Por Altamiro Borges
Em 1964, a Federação das Indústrias de São Paulo, a outrora poderosa Fiesp, participou ativamente da conspiração para derrubar o presidente João Goulart. No livro “Golpe de Estado”, os jornalistas Palmério Dória e Mylton Severiano descrevem como a entidade financiou os golpistas e apoiou a ditadura militar, que matou e torturou muitos brasileiros. Agora, passados 51 anos, a Fiesp volta a escancarar o seu viés fascista. Na segunda-feira (15), o oportunista Paulo Skaf, que tomou de assalto a associação patronal, anunciou seu apoio formal ao impeachment de Dilma. Já no domingo, durante a deprimente marcha golpista na Avenida Paulista, a entidade que congrega inúmeros sonegadores distribuiu milhares de “Patos”, o símbolo da sua campanha pela redução dos impostos.
A postura da Fiesp reflete, em parte, o pensamento conservador, elitista e direitista dos industriais paulistas. Segundo o noticiário, a entidade promoveu uma pesquisa interna com 1.113 empresas no Estado e 85,4% delas se manifestaram favoráveis ao impeachment. A mídia patronal não dá detalhes da enquete e nem questiona sua metodologia, mas dá como certo que “a maior parte do empresariado paulista é favorável ao afastamento da presidente Dilma” – festeja o site da revista Época. Por outro lado, porém, a postura da entidade espelha o comportamento golpista do seu questionável presidente, Paulo Skaf. Filiado ao PMDB, o mesmo partido do “ético” Eduardo Cunha, o empresário já disputou duas vezes o governo de São Paulo (2010 e 2014) e foi escorraçado nas urnas.
Antes mesmo da divulgação da “pesquisa”, Paulo Skaf já estava metido nos conchavos de bastidores pelo impeachment de Dilma. Segundo a própria mídia, ele se apresentava como interlocutor junto ao patronato do vice-presidente Michel Temer, que não esconde mais sua traição e seu desejo de ocupar o Palácio do Planalto. Na semana passada, Paulo Skaf já havia antecipado a “posição formal da Fiesp”. Em entrevista coletiva, o velhaco oportunista até polemizou sobre as razões do impeachment:
Em 1964, a Federação das Indústrias de São Paulo, a outrora poderosa Fiesp, participou ativamente da conspiração para derrubar o presidente João Goulart. No livro “Golpe de Estado”, os jornalistas Palmério Dória e Mylton Severiano descrevem como a entidade financiou os golpistas e apoiou a ditadura militar, que matou e torturou muitos brasileiros. Agora, passados 51 anos, a Fiesp volta a escancarar o seu viés fascista. Na segunda-feira (15), o oportunista Paulo Skaf, que tomou de assalto a associação patronal, anunciou seu apoio formal ao impeachment de Dilma. Já no domingo, durante a deprimente marcha golpista na Avenida Paulista, a entidade que congrega inúmeros sonegadores distribuiu milhares de “Patos”, o símbolo da sua campanha pela redução dos impostos.
A postura da Fiesp reflete, em parte, o pensamento conservador, elitista e direitista dos industriais paulistas. Segundo o noticiário, a entidade promoveu uma pesquisa interna com 1.113 empresas no Estado e 85,4% delas se manifestaram favoráveis ao impeachment. A mídia patronal não dá detalhes da enquete e nem questiona sua metodologia, mas dá como certo que “a maior parte do empresariado paulista é favorável ao afastamento da presidente Dilma” – festeja o site da revista Época. Por outro lado, porém, a postura da entidade espelha o comportamento golpista do seu questionável presidente, Paulo Skaf. Filiado ao PMDB, o mesmo partido do “ético” Eduardo Cunha, o empresário já disputou duas vezes o governo de São Paulo (2010 e 2014) e foi escorraçado nas urnas.
Antes mesmo da divulgação da “pesquisa”, Paulo Skaf já estava metido nos conchavos de bastidores pelo impeachment de Dilma. Segundo a própria mídia, ele se apresentava como interlocutor junto ao patronato do vice-presidente Michel Temer, que não esconde mais sua traição e seu desejo de ocupar o Palácio do Planalto. Na semana passada, Paulo Skaf já havia antecipado a “posição formal da Fiesp”. Em entrevista coletiva, o velhaco oportunista até polemizou sobre as razões do impeachment:
“Dizer que é golpe é uma apelação. O que posso dizer é que as coisas não podem continuar como estão. Há uma grave crise política e a culpa é do governo brasileiro, que perdeu a sua credibilidade. Acho muito difícil o governo resgatar a confiança da sociedade brasileira... São dois caminhos: ou o governo resgata a sua credibilidade, o que acho impossível, ou haverá a necessidade de mudança. Essa mudança pode ser por meio do impeachment, renúncia ou outra forma. Estender essa situação vai custar muito caro para a nação brasileira", esbravejou o golpista. Agora, com a “posição formal da Fiesp”, o rejeitado nas urnas tenta recuperar o seu cacife político entre os próprios empresários.
