Por Altamiro Borges
Não é só no Brasil que a direita não aceita a derrota nas urnas e tenta impor o seu programa rejeitado pelos eleitores. Na Grécia rebelde, que deu uma guinada à esquerda no pleito de janeiro passado, as forças do capital também se articulam para emparedar o governo do Syriza. Depois de uma longa negociação, concluída nesta sexta-feira (20), os chefões da zona do euro conseguiram impor o seu calendário de pagamento da draconiana dívida externa do país. Pelo acordado, os gregos terão quatro meses para garantir o resgate financeiro. O novo primeiro-ministro, Alexis Tsipras, reivindicava um prazo maior, mas teve que ceder sob a chantagem da exclusão da Grécia da zona do euro e da implosão econômica no país.
A mídia mundial e nativa, porta-voz dos agiotas rentistas, já aplaude o resultado da “negociação”. Segundo matéria da Folha deste sábado (21), o acordo impõe a apresentação de metas “rigorosas” de austeridade, o que dificultará a aplicação do programa de reformas do Syriza. “A decisão tomada pelos ministros de Finanças reunidos em Bruxelas foi dar quatro meses de fôlego em troca de o governo apresentar até a próxima segunda-feira (23) uma lista de reformas para que os termos do socorro sejam revistos no fim desse prazo. As reformas, segundo o bloco, devem envolver combate à corrupção e à evasão fiscal e medidas que melhorem a ‘eficiência do setor público’”, relata o correspondente Leandro Colon.
“Na prática, o governo do primeiro-ministro Alexis Tsipras foi colocado contra a parede pelos colegas de bloco: conseguiu ‘respirar’, como queria, mas terá de convencê-los de que suas medidas antiausteridade fiscal não comprometem o acordo e as dívidas do país. Ou seja, terá de encontrar fórmula que busque o cumprimento das promessas de campanha e, ao mesmo tempo, a confiança dos colegas para seguir na zona do euro. Para obter um acordo em Bruxelas, o governo grego prometeu não tomar nenhuma medida ‘unilateral’ que afete as metas fiscais. Além disso, recuou do discurso eleitoral ao aceitar a fiscalização da Comissão Europeia, do Banco Central Europeu e do FMI” – a famigerada troika.
O Estadão também elogiou o recuo do governo grego. “Depois de três semanas de negociações, a União Europeia anunciou nesta sexta-feira ter chegado a um acordo com a Grécia para estender o plano de resgate econômico concedido ao país por mais quatro meses. Em troca, o governo radical de esquerda de Alexis Tsipras terá de manter o estrito equilíbrio fiscal e deverá apresentar até segunda-feira, 23, uma lista de reformas econômicas e administrativas que tenham impacto positivo nas contas do Estado grego”, relata o correspondente Andrei Neto. “As instituições implicadas julgarão se as reformas são suficientes”, ameaça Jeroen Dijsselbloem, chefe do fórum de ministros de Finanças da zona do euro.
Se do ponto de vista econômico, o acordo representa um recuo – que pode gerar frustração nas bases sociais que garantiram a vitória eleitoral da “coligação de esquerda radical” –, do ponto de vista político o Syriza ganhou um tempo para intensificar o debate junto à sociedade. A Grécia sofreu uma violenta regressão nos últimos sete anos. O desemprego bateu recordes históricos, os salários foram arrochados e houve retirada de direitos trabalhistas. No enfrentamento da crise econômica, a famigerada troika salvou os banqueiros e penalizou os trabalhadores. O Syriza venceu as eleições de janeiro prometendo romper com os acordos de austeridade fiscal impostos pelos agiotas financeiros.
Mas a vida é dura – num sistema mundial cada vez mais sob o domínio da ditadura dos rentistas. Para manter a economia em funcionamento, o governo de Alexis Tsipras ainda depende do acesso ao crédito internacional – que na Europa é controlado pelo império alemão. Não é para menos que a chanceler Ângela Merkel tem sido a mais intransigente e arrogante no trato da crise grega, tentando colocar de joelhos o Syriza. Ao mesmo tempo, o novo governo precisa cumprir suas promessas de campanha, reduzindo o desemprego e elevando a renda dos trabalhadores. O impasse está dado. Os novos capítulos serão ainda mais tensos na Grécia, na Europa e no conjunto do sistema capitalista mundial.
