Por Luciano Martins Costa, no Observatório da Imprensa:
A atitude do jogador de futebol Daniel Alves, que no domingo (27/4) comeu uma banana atirada por um torcedor do Villareal, durante jogo pelo Campeonato Espanhol, desencadeou uma onda de reações por vários países, que a imprensa repercute ainda na quarta-feira (30/4). Paralelamente, os jornais noticiam que o proprietário do time de basquete americano Los Angeles Clippers, Donald Sterling, foi multado em US$ 2,5 milhões e banido para sempre do esporte, por causa de declarações preconceituosas contra negros.
O episódio que envolve o jogador brasileiro é parte de uma longa história de manifestações racistas de torcedores europeus, principalmente contra atletas negros ou mulatos do Brasil e da África. Alves, que atua pelo Barcelona há onze anos, declarou que sempre recebeu esse tratamento preconceituoso e que sua reação de apanhar e comer a banana que lhe atiraram, quando se preparava para fazer um lançamento na lateral do campo, foi uma resposta natural à ofensa.
O atacante Neymar Jr. uma das estrelas do time catalão, foi o primeiro a manifestar publicamente sua solidariedade, postando nas redes sociais uma foto em que ele e seu filho comem bananas. Em seguida, outros atletas, além de artistas, autoridades e celebridades de vários países, se juntaram ao movimento.
Segundo os jornais de quarta-feira (30), uma agência de publicidade já estava preparando uma campanha contra o racismo no esporte, estrelada justamente por Neymar, quando foi surpreendida pela atitude de Daniel Alves. O mote seria: “Somos todos macacos”.
O caso envolve uma equação complicada, na qual se tenta inserir alguma racionalidade no comportamento emocional e basicamente primário das massas de torcedores. Depreciar o adversário é parte do que se espera nas arquibancadas dos estádios. É justamente esse comportamento primário que agrega as multidões nos estádios, cantando e gritando palavrões durante noventa minutos, e é com base nesse complexo de irracionalidades que se faz o espetáculo e se mantém o negócio do futebol.
Bilhões em jogo
Já o caso do proprietário do Los Angeles Clippers aponta para uma questão distinta: Donald Sterling, de 80 anos, foi ouvido enquanto conversava pelo telefone com a namorada, recriminando-a por haver postado nas redes sociais digitais uma fotografia ao lado do ex-jogador de basquete Magic Johnson. Disse também que ela não devia levar seus amigos negros a jogos do Los Angeles Clippers.
A punição imposta pela liga profissional do esporte nos Estados Unidos não apenas o obriga a vender a franquia do time, mas fez com que ele perdesse imediatamente todos os patrocínios; além disso, ele está proibido, pelo resto da vida, de comparecer a qualquer jogo ou evento promovido pela entidade.
O banimento do empresário, que adquiriu o controle do time de Los Angeles em 1981, foi uma decisão corporativa certamente determinada pelo fato de que são negros os principais atletas de basquete dos Estados Unidos, que movimenta a economia daquele país. Segundo a revista Forbes (ver aqui), as trinta equipes que formam a liga profissional americana produziram em 2013 uma receita de US$ 4,5 bilhões. Explica-se, assim, a reação pronta e imediata dos seus dirigentes, para evitar que uma greve de jogadores interrompesse a temporada.
O racismo nos campos de futebol, principalmente em países europeus, tem outra complexidade e não pode ser resolvido por uma decisão administrativa ou por uma campanha publicitária. O melhor caminho é apontado justamente pela atitude de Daniel Alves: ao apanhar a banana e comê-la diante de dezenas de milhares de torcedores do time adversário, ele responde a ofensa com um gesto banal, mostrando o ridículo da atitude preconceituosa.
É interessante observar como o fato repercute na imprensa brasileira, tomada por um sentimento nacionalista, como se não fosse, também essa instituição, repositório do ranço da discriminação que ainda marca a nossa sociedade.
