Kiril e Francisco, em Cuba. Foto: Actualidad RT |
A mídia internacional ressalta a visita do patriarca Kirill a Cuba e o seu encontro com o papa Francisco.
Porém a mídia brasileira guarda um estranho e absoluto silêncio. Ainda ressoa nas redes sociais um dos lemas prediletos da direita: “Vai pra Cuba!” E não é que Suas Santidades Francisco e Kirill escolheram exatamente Cuba para seu encontro histórico. Kirill está de visita a Havana – mais tarde virá ao Brasil – e Francisco estará viajando ao México. Vão se encontrar no aeroporto José Marti de Havana, especialmente preparado para o importante evento. Poderiam ter escolhido uma outra sede, por exemplo, a alardeada democracia da Costa Rica, ali pertinho, que nem exército tem. Francisco esteve recentemente em Cuba, Kirill é a quarta vez que pisa na Ilha. Parece que gostaram e aceitaram de bom grado “Ir pra Cuba!”.
Por que o papa Francisco e o patriarca russo Kirill escolheram Cuba para a sua histórica reunião?
O chefe da Igreja Católica Romana papa Francisco se reunirá nesta sexta-feira com o patriarca da Igreja Ortodoxa Russa Kirill no que se constitui no primeiro e único encontro entre os líderes de dois dos principais ramos do cristianismo desde que ambas se separaram em 1054, há quase um milênio.
O interesse de Francisco no encontro estava claro desde pelo menos novembro de 2014, quando ao regressar de uma viagem a Istambul, revelou que havia falado por telefone com Kirill e que lhe havia dito: “Irei aonde quiser. Chama-me e eu vou”.
Finalmente o encontro está confirmado, porém não ocorrerá nem em Moscou nem em Roma nem em nenhuma outra capital europeia e sim em Havana, Cuba, onde ambos conversarão durante cerca de duas horas numa sala de reuniões especialmente montada no aeroporto internacional José Marti.
Por quê esses líderes religiosos decidiram encontrar-se em Havana, capital de um país que até 1992 era oficialmente ateu e que é o país com menos cristãos, proporcionalmente, da América Latina?
John Allen, editor associado de Crux, uma publicação do Boston Globe e autor de 10 livros sobre o Vaticano e temas do catolicismo, considera que na escolha do local houve uma parte de sorte e outra de estratégia.
“A parte da sorte tem a ver com que o patriarca russo já tinha previsto viajar a Cuba ao mesmo tempo que o papa Francisco iria ao México, de modo que resultava prático se verem ali. A parte estratégica tem a ver com o fato de que a relação entre ambas as igrejas está muito carregada pela história europeia”, explicou Allen. “Esta relação necessita de um novo começo, por isso a reunião não poderia ocorrer na Europa nem nos Estados Unidos. Cuba é uma excelente escolha porque é amistosa para a Igreja Católica porém também para a Rússia porque foi o alido mais próximo de Moscou no continente americano.”
Por seu lado, Vakhtang Kipshidze, porta-voz do Patriarcado de Moscou da Igreja Ortodoxa, afirmou que “Cuba é ideal porque é um país principalmente católico que tem uma comunidade ortodoxa em Havana. É um lugar igualmente hospitaleiro para todos. Em contraposição, a Europa está ligada a experiências negativas e dramáticas para ambas as comunidades religiosas”.
O porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi, opinou que “no passado se tentou, sem êxito, conseguir esse encontro, nos tempos de João Paulo II e do patriarca Alexis II, levantando-se hipóteses de diferentes lugares na Europa, que é um continente muito complexo e com grande densidade histórica”.
Para John Allen, o fato de que Cuba seja percebida como um país majoritariamente secular contribui para a sua imagem de território neutro. “Encontrar-se ali não significa uma vitória do papa nem do patriarca. Simplemente decorre ser um lugar que para ambos resulta conveniente”.
Victor Gaetan, correspondente do National Catholic Register e colaborador da revista Foreign Policy, considera que a escolha de Cuba favorece o governo de Raúl Castro “ao posicionar Havana como um mediador entre Ocidente e Rússia. Pode dar a impressão que Francisco esteja fazendo concessões, todavia o que fica claro é sua disposição de cicatrizar uma ferida que já dura 1000 anos. Cuba significa um meio para alcançar um grande objetivo: a reconciliação”.