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Não é só no Brasil que a direita não aceita a derrota nas urnas e tenta impor o seu programa rejeitado pelos eleitores. Na Grécia rebelde, que deu uma guinada à esquerda no pleito de janeiro passado, as forças do capital também se articulam para emparedar o governo do Syriza. Depois de uma longa negociação, concluída nesta sexta-feira (20), os chefões da zona do euro conseguiram impor o seu calendário de pagamento da draconiana dívida externa do país. Pelo acordado, os gregos terão quatro meses para garantir o resgate financeiro. O novo primeiro-ministro, Alexis Tsipras, reivindicava um prazo maior, mas teve que ceder sob a chantagem da exclusão da Grécia da zona do euro e da implosão econômica no país.
A mídia mundial e nativa, porta-voz dos agiotas rentistas, já aplaude o resultado da “negociação”. Segundo matéria da Folha deste sábado (21), o acordo impõe a apresentação de metas “rigorosas” de austeridade, o que dificultará a aplicação do programa de reformas do Syriza. “A decisão tomada pelos ministros de Finanças reunidos em Bruxelas foi dar quatro meses de fôlego em troca de o governo apresentar até a próxima segunda-feira (23) uma lista de reformas para que os termos do socorro sejam revistos no fim desse prazo. As reformas, segundo o bloco, devem envolver combate à corrupção e à evasão fiscal e medidas que melhorem a ‘eficiência do setor público’”, relata o correspondente Leandro Colon.
“Na prática, o governo do primeiro-ministro Alexis Tsipras foi colocado contra a parede pelos colegas de bloco: conseguiu ‘respirar’, como queria, mas terá de convencê-los de que suas medidas antiausteridade fiscal não comprometem o acordo e as dívidas do país. Ou seja, terá de encontrar fórmula que busque o cumprimento das promessas de campanha e, ao mesmo tempo, a confiança dos colegas para seguir na zona do euro. Para obter um acordo em Bruxelas, o governo grego prometeu não tomar nenhuma medida ‘unilateral’ que afete as metas fiscais. Além disso, recuou do discurso eleitoral ao aceitar a fiscalização da Comissão Europeia, do Banco Central Europeu e do FMI” – a famigerada troika.
O Estadão também elogiou o recuo do governo grego. “Depois de três semanas de negociações, a União Europeia anunciou nesta sexta-feira ter chegado a um acordo com a Grécia para estender o plano de resgate econômico concedido ao país por mais quatro meses. Em troca, o governo radical de esquerda de Alexis Tsipras terá de manter o estrito equilíbrio fiscal e deverá apresentar até segunda-feira, 23, uma lista de reformas econômicas e administrativas que tenham impacto positivo nas contas do Estado grego”, relata o correspondente Andrei Neto. “As instituições implicadas julgarão se as reformas são suficientes”, ameaça Jeroen Dijsselbloem, chefe do fórum de ministros de Finanças da zona do euro.
Se do ponto de vista econômico, o acordo representa um recuo – que pode gerar frustração nas bases sociais que garantiram a vitória eleitoral da “coligação de esquerda radical” –, do ponto de vista político o Syriza ganhou um tempo para intensificar o debate junto à sociedade. A Grécia sofreu uma violenta regressão nos últimos sete anos. O desemprego bateu recordes históricos, os salários foram arrochados e houve retirada de direitos trabalhistas. No enfrentamento da crise econômica, a famigerada troika salvou os banqueiros e penalizou os trabalhadores. O Syriza venceu as eleições de janeiro prometendo romper com os acordos de austeridade fiscal impostos pelos agiotas financeiros.
Mas a vida é dura – num sistema mundial cada vez mais sob o domínio da ditadura dos rentistas. Para manter a economia em funcionamento, o governo de Alexis Tsipras ainda depende do acesso ao crédito internacional – que na Europa é controlado pelo império alemão. Não é para menos que a chanceler Ângela Merkel tem sido a mais intransigente e arrogante no trato da crise grega, tentando colocar de joelhos o Syriza. Ao mesmo tempo, o novo governo precisa cumprir suas promessas de campanha, reduzindo o desemprego e elevando a renda dos trabalhadores. O impasse está dado. Os novos capítulos serão ainda mais tensos na Grécia, na Europa e no conjunto do sistema capitalista mundial.
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