Por Vitor Nuzzi, na Rede Brasil Atual:
Passados 50 anos do golpe que depôs o presidente João Goulart, seu filho João Vicente acredita que os problemas do país "são radicalmente os mesmos" e que o Brasil necessita das mesmas reformas de base pregadas pelo governo Jango – desencadeadoras da reação civil-militar cujo resultado foi a ditadura. Até hoje, diz ele, setores privilegiados da sociedade resistem a qualquer tipo de mudança progressista. "As elites estão mais arraigadas e as mídias estão mais fortes. As reformas são as mesmas, as elites são as mesmas, a luta é a mesma", afirmou João Vicente, em entrevista organizada hoje (10) pelo Centro de Estudos de Mídia Alternativa Barão de Itararé e pela Agência Sindical.
A situação do sistema financeiro, por exemplo, é ainda pior hoje, acredita João Vicente, citando lucros de bilhões de reais obtidos nos últimos anos pelos três maiores bancos brasileiros, sem que nada fosse destinado a áreas como ensino fundamental e agricultura familiar. Em 1964, acrescenta, um dos objetivos da reforma bancária era estimular a concessão de crédito. O que seria importante para outra reforma, mais emblemática, discutida naquele período, no setor agrário.
Para quem tachava Jango de comunista ou algo parecido, ele observa que a reforma agrária proposta era "capitalista", para desenvolver o consumo interno e com distribuição de 1 milhão de títulos de propriedade. "Não existe manual marxista que dê títulos de propriedade. Os Estados Unidos fizeram sua reforma desde a Guerra de Secessão. Qualquer medida (no Brasil) que atinja a diminuição dos privilégios das elites, em benefício da maioria da população, tudo isso é comunismo", critica, fazendo reparos também à atual política oficial: "O Brasil tem hoje parada a sua reforma agrária porque fez uma distribuição fundiária".
João Vicente também contesta quem afirma que se vivia melhor na época da ditadura. "Em qual aspecto humano, social, econômico, político?", questiona, dando exemplos, sem falar, lembrou, da supressão de liberdades. "Foi o período de maior achatamento salarial que o país já teve. Falaram em dividir o bolo, mas levaram até a farinha (referência a afirmação do então ministro Delfim Netto, de que era preciso esperar crescer o bolo para então dividi-lo). A inflação prevista para o final daquele ano (1964) era de 69%. Herdamos dos militares uma inflação de 300%. A dívida externa era de US$ 1,1 bilhão. Entregaram uma dívida de US$ 100 bilhões."
Ele lembra ainda que a usina de Itaipu, na divisa com o Paraguai, foi originariamente um projeto do governo Jango, sob o nome de Sete Quedas. Acabou sendo implementado durante o período autoritário – com turbinas de valor muito maior.
Para João Vicente, este é um momento de reconstrução da imagem pública de João Goulart. "Em 1964, vivíamos um período ideologicamente conturbado. Jango prezou pela legalidade constitucional até o último dia de sua vida. A sua política era a do diálogo e do entendimento. O grande lugar que a história está dando a Jango foi a sua vitória (ao decidir não resistir ao golpe), de evitar uma guerra civil e preservar a territorialidade brasileira (na iminência de uma invasão norte-americana)", afirma.
Outra reforma importante e urgente é a da mídia, diz ainda o filho de Jango, que contava na época com o apoio praticamente solitário do jornal Última Hora. Ele ressaltou o fato de participar de uma entrevista coletiva em um espaço externo aos grandes veículos de comunicação. "É nessa mídia alternativa que conseguiremos furar esse triste bloqueio da mídia empresarial", diz João Vicente. "Quando muitos se retratam e pedem desculpas à sociedade (pelo apoio ao golpe), temos de olhar com receio para saber se é mesmo um pedido de desculpas ou uma revisão histórica. E se isso basta. Eles estavam construindo uma história para esconder a realidade."
Passados 50 anos do golpe que depôs o presidente João Goulart, seu filho João Vicente acredita que os problemas do país "são radicalmente os mesmos" e que o Brasil necessita das mesmas reformas de base pregadas pelo governo Jango – desencadeadoras da reação civil-militar cujo resultado foi a ditadura. Até hoje, diz ele, setores privilegiados da sociedade resistem a qualquer tipo de mudança progressista. "As elites estão mais arraigadas e as mídias estão mais fortes. As reformas são as mesmas, as elites são as mesmas, a luta é a mesma", afirmou João Vicente, em entrevista organizada hoje (10) pelo Centro de Estudos de Mídia Alternativa Barão de Itararé e pela Agência Sindical.
A situação do sistema financeiro, por exemplo, é ainda pior hoje, acredita João Vicente, citando lucros de bilhões de reais obtidos nos últimos anos pelos três maiores bancos brasileiros, sem que nada fosse destinado a áreas como ensino fundamental e agricultura familiar. Em 1964, acrescenta, um dos objetivos da reforma bancária era estimular a concessão de crédito. O que seria importante para outra reforma, mais emblemática, discutida naquele período, no setor agrário.
Para quem tachava Jango de comunista ou algo parecido, ele observa que a reforma agrária proposta era "capitalista", para desenvolver o consumo interno e com distribuição de 1 milhão de títulos de propriedade. "Não existe manual marxista que dê títulos de propriedade. Os Estados Unidos fizeram sua reforma desde a Guerra de Secessão. Qualquer medida (no Brasil) que atinja a diminuição dos privilégios das elites, em benefício da maioria da população, tudo isso é comunismo", critica, fazendo reparos também à atual política oficial: "O Brasil tem hoje parada a sua reforma agrária porque fez uma distribuição fundiária".
João Vicente também contesta quem afirma que se vivia melhor na época da ditadura. "Em qual aspecto humano, social, econômico, político?", questiona, dando exemplos, sem falar, lembrou, da supressão de liberdades. "Foi o período de maior achatamento salarial que o país já teve. Falaram em dividir o bolo, mas levaram até a farinha (referência a afirmação do então ministro Delfim Netto, de que era preciso esperar crescer o bolo para então dividi-lo). A inflação prevista para o final daquele ano (1964) era de 69%. Herdamos dos militares uma inflação de 300%. A dívida externa era de US$ 1,1 bilhão. Entregaram uma dívida de US$ 100 bilhões."
Ele lembra ainda que a usina de Itaipu, na divisa com o Paraguai, foi originariamente um projeto do governo Jango, sob o nome de Sete Quedas. Acabou sendo implementado durante o período autoritário – com turbinas de valor muito maior.
Para João Vicente, este é um momento de reconstrução da imagem pública de João Goulart. "Em 1964, vivíamos um período ideologicamente conturbado. Jango prezou pela legalidade constitucional até o último dia de sua vida. A sua política era a do diálogo e do entendimento. O grande lugar que a história está dando a Jango foi a sua vitória (ao decidir não resistir ao golpe), de evitar uma guerra civil e preservar a territorialidade brasileira (na iminência de uma invasão norte-americana)", afirma.
Outra reforma importante e urgente é a da mídia, diz ainda o filho de Jango, que contava na época com o apoio praticamente solitário do jornal Última Hora. Ele ressaltou o fato de participar de uma entrevista coletiva em um espaço externo aos grandes veículos de comunicação. "É nessa mídia alternativa que conseguiremos furar esse triste bloqueio da mídia empresarial", diz João Vicente. "Quando muitos se retratam e pedem desculpas à sociedade (pelo apoio ao golpe), temos de olhar com receio para saber se é mesmo um pedido de desculpas ou uma revisão histórica. E se isso basta. Eles estavam construindo uma história para esconder a realidade."
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