Por Altamiro Borges
Por último, na análise do contexto mundial, vale destacar o papel jogado pela América Latina. Somos brasileiros e latino-americanos. O que ocorre no continente tem forte impacto sobre as lutas dos trabalhadores no Brasil. Neste sentido, o quadro atual é altamente positivo. A região sempre foi considerada um “quintal dos EUA”, sem autonomia e independência para enfrentar os seus graves problemas econômicos, sociais e políticos. Nos últimos anos, porém, houve uma sensível reversão neste cenário.
A partir da eleição de Hugo Chávez na Venezuela, em novembro de 1998, ocorreu uma guinada à esquerda na América Latina. Governantes subservientes aos EUA, como o de FHC no Brasil, foram derrotados um a um nas urnas – no Uruguai, Argentina, Paraguai, Bolívia, Equador, El Salvador, Nicarágua, entre outros países da região. Os novos governantes oriundos das lutas contra o projeto destrutivo e regressivo do neoliberalismo foram adotando, cada qual com o seu ritmo próprio e com base na correlação de forças local, programas mais voltados às demandas da sociedade.
Em curto espaço de tempo, os índices de miséria e de desigualdade social foram caindo no continente, como atestam os relatórios anuais da Cepal (Comissão Econômica para a América Latina). Enquanto o desemprego bate recordes nos chamados países desenvolvidos, o inverso acontece nos países latino-americanos dirigidos por forças anti-neoliberais. Como forma de resistir ao processo de desintegração imposto pelo império do norte, as nações do sul também reforçam a integração regional – com a ampliação do Mercosul, a criação da Unasul e da Celac e a construção da Alba. Comparado ao triste período de FHC, Menem, Fujimori e de outros entreguistas, quando a região foi o laboratório do neoliberalismo, hoje ela ocupa a vanguarda na luta pela superação deste modelo destrutivo e regressivo.
Apesar destes avanços, a situação na América Latina não é de paz e tranquilidade. Há ainda muitas vulnerabilidades e limitações, com estados nacionais frágeis, economias pouco desenvolvidas, elevados índices de pobreza e débil organização dos movimentos populares. Em alguns países, como Venezuela, Bolívia e Equador, os governos foram mais ousados no enfrentamento da herança maldita do neoliberalismo. Em outros, como no Brasil, os passos são mais lentos, predominando a via da conciliação. As causas estruturais da desigualdade não são abordadas. Vinga a tese de que é possível fazer omelete sem quebrar ovos, de que a justiça social será implantada sem maiores rupturas e politização da sociedade.
Além destas dificuldades internas, existem os obstáculos externos. Os EUA não desistiram do seu “quintal”. O império faz de tudo para desestabilizar e derrotar estas novas experiências progressistas e para sabotar a integração soberana da região. Alia-se às forças mais reacionárias destas nações para abortar mudanças mais profundas. No último período, o governo nacionalista de Manuel Zelaya, em Honduras, foi deposto por um golpe liderado por generais formados nos EUA; já no Paraguai, o presidente Fernando Lugo, seguidor da Teologia da Libertação, foi derrubado por um “impeachment sumário” imposto pelo oligárquico Partido Colorado.
Em outras nações do continente a situação também está tensa, com riscos de retrocessos – como na Argentina. Além da sabotagem política, os EUA tentam asfixiar as economias soberanas da região. Derrotados na proposta neoliberal da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), o império agora patrocina a chamada Aliança do Pacífico, que reúne México, Chile e Colômbia e tem como objetivo maior isolar os países que integram o Mercosul e Unasul. A América Latina avançou no período recente, mas a situação ainda é de incertezas.
Diante deste conturbado cenário mundial, quais são os desafios do sindicalismo brasileiro? Em primeiro lugar é urgente reforçar a integração das lutas dos trabalhadores latino-americanos, investindo em espaços de unidade dos movimentos sociais – como o Encontro Sindical Nossa América (ESNA) e o Fórum Social Mundial (FSM). Através desta e de outras iniciativas unitárias é possível definir calendários de ação conjunta em solidariedade aos povos e contra qualquer retrocesso na região.
Algumas batalhas são urgentes, como no apoio ao processo de paz na Colômbia, pela libertação dos heróis cubanos aprisionados nos EUA, contra o bloqueio econômico a Cuba e pelo fim das bases militares ianques no continente, entre outras. Também é preciso intensificar a pressão para que os organismos de integração regional, como o Mercosul e a Unasul, adotem políticas de geração de emprego e renda e não se limitem apenas aos aspectos comerciais. Os projetos de desenvolvimento econômico não podem prescindir a bandeira da valorização do trabalho. O sindicalismo brasileiro e latino-americano também necessita reforçar a solidariedade aos trabalhadores e à juventude em luta no mundo inteiro. Questão decisiva no momento é a luta pela paz, contra as ameaças e agressões imperialistas na Síria, Líbia e Irã.
* Texto elaborado para o congresso do Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente de São Paulo (Sintaema).
