Por Luciano Martins Costa, no Observatório da Imprensa:
Os três principais diários de circulação nacional produzem nas edições de terça-feira (25/3) o fenômeno das manchetes trigêmeas: “Agência rebaixa nota do Brasil”, dizem a Folha e o Globo. Com mínima variação, O Estado de S. Paulo anuncia: “Agência de risco rebaixa nota do Brasil”.
O tema é a esperada avaliação negativa da economia brasileira feita pela agência americana de classificação de risco Standard & Poors, a mesma que foi acusada de haver compactuado com as fraudes que levaram à crise financeira de 2008. O fato é uma variação, para baixo, da nota de crédito do país, que resulta de uma elevação teórica na percepção de risco para investidores.
Com a nova classificação, o Brasil foi rebaixado do nível “BBB” para “BBB-”, o que significa que continua no patamar da categoria chamada “grau de investimento”, selecionado entre os mais seguros do mundo como destino do mercado financeiro. O nível imediatamente abaixo seria o “grau especulativo”, que igualmente atrai investimentos, mas indica certa volatilidade da economia.
O detalhe que os jornais destacam, sem dissimular certo contentamento com a realização de uma profecia muitas vezes anunciada por eles mesmos, é o arrazoado produzido pela agência, que repete em muitos aspectos a opinião dos editoriais e dos principais articulistas dos grandes diários.
Trata-se, basicamente, de uma aposta negativa na capacidade do Brasil de manter em equilíbrio os fundamentos de sua economia, com crescimento razoável, tarifas públicas alinhadas aos custos e redução dos gastos públicos. A reação do governo, alegando que os dados utilizados pela agência para rebaixar a nota do Brasil são inconsistentes, foi praticamente ignorada pelos jornais.
Basicamente, as autoridades questionam algumas contradições na análise, como a avaliação negativa da capacidade de crescimento do país, feita justamente no período em que há uma retomada que surpreendeu o mercado. Além disso, a avaliação que a agência faz da evolução do investimento estrangeiro direto no Brasil contradiz o que a própria imprensa vem registrando nos últimos meses.
Noticiário contaminado
No patamar em que se encontra a economia brasileira desde 2008, quando obteve o status de grau de investimento, as notas de avaliação de risco não costumam afetar os grandes investidores, que se valem de estudos mais complexos para tomar suas decisões. No entanto, o noticiário intensamente negativo pode produzir um “efeito manada” de consequências graves, principalmente em período eleitoral, quando a racionalidade cede espaço para os interesses partidários, que costumam definir as escolhas da imprensa.
Observe-se, por exemplo, que nas edições de terça-feira sobre a decisão da agência Standard & Poors, os jornais compram pelo valor de face as justificativas para o rebaixamento da nota do Brasil, mas não confrontam esses dados com os indicadores correspondentes. Por exemplo, é fato que os investimentos estrangeiros diretos no Brasil caíram 3,9% em 2013, em comparação com o ano anterior, mas se mantêm em nível historicamente elevado, e o país segue sendo o principal destino desse dinheiro na América Latina.
A imprensa não costuma explicar aos seus leitores a diferença entre os principais tipos de investimento no mercado global, intensamente disputados pelos países em desenvolvimento.
Para países como o Brasil, o IED – Investimento Estrangeiro Direto – é a joia da coroa do capitalismo, porque representa dinheiro investido na construção de infraestrutura, de fábricas, na consolidação de atividades de empresas multinacionais, em fusões e aquisições. O outro tipo de aplicação, investimento em portfólio, é destinado à compra de ações e títulos.
As notas de avaliação de risco de agências como a Standard & Poors têm como foco principal justamente o investimento em portfólio, ou seja, tendem a contemplar o aspecto mais especulativo dos movimentos de capitais. Coincidentemente, esse é o ângulo mais percebido pela imprensa brasileira quando analisa a economia nacional. Trata-se de um ambiente extremamente volátil, cujas oscilações afetam principalmente o câmbio e o mercado de ações.
Sem essas observações complementares, o noticiário do dia se revela alarmista e contaminado pelo viés político.
