terça-feira, 2 de junho de 2015

A pesquisa fajuta contra Lula

Por Eduardo Guimarães, no Blog da Cidadania:

As eleições de 2014 ficaram marcadas por uma torrente de pesquisas eleitorais fajutas que o tempo tratou de mostrar que foram feitas sob encomenda para enganar a sociedade e influir no processo eleitoral. Nesse aspecto, três institutos sobressaíram: Veritá, Sensus e Paraná.

O instituto Veritá, por exemplo, a 5 dias da eleição presidencial em segundo turno, publicou uma pesquisa absolutamente maluca em que Aécio Neves aparecia com sólida vantagem sobre Dilma Rousseff – fora da margem de erro.

Em 21 de outubro de 2014, esse instituto mostrou Aécio com 53,2% das intenções de voto, quase sete pontos percentuais à frente de Dilma, que tinha 46,8%. Considerados os votos totais (considerados votos brancos, nulos e indecisos), a contagem era de 47% para o tucano e 41,4% para a petista.

Era uma maluquice. Nenhum outro instituto apontava semelhante quadro. Os números do Veritá contrastavam com a terceira pesquisa Datafolha do segundo turno, divulgada no mesmo dia, que mostrava diferença de quatro pontos percentuais em favor de Dilma.

Tratava-se de uma virtual vigarice, mas que duraria pouco. Míseros 4 dias após o segundo turno, agora com Dilma eleita, a Folha de São Paulo publicou matéria que mostrava que o tal instituto Veritá usara dados falsos, o que não impediu que a campanha tucana e a mídia amiga usassem a patifaria para tentar enganar o eleitor.



Dez dias antes, outro instituto que usou e abusou de fraudes para tentar ajudar Aécio a se eleger publicara uma pesquisa ainda mais escandalosa, que contrariava todas as outras. A pesquisa apresentava, inclusive, uma conclusão: faltando duas semanas para o segundo turno, o tucano já estaria eleito.

Em 11 de outubro de 2014, pesquisa sobe a sucessão presidencial divulgada pelo Instituto Sensus mostrava Aécio com 58,8% dos válidos contra 41,2% da presidente Dilma Rousseff, ou seja, uma vantagem de 17,6 pontos.

A pesquisa, evidentemente fajuta, viera revestida com a capa de uma certa credibilidade que ainda tinha o instituto Sensus, credibilidade que naufragou durante a eleição. Eis os dados oficiais do registro da pesquisa no TSE.

Registro na Justiça Eleitoral – BR-01076/2014

Entrevistas – 2.000, em cinco regiões, 24 Estados e 136 municípios do País

Metodologia – Cotas para sexo, idade, escolaridade, renda e urbano e rural

Campo – de 07 a 10 de Outubro de 2014

Margem de erro – +/- 2,2%

Confiança – 95%

Quatro dias após a divulgação dessa farsa, o Datafolha publicou sondagem com dados muito diferentes. Tão diferentes que qualquer um poderia concluir que ou o Sensus ou o Datafolha estavam mentindo – e todos viram, poucos dias depois, quem estava mentindo.



Neste ano, o instituto Paraná vem publicando pesquisas – que ninguém sabe quem está pagando que afirmam que Lula chegaria em terceiro lugar se a eleição presidencial de 2018 fosse hoje.

Em 8 de abril do ano passado, a revista Época divulgou em seu portal na internet que contratou “A primeira pesquisa sobre o segundo turno” com um tal “Instituto Paraná”. O resultado dessa pesquisa surpreendeu não só petistas, mas, também, tucanos ao mostrar Aécio Neves disparado à frente de Dilma Rousseff (54% a 46%).



Pelo inusitado dos números, o Blog procurou a campanha de Dilma Rousseff. Perguntou se o PT já dispunha de trackings ou pesquisas internas sobre o segundo turno, ao que foi informado de que o partido começaria a fazer suas sondagens só a partir do dia seguinte – quinta-feira, 9 de outubro.

Em seguida, a pergunta foi sobre a confiabilidade da pesquisa. Abaixo, a resposta da campanha de Dilma:

“Picaretagem. Dê uma olhada no site do TSE. [A pesquisa] nem está registrada no TSE como uma pesquisa comprada pela Época. No registro da pesquisa perante o TSE (BR 01064 e 01065), não consta a revista Época nem tampouco a Editora Globo como contratantes, ao contrário do afirmado pela própria Época em sua página”

O Blog acolheu a sugestão da fonte e foi ao site do TSE pesquisar. Abaixo, a reprodução da página de registro de pesquisas do TSE que mostra os números de registro da pesquisa “Paraná”.





