas e vai seguir assim por vários meses. Representa, na prática, uma tentativa de formar uma chapa competitiva para enfrentar Dilma Rousseff, até hoje com 38% das intenções de voto, contra 32% da soma dos adversários. Ninguém sabe o que vai acontecer com essa aliança. Ninguém imaginava uma operação dessas há uma semana. É possível avaliar alguns pontos:
1. A primeira constatação é obvia, mas necessária. Além de Dilma, eleita com a mão de Lula, são dois ex-ministros de seu governo que se uniram para disputar seu legado em 2014. Para quem passou os últimos anos falando no fim do “lulismo”, é a oportunidade de uma autocrítica. Mesmo fora do PT, mesmo no campo adversário do governo que Lula ajudou a eleger, é a sua herança que se disputa e projeta como a grande presença na política brasileira em 2014 e quem sabe nos próximos anos. Quem gosta de comparações históricas irá encontrar poucos exemplos parecidos.
2. A grande pergunta de hoje é saber se Marina Silva tem liderança a ponto de transferir todos os seus votos para quem escolheu. Lula escolheu Dilma em 2010 e foi capaz de fazer dela a nova presidente da República. Mas Marina não é Lula. Além disso, Lula e Dilma têm a mesma história, vinham do mesmo partido e partilhavam o mesmo governo. Era possível dizer que esse apoio representava uma continuidade política. Não se pode dizer a mesma coisa sobre Marina e Eduardo Campos. Até outro dia eram adversários. E estariam concorrendo em caminhos paralelos até o primeiro turno se Marina tivesse conseguido legalizar a rede. Seus eleitores sabem disso. Se Eduardo Campos não se mostrar um concorrente competitivo, a base de Marina irá aceitar passivamente uma situação secundária?
3. Embora apresentado como pacto programático, por enquanto os dois firmaram um acordo pragmático. Estão unidos pela vontade de derrotar Lula-Dilma de qualquer maneira, opção menos evidente em Eduardo Campos, mas escancarada pela linguagem de oposição venezuelana de Marina Silva. Falta chegar a acordos importantes, porém. O governador de Pernambuco tem uma história desenvolvimentista, que, deixando de lado lendas infanto-juvenis, é diferente e até oposta a todo programa de sustentabilidade conhecido. Enquanto Marina Silva é adversária de usinas hidroelétricas, o PSB tem lideranças a favor de pesquisas nucleares. Eduardo Campos é aliado do agronegócio, enquanto Marina é adversária. A história política do país está repleta de acordos entre contrários. A questão é conseguir fazer pactos dessa natureza sem perder a credibilidade junto aos próprios eleitores.
4. Acho provável que ocorram algumas mudanças nas pesquisas, que terão efeitos políticos importantes. Nos primeiros levantamentos, Dilma deve ficar com uma vantagem maior. É matemática. Sem a concorrente mais votada, o bolo de votos disponíveis será redividido entre os candidatos que restaram. A pergunta política envolve o que irá acontecer nas próximas semanas e meses. Eduardo deve ficar em segundo? Parece possível, mas não se vê como poderá fazer isso sem superar um problema que já derrubou muitos candidatos que pareciam imbatíveis – o tempo de propaganda na TV.
5. O destino de Eduardo Campos irá depender não só de Marina, mas também de Aécio Neves. Aliado no bloco oposicionista, o candidato do PSDB é o alvo a abater por Eduardo Campos-Marina. Ou Aécio assume uma vantagem confortável entre os oposicionistas, o que parece muito mais complicado de ocorrer, agora. Ou terá de sair da frente para a dupla subir. Isso só será possível com um acordo pelo alto, envolvendo mudanças e benefícios, o que não é fácil entre os tucanos. O sucesso de Campos-Marina pode levar Aécio a se interessar em disputar o governo de Minas, onde o PT pode se transformar numa ameaça real pela primeira vez. Em qualquer caso, a possibilidade de ficar fora do segundo turno, pela primeira vez desde 1994, seria uma difícil posição para o PSDB.
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