Por Rodrigo Vianna, no blog Escrevinhador:
Sim, havia menos gente nas ruas nesta quinta (20 de agosto) do que no último domingo (16 de agosto). Mas ainda assim as marchas pela Democracia resultaram num grau de mobilização surpreendente, dadas as condições objetivas em que a guerra se trava.
A manifestação golpista do dia 16, lembremos, teve amplo apoio midiático: a Globo passou a manhã fazendo “chamadas” para inflar o ato da tarde em São Paulo. E ainda assim o número de manifestantes na Paulista foi de 130 mil pessoas – menos, muito menos, do que na manifestação golpista do dia 15 de março.
A marcha desse dia 20 em São Paulo (e em outras partes do Brasil foi igual) não tinha “famílias inteiras na rua”, nem gente com a camisa da CBF. Era o povo organizado, eram os militantes de movimentos sociais, sindicatos, estudantes… Muitas mulheres, muitos negros. A cor da rua era a cor do povo brasileiro, com sua diversidade e sua riqueza.
A CUT, com base em avaliação da PM, chegou a falar em 60 mil pessoas no Largo da Batata (zona oeste de São Paulo), onde se deu a concentração no fim da tarde. Jornalistas experientes calculavam que havia algo entre 40 e 50 mil pessoas, quando a multidão começou a caminhar em direção à Paulista, debaixo de garoa fina.
Ao fim, o Datafolha estimou em 37 mil o total de presentes. Ok, digamos que tenham sido cerca de 40 mil: ou seja, um terço do que havia na marcha golpista de domingo.
Mas a guerra de números não foi o principal. No asfalto, entre o Largo da Batata e a avenida Paulista, no longo trajeto da marcha, travou-se uma guerra de narrativas.
No domingo (dia 16), estavam na rua os ricos e brancos que defendem: derrube-se a Dilma, prenda-se o Lula, acabe-se com o PT e todos os males do Brasil estarão resolvidos; fingem acreditar que jamais houve corrupção antes do PT. Essa turma defende “menos estatais”, mais “meritocracia”, e é movida por um ódio mal disfarçado – estampado em cartazes absurdos pedindo mortes, execuções e ditadura.
No dia 16, não eram bem vindos os que lembravam as chacinas de pobres e negros na periferia. “Esse não é assunto para trazer aqui pra Paulista”, chegou a berrar uma senhora aloirada quando viu (na avenida dos brancos e bem nascidos) atores negros encenando a chacina que levou à morte de 18 pessoas em Osasco e Barueri alguns dias antes.
Na quinta (dia 20), estavam na rua os que defendem: cumpra-se a Constituição, respeite-se o voto da maioria, combata-se a corrupção de todos os partidos. A mídia velha queria que se acreditasse que o ato do dia 20 era “a favor de Dilma” – de forma incondicional. Mas não era.
O grito de guerra mais ouvido, além de “não ao golpe”, foi: “Fora daqui o Eduardo Cunha, e leve junto o Levy”.
No dia 20, eram bem vindos os que procuravam denunciar a violência policial. Em 1 hora na Paulista, não vi ninguém tirando selfie com a PM. E vi o batalhão de choque “protegendo” bancos, lanchonetes e uma lanchonete Starbucks.
A guerra de narrativas traduziu-se também numa guerra de imagens. Se os tucanos, com ajuda da Globo, tentaram no domingo inflar a imagem de um Lula “presidiário” (o boneco inflável do ex-presidente faz parte de uma estratégia de apoio das estripulias do juiz Sergio Moro), o povo que foi às ruas nesse dia 20 deu o troco: Serra e Aécio foram “homenageados”, vestidos igualmente de presidiários.
Eduardo Cunha recebeu tratamento idêntico. E Joaquim Levy completava o exótico grupo de bonecos – com uma diferença visível: ao contrário dos outros três, Levy não foi tratado como “bandido” preso, mas “apenas” como inimigo vestido com uma casaca preta de banqueiro.
A guerra dos bonecos é um recado: não brinquem com nossos símbolos. Se tentarem destruí-los, haverá uma guerra total.
O ato do dia 20 pode ter sido menor do que o do dia 16. Mas mostrou um grau de unidade e maturidade da esquerda que há muito não se via. E isso tudo sem mídia, com um governo acuado e acovardado.
Não havia nenhum “grande líder” a chamar a multidão. Novos líderes estão sendo forjados nesse processo, e se há uma voz que se afirma ela é a de Guilherme Boulos (MTST) – que fala grosso contra a direita, sem ceder um milímetro para as levyandades do governo.
Essa maturidade será cada vez mais necessária daqui pra frente. Por vários motivos:
- a recessão vai piorar até pelo menos julho do ano que vem;
- Moro vai tentar prender Lula, mesmo sem base jurídica pra isso.
A guerra dos bonecos e das narrativas pode transbordar nos próximos meses para guerra ainda mais séria. Nas ruas, nas redes, no Parlamento e no Judiciário.
