Por Vinícius Wu e Daniel Angelim, na revista Fórum:
No último domingo, um pouco antes das 10 horas da noite, Daniel Scioli abandonava o cenário montado em seu comando de campanha para, em um telefonema rápido, reconhecer a derrota ao seu oponente Mauricio Macri, líder do Cambiemos. Já na primeira manhã após o resultado, o conservador periódico La Nacion publicava um editorial criticando enfaticamente a punição de criminosos que agiram durante a ditadura naquele país. Na campanha, Macri havia anunciado o fim do “negócio” dos Direitos Humanos.
Apesar da nova roupagem, Macri representa os mesmos velhos interesses da direita argentina e nem se incomoda em aparecer como serviçal do governo norte-americano, conforme ficou evidente nas conversas que o mesmo manteve com a Embaixada dos EUA – tudo devidamente exposto pelo Wikileaks. Sua Fundação, Crer e Crescer, mantém relações bem conhecidas pelo público com o Instituto Republicano dos EUA.
Macri é expressão de uma “nova velha direita” latino-americana. Uma direita que, nos últimos anos, se articulou em torno de grupos conservadores de mídia e instituições privadas, como o Instituto Millenium, fazendo uma oposição feroz e articulada aos governos populares da região. Não foi por acaso que Lilian Tintori, esposa de Leopoldo Lopez, adversário do chavismo na Venezuela, viajou até Buenos Aires no domingo para cumprimentar o presidente eleito.
Da eleição realizada no último domingo sai vitoriosa uma direita favorável aos interesses norte-americanos na região e tolerante com os crimes cometidos durante a ditadura. E o editorial de La Nacion demonstra um pouco do apetite da direita argentina em seu retorno ao governo central. Seus alvos principais serão as políticas sociais e de direitos humanos desenvolvidas durante a Era Kirchner.
Voltando ao domingo, o discurso geral entre os correligionários e apoiadores de Scioli era de reorganizar o partido e volver a la resistencia. Resistência para que se “cuiden estos logros y estos nuevos derechos, que fueron, inclusive, ampliados”, como pronunciou em seu discurso final. Assim se encerraram os doze anos de governo Kirchnerista, maior responsável por tirar a Argentina da enorme crise que se abateu sobre o país no biênio 2001 – 2002, implementando medidas que priorizaram a distribuição de renda, a defesa dos direitos humanos, leis de proteção às mulheres, aos migrantes e tantos outros setores vulneráveis.
A direção do país agora será de Macri, um empresário conservador e neoliberal, que depois de presidir o clube Boca Juniors foi por oito anos o prefeito da cidade de Buenos Aires. A partir das análises de suas opiniões (mesmo que nunca tenha sido apresentado algo similar a um programa de governo), prenuncia-se a aplicação de um profundo ajuste neoliberal, com uma forte desvalorização do peso em relação ao dólar, além de um acordo com os “fondos buitre”, uma “nova relação” com o Fundo Monetário Internacional e liberdade de compra e venda no mercado de câmbio. Rigoroso ajuste fiscal, política monetária ortodoxa e abertura da economia às importações completam o programa econômico de Macri.
Apesar da vitória, Macri não terá vida fácil depois de 10 de dezembro (dia de sua posse). Sua vitória se deu por uma margem muito estreita, com uma diferença de apenas três pontos. Tendo que enfrentar uma crise econômica mundial e sem uma maioria parlamentar, vai enfrentar a oposição da maioria dos governadores provinciais, e a desconfiança de metade dos eleitores. Macri encontrará dificuldades para desmontar o aparelho de Estado construído na última década, assim como para eliminar os subsídios aos serviços públicos ou planos de saúde. Tudo indica que serão anos de muitos embates políticos no país.
O fato é que – assim como em outros países da região – não se produziu na Argentina nada parecido com uma revolução, mas os últimos doze anos foram marcados pela implementação de políticas públicas que levaram aos níveis mais baixos de desemprego dos últimos setenta anos, ao nível de equidade de oportunidades mais favoráveis de que se tem notícia no país, e a um novo posicionamento regional e internacional.
Embora pareça pouco, os avanços sociais obtidos na Argentina – assim como no Brasil, na Bolívia ou Venezuela – jamais foram digeridos pela velha direita golpista do continente, que, em momento algum, se conformou com o pouco que se fez em termos de redução da desigualdade.
Para além de todas as críticas que se possa fazer ao Kirchnerismo, a verdade é que a Argentina mudou pra melhor nos últimos doze anos. O país vinha avançando em termos de distribuição de renda e afirmação dos direitos humanos. Mas, o que se espera daqui para frente é um cenário bem diferente. E a velha direita argentina, como se sabe, jamais teve qualquer escrúpulo para impor ao país a prevalência de seus interesses sobre os da maioria de seu povo.