Mais interessante ainda é a reação nas redes sociais digitais, onde apareceu até mesmo uma interpretação, para o fato, digna do movimento modernista de 1922: houve quem dissesse que, ao comer a banana atirada pelo torcedor europeu, Daniel Alves estava repetindo o ato simbólico do antropofagismo, ícone transcendental da nossa formação cultural.
Não muda nada, mas é divertido.
O episódio que envolve o jogador brasileiro é parte de uma longa história de manifestações racistas de torcedores europeus, principalmente contra atletas negros ou mulatos do Brasil e da África. Alves, que atua pelo Barcelona há onze anos, declarou que sempre recebeu esse tratamento preconceituoso e que sua reação de apanhar e comer a banana que lhe atiraram, quando se preparava para fazer um lançamento na lateral do campo, foi uma resposta natural à ofensa.
O atacante Neymar Jr. uma das estrelas do time catalão, foi o primeiro a manifestar publicamente sua solidariedade, postando nas redes sociais uma foto em que ele e seu filho comem bananas. Em seguida, outros atletas, além de artistas, autoridades e celebridades de vários países, se juntaram ao movimento.
Segundo os jornais de quarta-feira (30), uma agência de publicidade já estava preparando uma campanha contra o racismo no esporte, estrelada justamente por Neymar, quando foi surpreendida pela atitude de Daniel Alves. O mote seria: “Somos todos macacos”.
O caso envolve uma equação complicada, na qual se tenta inserir alguma racionalidade no comportamento emocional e basicamente primário das massas de torcedores. Depreciar o adversário é parte do que se espera nas arquibancadas dos estádios. É justamente esse comportamento primário que agrega as multidões nos estádios, cantando e gritando palavrões durante noventa minutos, e é com base nesse complexo de irracionalidades que se faz o espetáculo e se mantém o negócio do futebol.
Bilhões em jogo
Já o caso do proprietário do Los Angeles Clippers aponta para uma questão distinta: Donald Sterling, de 80 anos, foi ouvido enquanto conversava pelo telefone com a namorada, recriminando-a por haver postado nas redes sociais digitais uma fotografia ao lado do ex-jogador de basquete Magic Johnson. Disse também que ela não devia levar seus amigos negros a jogos do Los Angeles Clippers.
A punição imposta pela liga profissional do esporte nos Estados Unidos não apenas o obriga a vender a franquia do time, mas fez com que ele perdesse imediatamente todos os patrocínios; além disso, ele está proibido, pelo resto da vida, de comparecer a qualquer jogo ou evento promovido pela entidade.
O banimento do empresário, que adquiriu o controle do time de Los Angeles em 1981, foi uma decisão corporativa certamente determinada pelo fato de que são negros os principais atletas de basquete dos Estados Unidos, que movimenta a economia daquele país. Segundo a revista Forbes (ver aqui), as trinta equipes que formam a liga profissional americana produziram em 2013 uma receita de US$ 4,5 bilhões. Explica-se, assim, a reação pronta e imediata dos seus dirigentes, para evitar que uma greve de jogadores interrompesse a temporada.
O racismo nos campos de futebol, principalmente em países europeus, tem outra complexidade e não pode ser resolvido por uma decisão administrativa ou por uma campanha publicitária. O melhor caminho é apontado justamente pela atitude de Daniel Alves: ao apanhar a banana e comê-la diante de dezenas de milhares de torcedores do time adversário, ele responde a ofensa com um gesto banal, mostrando o ridículo da atitude preconceituosa.
É interessante observar como o fato repercute na imprensa brasileira, tomada por um sentimento nacionalista, como se não fosse, também essa instituição, repositório do ranço da discriminação que ainda marca a nossa sociedade.
Mais interessante ainda é a reação nas redes sociais digitais, onde apareceu até mesmo uma interpretação, para o fato, digna do movimento modernista de 1922: houve quem dissesse que, ao comer a banana atirada pelo torcedor europeu, Daniel Alves estava repetindo o ato simbólico do antropofagismo, ícone transcendental da nossa formação cultural.
Não muda nada, mas é divertido.
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