O fato é que a pesquisa Paraná destoava das dos grandes institutos, que mostravam Dilma e Aécio virtualmente empatados. Pesquisa Ibope publicada no dia seguinte ao da pesquisa Paraná mostrava o tucano e a petista tecnicamente empatados – ela com 49% e ele com 51%.

À época, o blogueiro parananese Esmael de Moraes divulgou que um dos donos dono do “Instituto Paraná”, Murilo Hidalgo, “já estaria nomeado para integrar o novo governo de Beto Richa” e que “deveria dirigir a Celepar, companhia de TI do estado do Paraná”.

Talvez a divulgação desses dados tenha ajudado a “melar” a indicação, mas uma mera visita ao site do instituto Paraná mostra que a empresa tem sólidas relações políticas. Entre outras razões, está a de o instituto exibir em seu site, como um troféu, um “depoimento” sobre seu trabalho.



Em 2 de abril, o instituto Paraná publicou pesquisa que afirmou que se as eleições presidenciais fossem naquele momento Aécio teria 37,1% dos votos, Marina Silva ficaria em segundo lugar, com 24,3%, e o ex-presidente Lula teria 17,9%.

Onze dias depois, pesquisa Datafolha divulgou pesquisa que tornou incompreensível a pesquisa Paraná. Segundo o instituto do Grupo Folha, apesar de Lula ver a popularidade de seu legado diminuir, naquele momento ele fora citado como melhor presidente que o Brasil já teve por 50% dos entrevistados.

No primeiro dia útil desta semana, o instituto Paraná soltou mais uma de suas pesquisas Tabajara. Só que, ao contrário do que fez em 2 de abril, desta vez o instituto foi menos ambicioso – afirmou que o resultado adverso para o ex-presidente diante de Aécio e Marina foi apurado apenas em Brasília, enquanto que há dois meses afirmou que seria no Brasil inteiro.

Desta feita, o Paraná afirma que se as eleições de 2018 fossem hoje, EM BRASÍLIA Aécio Neves teria 40,3% dos votos, Marina Silva teria 24,7% e Lula, 17,6%. Em abril, o mesmo instituto afirmou que pesquisa com resultado semelhante teria sido feita “com 2.022 eleitores em 152 municípios brasileiros entre os dias 26 e 31 de março”.

Pode-se notar que a pesquisa que o instituto Paraná divulgou em 2 de abril como tendo sido feita em 152 municípios mostra resultado muito parecido com a que divulgou neste 1º de junho.

ABRIL

Aécio 37,1%

Marina 24,3%

Lula 17,9%

JUNHO

Aécio 40,3%

Marina 24,7%

Lula 17,6%

Como se vê, Lula e Marina teriam agora, apenas em Brasília, praticamente os mesmos resultados que tiveram em abril no Brasil inteiro, e Aécio teria subido um pouco. Brasília, então, é um resumo do Brasil?

Dado o histórico desse instituto e dada a prática que se estabeleceu durante o período eleitoral de institutos divulgarem pesquisas claramente falsas sem sofrer as penas da lei que torna crime falsificar pesquisas eleitorais, pode-se dizer que, na melhor das hipóteses, essa pesquisa que mostra Lula tão fragilizado, apesar de ser considerado, disparado, o melhor presidente que o país já teve, é fajuta como uma nota de 3 reais.

Essa última pesquisa Paraná não está sendo levada a sério nem pela imprensa tradicionalmente antipetista. A esquisitice em relação à pesquisa anterior, de abril, ficou escandalosamente evidente.

O grande problema é que uma picaretagem como essa se espalha como fogo pelas redes sociais e por blogs e sites antipetistas e, assim, vai turvando o entendimento das pessoas sobre o quadro político.

Os dados supracitados falam por si mesmos. Há uma avalanche de dúvidas sobre essa pesquisa Paraná feita “em Brasília”. É possível ver que há algo tremendamente errado. Há que combater essa farsa ao máximo, pois, neste momento mesmo, está confundindo as pessoas.

Criminosamente!

1 comentários:

Anônimo disse...

Aí cabe a pergunta repetida ao infinito: È picaretagem. O PT sabe e não toma nenhuma providência?
Não é época eleitoral, certo, então não configura crime eleitoral, mas "obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento" é crime (o famoso 171 do CP). Então, porque não pedir investigação ao MP, denunciar em qualquer delegacia de polícia, ir atrás de quem está por trás desse tal instituto? Não dá em nada, sabemos, mas no mínimo, não ficaria essa impressão de "pasmaceira petista".