Por Ricardo Kotscho, no blog Balaio do Kotscho:
Quem um dia poderia imaginar, até poucos anos atrás, que teríamos neste momento, a 45 dias das eleições, duas mulheres disputando quem vai ser a próxima presidente da República do Brasil?
Por uma dessas boas sortes do destino, tive a oportunidade de trabalhar com ambas durante os dois primeiros anos do governo Lula, em que elas foram ministras de Estado e eu secretário de Imprensa da Presidência. Aprendi a admirá-las pela força com que defendem suas convicções, muitas vezes opostas, e posso dizer que ficamos bons amigos.
As vidas da economista mineira Dilma Vana Rousseff, 66, e da ambientalista acreana Maria Osmarina Marina Silva Vaz de Lima, 56, tão iguais e tão diferentes, dariam um belo e emocionante filme.
Não gosto de fazer comparações entre pessoas, e muito menos julgá-las, nem é este o objetivo deste texto. Quero apenas contar um pouco do que sei sobre a trajetória e a personalidade destas duas figuras absolutamente incomuns, que construíram seus próprios caminhos com muita luta, determinação e sofrimento, cada uma do seu jeito.
Conheci Marina primeiro, nas campanhas presidenciais do Lula, lá pelo final dos anos 80 do século passado, e logo ela me chamou a atenção nos vários encontros dos "povos da floresta", em Rio Branco, no Acre, por sua figura frágil, ar místico, voz fina, mas sempre firme, cabelos presos e figurinos étnicos, muito carismática.
Conversei com Dilma pela primeira vez no período de transição do governo FHC para o de Lula, no final de 2002, quando trabalhamos juntos no prédio do Centro Cultural do Banco do Brasil. Não era de dar intimidade a ninguém, sempre muito séria e objetiva em suas roupas de executiva, cabelos armados, só falava de trabalho, carregando planilhas e seu inseparável laptop.
Figuras humanas bem diferentes, como se pode notar, mas também com muitas coisas em comum. Elas não gostam de ser contrariadas, sempre carregam verdades definitivas, parecem estar cumprindo uma missão terrena ou divina. O mundo delas se divide entre quem manda e quem obedece. Não tem conversa. Por isso mesmo, não custaram a se estranhar logo nos primeiros meses de governo.
As divergências entre elas eram muitas, mas podem ser resumidas num ponto- chave: Dilma era o que se pode chamar de desenvolvimentista, ao lutar por grandes obras e projetos no Ministério de Minas e Energia, batendo de frente com o conservacionismo de Marina, que sempre se dedicou a defender com unhas e dentes o meio ambiente, desde os tempos de líder seringueira ao lado de Chico Mendes.
Em razão disso, não foram poucas as vezes em que Marina foi se queixar a Lula e pedir demissão do cargo. Acabou ficando até meados de 2008. Saiu do governo e, ao mesmo tempo, do PT, para se candidatar a presidente da República pelo PV, em 2010, quando enfrentou Dilma pela primeira vez, e acabou provocando um segundo turno na eleição, ao obter 19% dos votos, tornando-se a grande surpresa daquela campanha.
Dilma tinha assumido a chefia da Casa Civil, o cargo mais importante do governo depois do presidente, em 2005, no auge da crise do mensalão, em que foi chamada para ocupar o lugar de José Dirceu. Poucos meses depois, Lula me confidenciou que tinha encontrado nela a candidata ideal para disputar a sucessão dele. No papel de gerente geral do governo, foi convocada por Lula para comandar o PAC no segundo mandato, principal bandeira da sua primeira campanha eleitoral disputada na vida. E assim se tornou a primeira mulher eleita presidente da República, um projeto que nunca fez parte da sua vida.
Ao contrário, Marina não pensa em outra coisa desde que deixou o PT. Sem espaço no PV após a campanha de 2010, resolveu criar seu próprio partido, chamado de Rede Sustentabilidade, para concorrer novamente em 2014, mas não conseguiu o registro a tempo de disputar as eleições. Com seu grupo de seguidores, conhecidos por "marinistas" e "sonháticos", resolveu se abrigar provisoriamente no PSB de Eduardo Campos, que já estava em campanha presidencial e a recebeu de braços abertos para ser sua vice. Do outro lado, não se conhecem "dilmistas".
Como aconteceu nos seis anos em que conviveram na Esplanada dos Ministérios, disputando posições e projetos diferentes no governo Lula, montadas em suas certezas, que não abrem muito espaço para o diálogo e o contraditório, agora Marina e Dilma estão frente a frente outra vez. A última pesquisa Datafolha mostra que ambas podem ir para o segundo turno, hoje numa situação de empate técnico, com leve vantagem de Marina, prometendo luta renhida até o final.
Quem ficou numa situação bastante difícil foi o tucano Aécio Neves, único homem ainda na disputa entre os candidatos competitivos. Ensanduichado entre duas mulheres, vai ter que bater nelas para cavar um lugar no segundo turno, ou ficará fora dele, e isso não pega bem num país machista como o nosso, onde ainda está em vigor a Lei Maria da Penha. Como esse filme vai acabar, eu não sei, mas certamente viveremos fortes emoções nos próximos 45 dias. Preparem seus corações!
