Por Ricardo Kotscho, no blog Balaio do Kotscho:
Estão brincando com água, que é pior do que brincar com fogo. Fogo tem jeito de se apagar, mas a água, quando acaba, vai fazer o quê? Importar dos países vizinhos, rezar para chover, comprar de caminhão-tanque de outra cidade?
A cada dia são mais assustadoras as imagens das represas secando _ o Sistema Cantareira bateu nesta quarta-feira novo recorde negativo, chegando a 12,5% da sua capacidade _ , mas todo mundo finge que não vê o que está acontecendo, a começar pelo governador Geraldo Alckmin, que agora admite o racionamento, mas não já: "Nós não descartamos o rodízio (o novo nome do racionamento em tucanês). Vamos avaliar diariamente. No momento, não há necessidade", garantiu, com a maior calma do mundo.
O fato é que, se medidas urgentes não forem tomadas, daqui a pouco não vai sobrar água nem para fazer racionamento ou rodízio, como queiram. Não vai mais ter para ninguém. É melhor enfrentar a realidade e cada consumidor se sacrificar um pouco agora, ficando sem água por algumas horas do dia ou mesmo certos dias da semana, do que chegarmos ao ponto de ter que usar as reservas do "volume morto" do Cantareira, que já está preocupando os técnicos em biologia e toxicidade ouvidos pelo "Estadão".
"Quanto mais baixo o nível dos reservatórios, maior é a concentração de poluentes, recomendando maiores cuidados com seus múltiplos usos. Muitos dos poluentes que contaminam os rios apresentam potencialidade de alterar o material genético dos organismos expostos, até mesmo do homem e, consequentemente, desencadear problemas de saúde", alertam pesquisadoras da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e da Universidade Metodista de Piracicaba em relatório entregue ao Ministério Públicio Estadual, que abriu inquérito para investigar a crise hídrica do sistema responsável pelo abastecimento de 14,3 milhões de habitantes em São Paulo.
Com a mesma fleugma do governador, a estatal Sabesp admitiu pela primeira vez que o problema é sério no seu Relatório Anual de Sustentabilidade de 2013, publicado no final do mês passado e do qual tomamos conhecimento só ontem. Diz o documento: Se as chuvas não retornarem índices adequados e, consequentemente nos níveis dos reservatórios não forem restabelecidos, poderemos ser obrigados a tomar medidas como o rodízio da água".
O problema é que estamos entrando no período de estiagem e as previsões do tempo são muito animadoras para as próximas semanas. Com o trauma ainda vivo do racionamento de energia promovido pelo governo Fernando Henrique Cardoso em 2002, quando a sua avaliação caiu para nos níveis mais baixos, o governador tucano Geraldo Alckmin, candidato à reeleição, vai adiar ao máximo a adoção de medidas mais severas, que já tardam.
Por enquanto, com toda a fortuna que gasta em publicidade no país inteiro, a Sabesp limitou-se a oferecer um desconto na conta de água para quem consumir menos, mas já vimos que só isso não resolve. Não temos a cultura de economizar nada e continuamos vendo cidadãos (?) lavando carros e calçadas como se a água nunca fosse acabar.
Nestas horas, me lembro da temporada em que morei na Alemanha, nos anos 70, onde todos respeitavam religiosamente os racionamentos de água, que eram frequentes nos períodos de estiagem. As multas são pesadíssimas, mas raramente eram aplicadas porque os próprios vizinhos se encarregavam de cobrar os infratores. Aqui achamos que tudo deve ficar por conta do governo, mas moradores da Grande São Paulo já sofrem na pele as consequências do descaso com que o problema da água vem sendo tratado. Do centro da cidade ao Cupecê, na zona sul, casas e escolas já estão ficando com as torneiras secas sem aviso prévio.
É o que dá quando se subordina providências técnicas urgentes a interesses eleitorais permanentes.
Estão brincando com água, que é pior do que brincar com fogo. Fogo tem jeito de se apagar, mas a água, quando acaba, vai fazer o quê? Importar dos países vizinhos, rezar para chover, comprar de caminhão-tanque de outra cidade?
A cada dia são mais assustadoras as imagens das represas secando _ o Sistema Cantareira bateu nesta quarta-feira novo recorde negativo, chegando a 12,5% da sua capacidade _ , mas todo mundo finge que não vê o que está acontecendo, a começar pelo governador Geraldo Alckmin, que agora admite o racionamento, mas não já: "Nós não descartamos o rodízio (o novo nome do racionamento em tucanês). Vamos avaliar diariamente. No momento, não há necessidade", garantiu, com a maior calma do mundo.
O fato é que, se medidas urgentes não forem tomadas, daqui a pouco não vai sobrar água nem para fazer racionamento ou rodízio, como queiram. Não vai mais ter para ninguém. É melhor enfrentar a realidade e cada consumidor se sacrificar um pouco agora, ficando sem água por algumas horas do dia ou mesmo certos dias da semana, do que chegarmos ao ponto de ter que usar as reservas do "volume morto" do Cantareira, que já está preocupando os técnicos em biologia e toxicidade ouvidos pelo "Estadão".
"Quanto mais baixo o nível dos reservatórios, maior é a concentração de poluentes, recomendando maiores cuidados com seus múltiplos usos. Muitos dos poluentes que contaminam os rios apresentam potencialidade de alterar o material genético dos organismos expostos, até mesmo do homem e, consequentemente, desencadear problemas de saúde", alertam pesquisadoras da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e da Universidade Metodista de Piracicaba em relatório entregue ao Ministério Públicio Estadual, que abriu inquérito para investigar a crise hídrica do sistema responsável pelo abastecimento de 14,3 milhões de habitantes em São Paulo.
Com a mesma fleugma do governador, a estatal Sabesp admitiu pela primeira vez que o problema é sério no seu Relatório Anual de Sustentabilidade de 2013, publicado no final do mês passado e do qual tomamos conhecimento só ontem. Diz o documento: Se as chuvas não retornarem índices adequados e, consequentemente nos níveis dos reservatórios não forem restabelecidos, poderemos ser obrigados a tomar medidas como o rodízio da água".
O problema é que estamos entrando no período de estiagem e as previsões do tempo são muito animadoras para as próximas semanas. Com o trauma ainda vivo do racionamento de energia promovido pelo governo Fernando Henrique Cardoso em 2002, quando a sua avaliação caiu para nos níveis mais baixos, o governador tucano Geraldo Alckmin, candidato à reeleição, vai adiar ao máximo a adoção de medidas mais severas, que já tardam.
Por enquanto, com toda a fortuna que gasta em publicidade no país inteiro, a Sabesp limitou-se a oferecer um desconto na conta de água para quem consumir menos, mas já vimos que só isso não resolve. Não temos a cultura de economizar nada e continuamos vendo cidadãos (?) lavando carros e calçadas como se a água nunca fosse acabar.
Nestas horas, me lembro da temporada em que morei na Alemanha, nos anos 70, onde todos respeitavam religiosamente os racionamentos de água, que eram frequentes nos períodos de estiagem. As multas são pesadíssimas, mas raramente eram aplicadas porque os próprios vizinhos se encarregavam de cobrar os infratores. Aqui achamos que tudo deve ficar por conta do governo, mas moradores da Grande São Paulo já sofrem na pele as consequências do descaso com que o problema da água vem sendo tratado. Do centro da cidade ao Cupecê, na zona sul, casas e escolas já estão ficando com as torneiras secas sem aviso prévio.
É o que dá quando se subordina providências técnicas urgentes a interesses eleitorais permanentes.
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