Por Luciano Martins Costa, no Observatório da Imprensa:
Os principais jornais de circulação nacional entram na semana decisiva da disputa eleitoral pressionados por uma realidade incômoda: sua principal aposta para a Presidência da República, o senador mineiro Aécio Neves (PSDB), precisaria aumentar em pelo menos 60% seu atual patrimônio de votos e contar com uma complicada mudança de tendências para voltar a ter chances.
Empenhada em interromper o domínio do Partido dos Trabalhadores na política nacional, a imprensa deve recrudescer seus ataques ao governo para tentar impedir uma vitória de Dilma no primeiro turno. A afirmação poderia parecer absurda, não fosse a escolha explícita feita pela mídia tradicional, que se reflete nas edições de todos os dias e se torna ainda mais escancarada nesta reta final.
Em todos os anos em que ocorrem eleições, os jornais dominantes no cenário nacional e as principais publicações regionais anunciam planos para uma cobertura equilibrada e equidistante. Em alguns casos, são contratados consultores especializados e criadas planilhas sofisticadas para análises mais rápidas e precisas dos dados que apontam a tendência dos votos. No entanto, esses planos nunca passam das costumeiras declarações a respeito do jornalismo de qualidade, com frases de efeito sobre lugares-comuns como equilíbrio do noticiário, espaços e destaques divididos de forma equânime e outras excelentes intenções. Quando o jogo começa para valer, o que se vê é sempre o apoio pouco disfarçado ao candidato que mais se aproxima do perfil desejado pelos donos da mídia.
No domingo (28/9), por exemplo, a Folha de S.Paulo anunciou que iria ampliar a cobertura eleitoral, com um caderno especial que agrega oito novos colunistas. Mas o suplemento intitulado “Eleições 2014” traz apenas mais do mesmo, repetindo a prática das análises que garimpam notícias desfavoráveis ao atual governo.
Na segunda-feira (29/9), a manchete sobre o cumprimento do programa registrado pela então candidata Dilma Rousseff em 2010 é um primor de criatividade e manipulação de dados. A base comparativa é o programa genérico que os candidatos entregam à Justiça Eleitoral antes das eleições.
Boletim escolar
Alinhando citações colhidas aleatoriamente em frases “abrangentes, sem prazo ou meta numérica”, como reconhece o texto explicativo, a suposta reportagem submete esses planos a uma escala simplificada de quatro notas, como num boletim escolar: “A” para metas cumpridas em sua totalidade; “B” para objetivos parcialmente alcançados, mas com resultados relevantes; “C” para casos em que foi obtido menos da metade do anunciado e “D” para as propostas que foram abandonadas. A ideia é tão primária que causa constrangimento, mas o título não dissimula as intenções: “Dilma não cumpriu 43% das promessas de 2010”, diz a manchete.
A participação de intelectuais respeitados tenta convencer o leitor-eleitor da seriedade das análises que têm como base um apanhado de pretensões que, como se sabe, não correspondem a compromissos reais de governo. Mesmo porque os tais programas pré-eleitorais não têm força de lei – são apenas declarações superficiais que cumprem uma exigência burocrática e precisarão ser submetidas ao teste de realidade depois da posse. Por exemplo, nenhum candidato previu, em 2010, que o tema da mobilidade urbana dominaria os debates públicos a partir de junho de 2013.
Os editores da Folha incluíram no projeto humoristas e cronistas da vida cotidiana, entre os quais um jornalista que escreve sob o pseudônimo de “Rui Goiaba” – eles estão encarregados de oferecer uma leitura mais leve ao material que normalmente é produzido pelo confronto dos candidatos. Talvez esses venham a ser o melhor do novo suplemento, porque não parecem se levar tão a sério quanto os cientistas sociais, economistas e filósofos que costumam emprestar seus títulos para referendar a opinião dos editorialistas.
As pesquisas de intenção de voto revelam o efeito do noticiário sobre a escolha dos eleitores: o resultado mais evidente do partidarismo da imprensa é a criação de um bloco compacto de opinião antipetista, que se concentra nas cidades onde os grandes jornais têm maior presença. Esse núcleo, tão avesso ao contraditório quanto os mais renhidos entre os militantes petistas, precisa ser alimentado diariamente com sua cota de certezas absolutas.