No último domingo, um pouco antes das 10 horas da noite, Daniel Scioli abandonava o cenário montado em seu comando de campanha para, em um telefonema rápido, reconhecer a derrota ao seu oponente Mauricio Macri, líder do Cambiemos. Já na primeira manhã após o resultado, o conservador periódico La Nacion publicava um editorial criticando enfaticamente a punição de criminosos que agiram durante a ditadura naquele país. Na campanha, Macri havia anunciado o fim do “negócio” dos Direitos Humanos.
Apesar da nova roupagem, Macri representa os mesmos velhos interesses da direita argentina e nem se incomoda em aparecer como serviçal do governo norte-americano, conforme ficou evidente nas conversas que o mesmo manteve com a Embaixada dos EUA – tudo devidamente exposto pelo Wikileaks. Sua Fundação, Crer e Crescer, mantém relações bem conhecidas pelo público com o Instituto Republicano dos EUA.
Macri é expressão de uma “nova velha direita” latino-americana. Uma direita que, nos últimos anos, se articulou em torno de grupos conservadores de mídia e instituições privadas, como o Instituto Millenium, fazendo uma oposição feroz e articulada aos governos populares da região. Não foi por acaso que Lilian Tintori, esposa de Leopoldo Lopez, adversário do chavismo na Venezuela, viajou até Buenos Aires no domingo para cumprimentar o presidente eleito.
Da eleição realizada no último domingo sai vitoriosa uma direita favorável aos interesses norte-americanos na região e tolerante com os crimes cometidos durante a ditadura. E o editorial de La Nacion demonstra um pouco do apetite da direita argentina em seu retorno ao governo central. Seus alvos principais serão as políticas sociais e de direitos humanos desenvolvidas durante a Era Kirchner.
Voltando ao domingo, o discurso geral entre os correligionários e apoiadores de Scioli era de reorganizar o partido e volver a la resistencia. Resistência para que se “cuiden estos logros y estos nuevos derechos, que fueron, inclusive, ampliados”, como pronunciou em seu discurso final. Assim se encerraram os doze anos de governo Kirchnerista, maior responsável por tirar a Argentina da enorme crise que se abateu sobre o país no biênio 2001 – 2002, implementando medidas que priorizaram a distribuição de renda, a defesa dos direitos humanos, leis de proteção às mulheres, aos migrantes e tantos outros setores vulneráveis.
A direção do país agora será de Macri, um empresário conservador e neoliberal, que depois de presidir o clube Boca Juniors foi por oito anos o prefeito da cidade de Buenos Aires. A partir das análises de suas opiniões (mesmo que nunca tenha sido apresentado algo similar a um programa de governo), prenuncia-se a aplicação de um profundo ajuste neoliberal, com uma forte desvalorização do peso em relação ao dólar, além de um acordo com os “fondos buitre”, uma “nova relação” com o Fundo Monetário Internacional e liberdade de compra e venda no mercado de câmbio. Rigoroso ajuste fiscal, política monetária ortodoxa e abertura da economia às importações completam o programa econômico de Macri.
Apesar da vitória, Macri não terá vida fácil depois de 10 de dezembro (dia de sua posse). Sua vitória se deu por uma margem muito estreita, com uma diferença de apenas três pontos. Tendo que enfrentar uma crise econômica mundial e sem uma maioria parlamentar, vai enfrentar a oposição da maioria dos governadores provinciais, e a desconfiança de metade dos eleitores. Macri encontrará dificuldades para desmontar o aparelho de Estado construído na última década, assim como para eliminar os subsídios aos serviços públicos ou planos de saúde. Tudo indica que serão anos de muitos embates políticos no país.
O fato é que – assim como em outros países da região – não se produziu na Argentina nada parecido com uma revolução, mas os últimos doze anos foram marcados pela implementação de políticas públicas que levaram aos níveis mais baixos de desemprego dos últimos setenta anos, ao nível de equidade de oportunidades mais favoráveis de que se tem notícia no país, e a um novo posicionamento regional e internacional.
Embora pareça pouco, os avanços sociais obtidos na Argentina – assim como no Brasil, na Bolívia ou Venezuela – jamais foram digeridos pela velha direita golpista do continente, que, em momento algum, se conformou com o pouco que se fez em termos de redução da desigualdade.
Para além de todas as críticas que se possa fazer ao Kirchnerismo, a verdade é que a Argentina mudou pra melhor nos últimos doze anos. O país vinha avançando em termos de distribuição de renda e afirmação dos direitos humanos. Mas, o que se espera daqui para frente é um cenário bem diferente. E a velha direita argentina, como se sabe, jamais teve qualquer escrúpulo para impor ao país a prevalência de seus interesses sobre os da maioria de seu povo.
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