segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

A obsessão da mídia com o "ajuste"

Por Paulo Henrique Amorim, no blog Conversa Afiada:

O amigo navegante deve ter percebido que o PiG e seus urubólogos só pensam naquilo: no “ajuste”.

Todas as manchetes, as “análises”, entrevistas só tratam do “ajuste” – quer dizer, quando não tratam da elegância da Presidenta na posse.

Percebe-se o subterrâneo desejo de transformar o Ministro Levy num Cavalo de Troia do PSDB.

Quando Príamo, quer dizer, Dilma abrir o olho, os Náufragas, Haras Resendes e Cerras sairão do ventre oco do Cavalo para governar o Brasil.

Na aparência se trata, apenas, de um exercício do Terceiro Turno: ela ganhou mas não leva.

A Economia é monopólio da Casa Grande.

Mas, não é só isso.

Vejam, por exemplo, o que diz o Prêmio Nobel de Economia Paul Krugman, responsável em boa parte pela inesperada popularidade do livro “O Capitalismo do Século XXI”, de Piketty, que, como se sabe, deu uma banana à Legião de Honra da França.

http://www.nytimes.com/2015/01/02/opinion/paul-krugman-twin-peaks-planet.html?rref=collection%2Fcolumn%2Fpaul-krugman

Krugman descreve o encorajador fenômeno da ascensão da classe média em países em desenvolvimento, como na China e na Índia (e no Brasil, também).

Ao mesmo tempo, mostra Krugman, a classe média de países “ricos”, como os Estados Unidos, está sendo massacrada e empobrecida.

O que dá razão a Piketty.

No capitalismo do Século XXI, quando o crescimento dos lucros é maior que o da Economia, os ricos se fartam e os pobres se ferram.

E por que a classe média – e os trabalhadores – sofrem tanto nos Estados Unidos?

É aqui que entra a obsessão pelo “ajuste”, amigo navegante.

Lá, como aqui, ”ajuste” é uma obsessão dos ricos.

Por quê?

Krugman explica.

Por causa do desemprego, da estagnação salarial e de políticas econômicas austeras (o tal do “ajuste”) os pobres ficaram cada vez mais distantes dos riscos.

Além disso, a acelerada concentração de riqueza na mão dos poucos ricos se deve exatamente por causa da compressão dos salários, da redução dos benefícios sociais e da destruição dos sindicatos americanos.

Bingo!

A desgraça dos pobres faz a riqueza dos ricos.

Quem diz isso, amigo navegante, não é um furioso marxista fora-de-época, mas um colunista do New York Times.

Mais importante, lembra Krugman, é o enormemente desproporcional poder que os ricos exercem sobre sobre a política econômica.

A prioridade das elites – a obsessiva preocupação com os déficits e a consequente necessidade de cortar gastos sociais – fez muito para aprofundar a desigualdade nos Estados Unidos – conclui Krugman.

Bingo!

É a Casa Grande daqui.

“Ajusta e ferra o pobre!”, em resumo.

O bolo é meu, eu é que tenho o poder – a Globo – e eu divido o bolo como eu quiser.

(Não é à toa que os filhos do Roberto Marinho repudiam o imposto sobre grandes fortunas, uma das armas que Piketty sugere.)

Que história é essa de deixar o pobre subir à classe media e tirar o meu lugar no assento conforto da TAM ?

Que esculhambação é essa?

O amigo navegante deve ter percebido onde se encerra a elegante linguagem do escritor Nobel e começa a do panfletário blogueiro.

O estilo é o homem, diria o FHC, em sua infinita mediocridade.

Mas, a elite é a mesma – lá e cá.

A obsessão pelo “ajuste” nada mais é que tentar conferir Ciência e Espírito Público à usura.

Tão simples assim.

Sabe qual é o maior problema dos defensores do “ajuste”, amigo navegante?

A Casa Grande brasileira não tem ideias.

Como diz um amigo navegante, analista de imposturas tucanas, todos os economistas da Casa Grande pensam a mesma coisa: as ideias do Paul Samuelson mastigadas e remastigadas, como grama na boca de cavalo cansado.

Falta à nossa Casa Grande o Odisseu, que concebeu o Cavalo.

Eles se nutrem de Fernando Henrique, cuja obra mais parecida com o Cavalo de Troia é a P-36.

Em tempo: o amigo navegante se lembra de alguma ideia original que o Padim Pade Cerra, ao longo de 50 anos de vida pública, ofereceu ao distinto público? Dali não sai nada!

Em tempo2: do amigo navegante especialista em imposturas tucanas:

“PH, Alexis de Tocqueville também afirmou, depois de visitar os Estados Unidos, em meados do século XIX, que o capitalismo gera a miséria ao lado da riqueza.”

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