Na sua frustrada ambição política, Paulo Skaf acabou se desgastando. Ele já foi acusado – inclusive por outras líderes empresariais – de usar a estrutura e os recursos da Fiesp para atingir seus objetivos. Ele é quase uma figura obrigatória – e chata – nas telinhas da televisão com os anúncios publicitários financiados pela entidade e pelo Sesi (Serviço Social da Indústria). Muitos dos seus pares questionam sua custosa exposição midiática, sua postura de caudilho e seus métodos truculentos na presidência da Fiesp. Caso sua nova jogada golpista dê zebra, ele é que poderá sofrer impeachment na entidade.
Sobre as críticas ao oportunismo de Paulo Skaf no meio empresarial, vale conferir artigo publicado na Folha em 23 de dezembro de 2014:
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Golpe na Fiesp
Roberto Giannetti da Fonseca
Os sindicatos patronais associados à Fiesp (Federação de Indústrias do Estado de São Paulo) foram convocados às pressas para comparecer no dia 24 de novembro à uma assembleia-geral extraordinária da instituição. O objetivo era discutir a alteração de seus estatutos para prorrogar o período de mandato da atual diretoria, o qual expiraria legalmente em setembro de 2015.
Em nenhum momento até a data da assembleia foi esclarecida qual seria a obscura motivação para essa medida, que fere a tradição histórica da casa da indústria do Estado de São Paulo, a qual prevê a alternância de direção a cada período máximo de dois mandatos consecutivos de quatro anos cada um.
Haveria alguma crise financeira, institucional ou jurídica não revelada que, por ventura, motivasse legitimamente essa prorrogação de mandato da atual diretoria e o consequente cancelamento das eleições ordinárias previstas para ocorrer entre abril e setembro de 2015?
Diante da crise conjuntural e estrutural por que passa a indústria brasileira, seriam os atuais integrantes da diretoria da Fiesp os únicos empresários habilitados e capacitados a defender os interesses do setor industrial diante dos governos federal e estadual?
Ou seria, por acaso, motivada pelo risco de uma eventual violação dos artigos 46 e 48 dos estatutos que impedem a Fiesp de promover candidaturas a cargos eletivos políticos-partidários estranhos aos seus quadros administrativos?
Em defesa da legalidade dos estatutos da Fiesp levantaram-se algumas poucas vozes de importantes sindicatos de abrangência nacional, que nada ou pouco dependem da Fiesp no seu dia a dia, mas que se sentem ameaçados pela crescente perda de credibilidade da classe empresarial diante da "politização obsessiva e desvairada" da Fiesp nos últimos quatro anos.
Eles insistem que sejam preservadas as determinações estatutárias para a realização das eleições em 2015 para a diretoria e para o conselho fiscal, e se opõem ao golpe de alteração de estatuto ocorrido nesta última assembleia-geral.
Dos 131 sindicatos patronais filiados à Fiesp, apurou-se que 34 não compareceram ou se abstiveram de votar, 5 decidiram votar contra a prorrogação, e pouco mais de 2/3 deles, ou seja, 92 apoiaram a alteração do estatuto.
A prorrogação de mandato foi consumada assim como foram eleitos por votação indireta os generais durante o regime militar. Havia um cheiro de AI-5 no ar e muitos dos votantes cochichavam entre si temerosos da absurda situação que estavam endossando naquele momento. A consciência, no fundo, registra e dói.
No momento em que o país atravessa um quadro crítico de equilíbrio macroeconômico, com ênfase na crescente crise do setor industrial, a Fiesp, pela sua tradição de digna e independente representante da indústria paulista, não deveria aceitar atitudes casuísticas e desmotivadas de razão, que venham a ensejar a perda de credibilidade e de reconhecimento junto à sociedade civil e às autoridades governamentais.
Política empresarial e política partidária não se confundem e têm de atuar de forma isolada. Queimaram-se pontes de relacionamentos dessa instituição com os governos federal, estadual e municipal, assim como com o PSB, PSDB, PT e PMDB. Um feito difícil de ser repetido ou igualado por outrem, no qual seus próprios autores insistem em não reconhecer o seu "mérito", num caso clássico de autoengano.