O último esforço da mídia tradicional se dirige a outro grupo, o dos indecisos, que vão dizer nos próximos dias se haverá segundo turno.
Empenhada em interromper o domínio do Partido dos Trabalhadores na política nacional, a imprensa deve recrudescer seus ataques ao governo para tentar impedir uma vitória de Dilma no primeiro turno. A afirmação poderia parecer absurda, não fosse a escolha explícita feita pela mídia tradicional, que se reflete nas edições de todos os dias e se torna ainda mais escancarada nesta reta final.
Em todos os anos em que ocorrem eleições, os jornais dominantes no cenário nacional e as principais publicações regionais anunciam planos para uma cobertura equilibrada e equidistante. Em alguns casos, são contratados consultores especializados e criadas planilhas sofisticadas para análises mais rápidas e precisas dos dados que apontam a tendência dos votos. No entanto, esses planos nunca passam das costumeiras declarações a respeito do jornalismo de qualidade, com frases de efeito sobre lugares-comuns como equilíbrio do noticiário, espaços e destaques divididos de forma equânime e outras excelentes intenções. Quando o jogo começa para valer, o que se vê é sempre o apoio pouco disfarçado ao candidato que mais se aproxima do perfil desejado pelos donos da mídia.
No domingo (28/9), por exemplo, a Folha de S.Paulo anunciou que iria ampliar a cobertura eleitoral, com um caderno especial que agrega oito novos colunistas. Mas o suplemento intitulado “Eleições 2014” traz apenas mais do mesmo, repetindo a prática das análises que garimpam notícias desfavoráveis ao atual governo.
Na segunda-feira (29/9), a manchete sobre o cumprimento do programa registrado pela então candidata Dilma Rousseff em 2010 é um primor de criatividade e manipulação de dados. A base comparativa é o programa genérico que os candidatos entregam à Justiça Eleitoral antes das eleições.
Boletim escolar
Alinhando citações colhidas aleatoriamente em frases “abrangentes, sem prazo ou meta numérica”, como reconhece o texto explicativo, a suposta reportagem submete esses planos a uma escala simplificada de quatro notas, como num boletim escolar: “A” para metas cumpridas em sua totalidade; “B” para objetivos parcialmente alcançados, mas com resultados relevantes; “C” para casos em que foi obtido menos da metade do anunciado e “D” para as propostas que foram abandonadas. A ideia é tão primária que causa constrangimento, mas o título não dissimula as intenções: “Dilma não cumpriu 43% das promessas de 2010”, diz a manchete.
A participação de intelectuais respeitados tenta convencer o leitor-eleitor da seriedade das análises que têm como base um apanhado de pretensões que, como se sabe, não correspondem a compromissos reais de governo. Mesmo porque os tais programas pré-eleitorais não têm força de lei – são apenas declarações superficiais que cumprem uma exigência burocrática e precisarão ser submetidas ao teste de realidade depois da posse. Por exemplo, nenhum candidato previu, em 2010, que o tema da mobilidade urbana dominaria os debates públicos a partir de junho de 2013.
Os editores da Folha incluíram no projeto humoristas e cronistas da vida cotidiana, entre os quais um jornalista que escreve sob o pseudônimo de “Rui Goiaba” – eles estão encarregados de oferecer uma leitura mais leve ao material que normalmente é produzido pelo confronto dos candidatos. Talvez esses venham a ser o melhor do novo suplemento, porque não parecem se levar tão a sério quanto os cientistas sociais, economistas e filósofos que costumam emprestar seus títulos para referendar a opinião dos editorialistas.
As pesquisas de intenção de voto revelam o efeito do noticiário sobre a escolha dos eleitores: o resultado mais evidente do partidarismo da imprensa é a criação de um bloco compacto de opinião antipetista, que se concentra nas cidades onde os grandes jornais têm maior presença. Esse núcleo, tão avesso ao contraditório quanto os mais renhidos entre os militantes petistas, precisa ser alimentado diariamente com sua cota de certezas absolutas.
O último esforço da mídia tradicional se dirige a outro grupo, o dos indecisos, que vão dizer nos próximos dias se haverá segundo turno.
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