Ted Piccone, analista do programa sobre América Latina do Brookings Institution, concordou que o encontro ajudará a melhorar a imagem de Cuba no exterior. “Cuba precisa reconstruir seu capital no estrangeiro agora que já não pode limitar-se simplesmente a queixar-se dos Estados Unidos. Quer construir a imagem de que é um ator conciliador diplomático neutro como tem sido nas negociações de paz entre a Colômbia e as FARC”.
A Secretaria Geral das Nações Unidas qualificou de histórico o encontro entre o papa Francisco e o patriarca Kirill. O porta-voz Stephane Dujarric assegurou que Ban Ki-moon se sente feliz pelo encontro na Ilha caribenha.
Por que o papa Francisco e o patriarca russo Kirill escolheram Cuba para a sua histórica reunião?
O chefe da Igreja Católica Romana papa Francisco se reunirá nesta sexta-feira com o patriarca da Igreja Ortodoxa Russa Kirill no que se constitui no primeiro e único encontro entre os líderes de dois dos principais ramos do cristianismo desde que ambas se separaram em 1054, há quase um milênio.
O interesse de Francisco no encontro estava claro desde pelo menos novembro de 2014, quando ao regressar de uma viagem a Istambul, revelou que havia falado por telefone com Kirill e que lhe havia dito: “Irei aonde quiser. Chama-me e eu vou”.
Finalmente o encontro está confirmado, porém não ocorrerá nem em Moscou nem em Roma nem em nenhuma outra capital europeia e sim em Havana, Cuba, onde ambos conversarão durante cerca de duas horas numa sala de reuniões especialmente montada no aeroporto internacional José Marti.
Por quê esses líderes religiosos decidiram encontrar-se em Havana, capital de um país que até 1992 era oficialmente ateu e que é o país com menos cristãos, proporcionalmente, da América Latina?
John Allen, editor associado de Crux, uma publicação do Boston Globe e autor de 10 livros sobre o Vaticano e temas do catolicismo, considera que na escolha do local houve uma parte de sorte e outra de estratégia.
“A parte da sorte tem a ver com que o patriarca russo já tinha previsto viajar a Cuba ao mesmo tempo que o papa Francisco iria ao México, de modo que resultava prático se verem ali. A parte estratégica tem a ver com o fato de que a relação entre ambas as igrejas está muito carregada pela história europeia”, explicou Allen. “Esta relação necessita de um novo começo, por isso a reunião não poderia ocorrer na Europa nem nos Estados Unidos. Cuba é uma excelente escolha porque é amistosa para a Igreja Católica porém também para a Rússia porque foi o alido mais próximo de Moscou no continente americano.”
Por seu lado, Vakhtang Kipshidze, porta-voz do Patriarcado de Moscou da Igreja Ortodoxa, afirmou que “Cuba é ideal porque é um país principalmente católico que tem uma comunidade ortodoxa em Havana. É um lugar igualmente hospitaleiro para todos. Em contraposição, a Europa está ligada a experiências negativas e dramáticas para ambas as comunidades religiosas”.
O porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi, opinou que “no passado se tentou, sem êxito, conseguir esse encontro, nos tempos de João Paulo II e do patriarca Alexis II, levantando-se hipóteses de diferentes lugares na Europa, que é um continente muito complexo e com grande densidade histórica”.
Para John Allen, o fato de que Cuba seja percebida como um país majoritariamente secular contribui para a sua imagem de território neutro. “Encontrar-se ali não significa uma vitória do papa nem do patriarca. Simplemente decorre ser um lugar que para ambos resulta conveniente”.
Victor Gaetan, correspondente do National Catholic Register e colaborador da revista Foreign Policy, considera que a escolha de Cuba favorece o governo de Raúl Castro “ao posicionar Havana como um mediador entre Ocidente e Rússia. Pode dar a impressão que Francisco esteja fazendo concessões, todavia o que fica claro é sua disposição de cicatrizar uma ferida que já dura 1000 anos. Cuba significa um meio para alcançar um grande objetivo: a reconciliação”.
Ted Piccone, analista do programa sobre América Latina do Brookings Institution, concordou que o encontro ajudará a melhorar a imagem de Cuba no exterior. “Cuba precisa reconstruir seu capital no estrangeiro agora que já não pode limitar-se simplesmente a queixar-se dos Estados Unidos. Quer construir a imagem de que é um ator conciliador diplomático neutro como tem sido nas negociações de paz entre a Colômbia e as FARC”.
A Secretaria Geral das Nações Unidas qualificou de histórico o encontro entre o papa Francisco e o patriarca Kirill. O porta-voz Stephane Dujarric assegurou que Ban Ki-moon se sente feliz pelo encontro na Ilha caribenha.
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