Manifesto minha solitária opinião de cidadão, empresário e ex-diretor de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Fiesp. Esse é o legítimo sentimento que me move, esperando que no futuro próximo as lideranças empresariais do país se unam nesta manifestação pela defesa da imagem e da legalidade de suas instituições, atualmente tão delapidadas de representatividade.
ROBERTO GIANNETTI DA FONSECA, 64, economista, é presidente da Kaduna Consultoria. Foi diretor de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Fiesp - Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (2004-2013).
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Sobre as críticas ao oportunismo de Paulo Skaf no meio empresarial, vale conferir artigo publicado na Folha em 23 de dezembro de 2014:
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Golpe na Fiesp
Roberto Giannetti da Fonseca
Os sindicatos patronais associados à Fiesp (Federação de Indústrias do Estado de São Paulo) foram convocados às pressas para comparecer no dia 24 de novembro à uma assembleia-geral extraordinária da instituição. O objetivo era discutir a alteração de seus estatutos para prorrogar o período de mandato da atual diretoria, o qual expiraria legalmente em setembro de 2015.
Em nenhum momento até a data da assembleia foi esclarecida qual seria a obscura motivação para essa medida, que fere a tradição histórica da casa da indústria do Estado de São Paulo, a qual prevê a alternância de direção a cada período máximo de dois mandatos consecutivos de quatro anos cada um.
Haveria alguma crise financeira, institucional ou jurídica não revelada que, por ventura, motivasse legitimamente essa prorrogação de mandato da atual diretoria e o consequente cancelamento das eleições ordinárias previstas para ocorrer entre abril e setembro de 2015?
Diante da crise conjuntural e estrutural por que passa a indústria brasileira, seriam os atuais integrantes da diretoria da Fiesp os únicos empresários habilitados e capacitados a defender os interesses do setor industrial diante dos governos federal e estadual?
Ou seria, por acaso, motivada pelo risco de uma eventual violação dos artigos 46 e 48 dos estatutos que impedem a Fiesp de promover candidaturas a cargos eletivos políticos-partidários estranhos aos seus quadros administrativos?
Em defesa da legalidade dos estatutos da Fiesp levantaram-se algumas poucas vozes de importantes sindicatos de abrangência nacional, que nada ou pouco dependem da Fiesp no seu dia a dia, mas que se sentem ameaçados pela crescente perda de credibilidade da classe empresarial diante da "politização obsessiva e desvairada" da Fiesp nos últimos quatro anos.
Eles insistem que sejam preservadas as determinações estatutárias para a realização das eleições em 2015 para a diretoria e para o conselho fiscal, e se opõem ao golpe de alteração de estatuto ocorrido nesta última assembleia-geral.
Dos 131 sindicatos patronais filiados à Fiesp, apurou-se que 34 não compareceram ou se abstiveram de votar, 5 decidiram votar contra a prorrogação, e pouco mais de 2/3 deles, ou seja, 92 apoiaram a alteração do estatuto.
A prorrogação de mandato foi consumada assim como foram eleitos por votação indireta os generais durante o regime militar. Havia um cheiro de AI-5 no ar e muitos dos votantes cochichavam entre si temerosos da absurda situação que estavam endossando naquele momento. A consciência, no fundo, registra e dói.
No momento em que o país atravessa um quadro crítico de equilíbrio macroeconômico, com ênfase na crescente crise do setor industrial, a Fiesp, pela sua tradição de digna e independente representante da indústria paulista, não deveria aceitar atitudes casuísticas e desmotivadas de razão, que venham a ensejar a perda de credibilidade e de reconhecimento junto à sociedade civil e às autoridades governamentais.
Política empresarial e política partidária não se confundem e têm de atuar de forma isolada. Queimaram-se pontes de relacionamentos dessa instituição com os governos federal, estadual e municipal, assim como com o PSB, PSDB, PT e PMDB. Um feito difícil de ser repetido ou igualado por outrem, no qual seus próprios autores insistem em não reconhecer o seu "mérito", num caso clássico de autoengano.
Manifesto minha solitária opinião de cidadão, empresário e ex-diretor de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Fiesp. Esse é o legítimo sentimento que me move, esperando que no futuro próximo as lideranças empresariais do país se unam nesta manifestação pela defesa da imagem e da legalidade de suas instituições, atualmente tão delapidadas de representatividade.
ROBERTO GIANNETTI DA FONSECA, 64, economista, é presidente da Kaduna Consultoria. Foi diretor de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Fiesp - Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (2004-2013).
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1 comentários:
Os culpados da estagnação econômica são os próprios empresários. A indústria brasileira foi sucateada no governo FHC e não tem competitividade. O PIB brasileiro foi sustentado durante o governo Lula pela produção agropecuária e exportação de minérios. Não é justo acusar apenas o governo atual pela recessão.
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