Sim, havia menos gente nas ruas nesta quinta (20 de agosto) do que no último domingo (16 de agosto). Mas ainda assim as marchas pela Democracia resultaram num grau de mobilização surpreendente, dadas as condições objetivas em que a guerra se trava.
A manifestação golpista do dia 16, lembremos, teve amplo apoio midiático: a Globo passou a manhã fazendo “chamadas” para inflar o ato da tarde em São Paulo. E ainda assim o número de manifestantes na Paulista foi de 130 mil pessoas – menos, muito menos, do que na manifestação golpista do dia 15 de março.
A marcha desse dia 20 em São Paulo (e em outras partes do Brasil foi igual) não tinha “famílias inteiras na rua”, nem gente com a camisa da CBF. Era o povo organizado, eram os militantes de movimentos sociais, sindicatos, estudantes… Muitas mulheres, muitos negros. A cor da rua era a cor do povo brasileiro, com sua diversidade e sua riqueza.
A CUT, com base em avaliação da PM, chegou a falar em 60 mil pessoas no Largo da Batata (zona oeste de São Paulo), onde se deu a concentração no fim da tarde. Jornalistas experientes calculavam que havia algo entre 40 e 50 mil pessoas, quando a multidão começou a caminhar em direção à Paulista, debaixo de garoa fina.
Ao fim, o Datafolha estimou em 37 mil o total de presentes. Ok, digamos que tenham sido cerca de 40 mil: ou seja, um terço do que havia na marcha golpista de domingo.
Mas a guerra de números não foi o principal. No asfalto, entre o Largo da Batata e a avenida Paulista, no longo trajeto da marcha, travou-se uma guerra de narrativas.
No domingo (dia 16), estavam na rua os ricos e brancos que defendem: derrube-se a Dilma, prenda-se o Lula, acabe-se com o PT e todos os males do Brasil estarão resolvidos; fingem acreditar que jamais houve corrupção antes do PT. Essa turma defende “menos estatais”, mais “meritocracia”, e é movida por um ódio mal disfarçado – estampado em cartazes absurdos pedindo mortes, execuções e ditadura.
No dia 16, não eram bem vindos os que lembravam as chacinas de pobres e negros na periferia. “Esse não é assunto para trazer aqui pra Paulista”, chegou a berrar uma senhora aloirada quando viu (na avenida dos brancos e bem nascidos) atores negros encenando a chacina que levou à morte de 18 pessoas em Osasco e Barueri alguns dias antes.
Na quinta (dia 20), estavam na rua os que defendem: cumpra-se a Constituição, respeite-se o voto da maioria, combata-se a corrupção de todos os partidos. A mídia velha queria que se acreditasse que o ato do dia 20 era “a favor de Dilma” – de forma incondicional. Mas não era.
O grito de guerra mais ouvido, além de “não ao golpe”, foi: “Fora daqui o Eduardo Cunha, e leve junto o Levy”.
No dia 20, eram bem vindos os que procuravam denunciar a violência policial. Em 1 hora na Paulista, não vi ninguém tirando selfie com a PM. E vi o batalhão de choque “protegendo” bancos, lanchonetes e uma lanchonete Starbucks.
A guerra de narrativas traduziu-se também numa guerra de imagens. Se os tucanos, com ajuda da Globo, tentaram no domingo inflar a imagem de um Lula “presidiário” (o boneco inflável do ex-presidente faz parte de uma estratégia de apoio das estripulias do juiz Sergio Moro), o povo que foi às ruas nesse dia 20 deu o troco: Serra e Aécio foram “homenageados”, vestidos igualmente de presidiários.
Eduardo Cunha recebeu tratamento idêntico. E Joaquim Levy completava o exótico grupo de bonecos – com uma diferença visível: ao contrário dos outros três, Levy não foi tratado como “bandido” preso, mas “apenas” como inimigo vestido com uma casaca preta de banqueiro.
A guerra dos bonecos é um recado: não brinquem com nossos símbolos. Se tentarem destruí-los, haverá uma guerra total.
O ato do dia 20 pode ter sido menor do que o do dia 16. Mas mostrou um grau de unidade e maturidade da esquerda que há muito não se via. E isso tudo sem mídia, com um governo acuado e acovardado.
Não havia nenhum “grande líder” a chamar a multidão. Novos líderes estão sendo forjados nesse processo, e se há uma voz que se afirma ela é a de Guilherme Boulos (MTST) – que fala grosso contra a direita, sem ceder um milímetro para as levyandades do governo.
Essa maturidade será cada vez mais necessária daqui pra frente. Por vários motivos:
- a recessão vai piorar até pelo menos julho do ano que vem;
- Moro vai tentar prender Lula, mesmo sem base jurídica pra isso.
A guerra dos bonecos e das narrativas pode transbordar nos próximos meses para guerra ainda mais séria. Nas ruas, nas redes, no Parlamento e no Judiciário.
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