Os três principais diários de circulação nacional produzem nas edições de terça-feira (25/3) o fenômeno das manchetes trigêmeas: “Agência rebaixa nota do Brasil”, dizem a Folha e o Globo. Com mínima variação, O Estado de S. Paulo anuncia: “Agência de risco rebaixa nota do Brasil”.
O tema é a esperada avaliação negativa da economia brasileira feita pela agência americana de classificação de risco Standard & Poors, a mesma que foi acusada de haver compactuado com as fraudes que levaram à crise financeira de 2008. O fato é uma variação, para baixo, da nota de crédito do país, que resulta de uma elevação teórica na percepção de risco para investidores.
Com a nova classificação, o Brasil foi rebaixado do nível “BBB” para “BBB-”, o que significa que continua no patamar da categoria chamada “grau de investimento”, selecionado entre os mais seguros do mundo como destino do mercado financeiro. O nível imediatamente abaixo seria o “grau especulativo”, que igualmente atrai investimentos, mas indica certa volatilidade da economia.
O detalhe que os jornais destacam, sem dissimular certo contentamento com a realização de uma profecia muitas vezes anunciada por eles mesmos, é o arrazoado produzido pela agência, que repete em muitos aspectos a opinião dos editoriais e dos principais articulistas dos grandes diários.
Trata-se, basicamente, de uma aposta negativa na capacidade do Brasil de manter em equilíbrio os fundamentos de sua economia, com crescimento razoável, tarifas públicas alinhadas aos custos e redução dos gastos públicos. A reação do governo, alegando que os dados utilizados pela agência para rebaixar a nota do Brasil são inconsistentes, foi praticamente ignorada pelos jornais.
Basicamente, as autoridades questionam algumas contradições na análise, como a avaliação negativa da capacidade de crescimento do país, feita justamente no período em que há uma retomada que surpreendeu o mercado. Além disso, a avaliação que a agência faz da evolução do investimento estrangeiro direto no Brasil contradiz o que a própria imprensa vem registrando nos últimos meses.
Noticiário contaminado
No patamar em que se encontra a economia brasileira desde 2008, quando obteve o status de grau de investimento, as notas de avaliação de risco não costumam afetar os grandes investidores, que se valem de estudos mais complexos para tomar suas decisões. No entanto, o noticiário intensamente negativo pode produzir um “efeito manada” de consequências graves, principalmente em período eleitoral, quando a racionalidade cede espaço para os interesses partidários, que costumam definir as escolhas da imprensa.
Observe-se, por exemplo, que nas edições de terça-feira sobre a decisão da agência Standard & Poors, os jornais compram pelo valor de face as justificativas para o rebaixamento da nota do Brasil, mas não confrontam esses dados com os indicadores correspondentes. Por exemplo, é fato que os investimentos estrangeiros diretos no Brasil caíram 3,9% em 2013, em comparação com o ano anterior, mas se mantêm em nível historicamente elevado, e o país segue sendo o principal destino desse dinheiro na América Latina.
A imprensa não costuma explicar aos seus leitores a diferença entre os principais tipos de investimento no mercado global, intensamente disputados pelos países em desenvolvimento.
Para países como o Brasil, o IED – Investimento Estrangeiro Direto – é a joia da coroa do capitalismo, porque representa dinheiro investido na construção de infraestrutura, de fábricas, na consolidação de atividades de empresas multinacionais, em fusões e aquisições. O outro tipo de aplicação, investimento em portfólio, é destinado à compra de ações e títulos.
As notas de avaliação de risco de agências como a Standard & Poors têm como foco principal justamente o investimento em portfólio, ou seja, tendem a contemplar o aspecto mais especulativo dos movimentos de capitais. Coincidentemente, esse é o ângulo mais percebido pela imprensa brasileira quando analisa a economia nacional. Trata-se de um ambiente extremamente volátil, cujas oscilações afetam principalmente o câmbio e o mercado de ações.
Sem essas observações complementares, o noticiário do dia se revela alarmista e contaminado pelo viés político.
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