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Leia também:
- A crise capitalista e os trabalhadores [1]
- A crise capitalista e os trabalhadores [2]
Por último, na análise do contexto mundial, vale destacar o papel jogado pela América Latina. Somos brasileiros e latino-americanos. O que ocorre no continente tem forte impacto sobre as lutas dos trabalhadores no Brasil. Neste sentido, o quadro atual é altamente positivo. A região sempre foi considerada um “quintal dos EUA”, sem autonomia e independência para enfrentar os seus graves problemas econômicos, sociais e políticos. Nos últimos anos, porém, houve uma sensível reversão neste cenário.
A partir da eleição de Hugo Chávez na Venezuela, em novembro de 1998, ocorreu uma guinada à esquerda na América Latina. Governantes subservientes aos EUA, como o de FHC no Brasil, foram derrotados um a um nas urnas – no Uruguai, Argentina, Paraguai, Bolívia, Equador, El Salvador, Nicarágua, entre outros países da região. Os novos governantes oriundos das lutas contra o projeto destrutivo e regressivo do neoliberalismo foram adotando, cada qual com o seu ritmo próprio e com base na correlação de forças local, programas mais voltados às demandas da sociedade.
Em curto espaço de tempo, os índices de miséria e de desigualdade social foram caindo no continente, como atestam os relatórios anuais da Cepal (Comissão Econômica para a América Latina). Enquanto o desemprego bate recordes nos chamados países desenvolvidos, o inverso acontece nos países latino-americanos dirigidos por forças anti-neoliberais. Como forma de resistir ao processo de desintegração imposto pelo império do norte, as nações do sul também reforçam a integração regional – com a ampliação do Mercosul, a criação da Unasul e da Celac e a construção da Alba. Comparado ao triste período de FHC, Menem, Fujimori e de outros entreguistas, quando a região foi o laboratório do neoliberalismo, hoje ela ocupa a vanguarda na luta pela superação deste modelo destrutivo e regressivo.
Apesar destes avanços, a situação na América Latina não é de paz e tranquilidade. Há ainda muitas vulnerabilidades e limitações, com estados nacionais frágeis, economias pouco desenvolvidas, elevados índices de pobreza e débil organização dos movimentos populares. Em alguns países, como Venezuela, Bolívia e Equador, os governos foram mais ousados no enfrentamento da herança maldita do neoliberalismo. Em outros, como no Brasil, os passos são mais lentos, predominando a via da conciliação. As causas estruturais da desigualdade não são abordadas. Vinga a tese de que é possível fazer omelete sem quebrar ovos, de que a justiça social será implantada sem maiores rupturas e politização da sociedade.
Além destas dificuldades internas, existem os obstáculos externos. Os EUA não desistiram do seu “quintal”. O império faz de tudo para desestabilizar e derrotar estas novas experiências progressistas e para sabotar a integração soberana da região. Alia-se às forças mais reacionárias destas nações para abortar mudanças mais profundas. No último período, o governo nacionalista de Manuel Zelaya, em Honduras, foi deposto por um golpe liderado por generais formados nos EUA; já no Paraguai, o presidente Fernando Lugo, seguidor da Teologia da Libertação, foi derrubado por um “impeachment sumário” imposto pelo oligárquico Partido Colorado.
Em outras nações do continente a situação também está tensa, com riscos de retrocessos – como na Argentina. Além da sabotagem política, os EUA tentam asfixiar as economias soberanas da região. Derrotados na proposta neoliberal da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), o império agora patrocina a chamada Aliança do Pacífico, que reúne México, Chile e Colômbia e tem como objetivo maior isolar os países que integram o Mercosul e Unasul. A América Latina avançou no período recente, mas a situação ainda é de incertezas.
Diante deste conturbado cenário mundial, quais são os desafios do sindicalismo brasileiro? Em primeiro lugar é urgente reforçar a integração das lutas dos trabalhadores latino-americanos, investindo em espaços de unidade dos movimentos sociais – como o Encontro Sindical Nossa América (ESNA) e o Fórum Social Mundial (FSM). Através desta e de outras iniciativas unitárias é possível definir calendários de ação conjunta em solidariedade aos povos e contra qualquer retrocesso na região.
Algumas batalhas são urgentes, como no apoio ao processo de paz na Colômbia, pela libertação dos heróis cubanos aprisionados nos EUA, contra o bloqueio econômico a Cuba e pelo fim das bases militares ianques no continente, entre outras. Também é preciso intensificar a pressão para que os organismos de integração regional, como o Mercosul e a Unasul, adotem políticas de geração de emprego e renda e não se limitem apenas aos aspectos comerciais. Os projetos de desenvolvimento econômico não podem prescindir a bandeira da valorização do trabalho. O sindicalismo brasileiro e latino-americano também necessita reforçar a solidariedade aos trabalhadores e à juventude em luta no mundo inteiro. Questão decisiva no momento é a luta pela paz, contra as ameaças e agressões imperialistas na Síria, Líbia e Irã.
* Texto elaborado para o congresso do Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente de São Paulo (Sintaema).
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