Por uma dessas boas sortes do destino, tive a oportunidade de trabalhar com ambas durante os dois primeiros anos do governo Lula, em que elas foram ministras de Estado e eu secretário de Imprensa da Presidência. Aprendi a admirá-las pela força com que defendem suas convicções, muitas vezes opostas, e posso dizer que ficamos bons amigos.
As vidas da economista mineira Dilma Vana Rousseff, 66, e da ambientalista acreana Maria Osmarina Marina Silva Vaz de Lima, 56, tão iguais e tão diferentes, dariam um belo e emocionante filme.
Não gosto de fazer comparações entre pessoas, e muito menos julgá-las, nem é este o objetivo deste texto. Quero apenas contar um pouco do que sei sobre a trajetória e a personalidade destas duas figuras absolutamente incomuns, que construíram seus próprios caminhos com muita luta, determinação e sofrimento, cada uma do seu jeito.
Conheci Marina primeiro, nas campanhas presidenciais do Lula, lá pelo final dos anos 80 do século passado, e logo ela me chamou a atenção nos vários encontros dos "povos da floresta", em Rio Branco, no Acre, por sua figura frágil, ar místico, voz fina, mas sempre firme, cabelos presos e figurinos étnicos, muito carismática.
Conversei com Dilma pela primeira vez no período de transição do governo FHC para o de Lula, no final de 2002, quando trabalhamos juntos no prédio do Centro Cultural do Banco do Brasil. Não era de dar intimidade a ninguém, sempre muito séria e objetiva em suas roupas de executiva, cabelos armados, só falava de trabalho, carregando planilhas e seu inseparável laptop.
Figuras humanas bem diferentes, como se pode notar, mas também com muitas coisas em comum. Elas não gostam de ser contrariadas, sempre carregam verdades definitivas, parecem estar cumprindo uma missão terrena ou divina. O mundo delas se divide entre quem manda e quem obedece. Não tem conversa. Por isso mesmo, não custaram a se estranhar logo nos primeiros meses de governo.
As divergências entre elas eram muitas, mas podem ser resumidas num ponto- chave: Dilma era o que se pode chamar de desenvolvimentista, ao lutar por grandes obras e projetos no Ministério de Minas e Energia, batendo de frente com o conservacionismo de Marina, que sempre se dedicou a defender com unhas e dentes o meio ambiente, desde os tempos de líder seringueira ao lado de Chico Mendes.
Em razão disso, não foram poucas as vezes em que Marina foi se queixar a Lula e pedir demissão do cargo. Acabou ficando até meados de 2008. Saiu do governo e, ao mesmo tempo, do PT, para se candidatar a presidente da República pelo PV, em 2010, quando enfrentou Dilma pela primeira vez, e acabou provocando um segundo turno na eleição, ao obter 19% dos votos, tornando-se a grande surpresa daquela campanha.
Dilma tinha assumido a chefia da Casa Civil, o cargo mais importante do governo depois do presidente, em 2005, no auge da crise do mensalão, em que foi chamada para ocupar o lugar de José Dirceu. Poucos meses depois, Lula me confidenciou que tinha encontrado nela a candidata ideal para disputar a sucessão dele. No papel de gerente geral do governo, foi convocada por Lula para comandar o PAC no segundo mandato, principal bandeira da sua primeira campanha eleitoral disputada na vida. E assim se tornou a primeira mulher eleita presidente da República, um projeto que nunca fez parte da sua vida.
Ao contrário, Marina não pensa em outra coisa desde que deixou o PT. Sem espaço no PV após a campanha de 2010, resolveu criar seu próprio partido, chamado de Rede Sustentabilidade, para concorrer novamente em 2014, mas não conseguiu o registro a tempo de disputar as eleições. Com seu grupo de seguidores, conhecidos por "marinistas" e "sonháticos", resolveu se abrigar provisoriamente no PSB de Eduardo Campos, que já estava em campanha presidencial e a recebeu de braços abertos para ser sua vice. Do outro lado, não se conhecem "dilmistas".
Como aconteceu nos seis anos em que conviveram na Esplanada dos Ministérios, disputando posições e projetos diferentes no governo Lula, montadas em suas certezas, que não abrem muito espaço para o diálogo e o contraditório, agora Marina e Dilma estão frente a frente outra vez. A última pesquisa Datafolha mostra que ambas podem ir para o segundo turno, hoje numa situação de empate técnico, com leve vantagem de Marina, prometendo luta renhida até o final.
Quem ficou numa situação bastante difícil foi o tucano Aécio Neves, único homem ainda na disputa entre os candidatos competitivos. Ensanduichado entre duas mulheres, vai ter que bater nelas para cavar um lugar no segundo turno, ou ficará fora dele, e isso não pega bem num país machista como o nosso, onde ainda está em vigor a Lei Maria da Penha. Como esse filme vai acabar, eu não sei, mas certamente viveremos fortes emoções nos próximos 45 dias. Preparem seus corações!
1 comentários:
Só vejo 2 saídas: um aproveitamento inteligente e muito claro para o eleitor mediano na propaganda eleitoral das obras realizadas em camparacao ao desastre neoliberal do desgoverno FHC ou finalmente a " BALA DE OURO" . URGENTISSIMA, do "volta. Lula" porque o mercado no. segundo turno vai se aliar até ao de nônio se é que já não está.
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