Por Renata Mielli, em sua página no Facebook:
Hoje, 07 de abril, é dia do Jornalista. Não sei se temos muito o que comemorar. Acredito que o momento exige de nós, jornalistas e de toda a sociedade, uma reflexão profunda sobre esta profissão, que por diversos motivos vem se deteriorando diante do desenvolvimento das novas tecnologias, diante da pressão capitalista (sim, amigos e amigas, o capitalismo impacta sobre o fazer profissional) e diante dos impasses econômicos, políticos e culturais dos tempos atuais.
Ser jornalista e fazer jornalismo nos dias atuais tem sido uma tarefa difícil. Mas apesar dos dilemas com os quais a profissão e o profissional se defrontam, a sua existência não perdeu relevância. Não somos um profissional sem ofício.
A missão do jornalista e do jornalismo de informar a sociedade, de selecionar os acontecimentos e fatos mais importantes e transformá-los em notícia está em xeque. Porque até chegar aos grandes meios de comunicação (telejornais, revistas e jornais impressos), as notícias já são coisa do passado. Mesmo nos sites jornalísticos da internet, os acontecimentos noticiados já não o são em primeira mão. Eles já circularam antes, na maior parte das vezes, nos grupos de whatsapp, no facebook, ou foram publicados originalmente direto pelo que antes era a fonte exclusiva do jornalista. Ou seja, o deputado, por exemplo, posta direto no seu twitter ou whatsapp. Ou a Câmara dos Deputados divulga a notícia em sua página, que se transforma na fonte dos jornalistas. Claro, que há excessões, destaco antes de ser apedrejada. Mas são exatamente as excessões que confirmam a regra.
Neste novo ambiente, o jornalismo precisa se reinventar. Mas mais ainda o modelo de negócios da empresa jornalistica precisa se renovar, para sobreviver à queda da audiência, da venda de exemplares, da redução de anunciantes. Se a notícia é o que conferia valor monetário ao jornal, à revista, ao telejornal e se ela já está velha quando são divulgadas por estes meios, então ela perdeu o seu valor. As previsões alarmistas sobre o fim dos jornais já vem sendo vaticinadas há algum tempo. Eles não acabaram, mas em todo o mundo empresas jornalísticas encerram a publicação de seus veículos impressos. Os que se mantém, reduziram suas tiragens. Uma parte considerável destas empresas está mergulhada em dívidas importantes.
A consequência disso tem sido demissões em massa de jornalistas e a abusiva precarização das relações de trabalho dentro das redações. Isso cria uma situação de desvalorização da profissão, uma vez que para sobreviver, o jornalista vende sua força de trabalho a preço de babana, para garantir o pão nosso de cada dia.
Em número menor nas redações, precarizado e desvalorizado, o jornalista é assediado cotidianamente e pressionado por seus patrões para aumentar a sua produtividade. O mesmo profissional produz conteúdo para multiplataformas. A partir da definição da pauta, o mesmo jornalista tem que apurar, ir a campo cobrir o fato, ouve as fontes, faz a fotografia, muitas vezes o vídeo com o celular e escreve a notícia. Vale dizer que aquele jornalista que sai da redação para fazer a matéria é um profissional em extinção. A maioria trabalha numa mesa, de frente a um computador conectado à internet, com um rádio do lado e uma TV na parede. O ctrl C+ ctrl V virou o comando rei da notícia.
Então, na busca desesperada da notícia original, do “furo jornalístico”, da fonte exclusiva, pressionado pelo editor e pelo desejo de se diferenciar na redação e sair da condição de “operário do jornal” o jornalista comete erros graves, ou é obrigado a cometê-los para aumentar a audiência e as vendas.
Além disso, o assédio moral também ocorre para garantir que a notícia seja publicada nem sempre de acordo com os fatos e ouvidas as múltiplas fontes que participam daquele acontecimento, dando espaço ao contraditório. Não, este jornalismo praticamente deixou de existir – se é que algum dia existiu de fato como regra da profissão. O que impera nos jornais, revistas e outros veículos é a notícia espetáculo, com viés político, ideológico. O acontecimento não tem valor, mas a espetacularização dele pode ser muito rentável. Acusações e condenações midiáticas se transformam num circo. A sociedade tão acostumada ao lazer da novela, dos reality shows e seriados, embarcam na narrativa novelesca que está se consagrando no jornalismo.
E isso não se resume à cobertura da Lava Jato. Esta é a novela da vez. Talvez a mais importante pelo caráter golpista e de afronta à democracia. Mas há outros que podem ser lembrados. O caso Eloá por exemplo, foi uma narrativa novelesca e cruel para dar audiência e vender jornal. Se a Lava Jato ataca o Estado Democrático de Direito, o caso Eloá foi uma absurda violação de direitos humanos.
E tudo em nome da notícia, tudo feito sob o pretexto da informação e com a máscara da imparcialidade.
Mas em meio a crise surgem oportunidades. Percebendo a falência do jornalismo mercadoria, muitos jornalistas estão buscando outros caminhos, outras formas de manter viva a atividade jornalística. Porque o jornalismo não morreu, apesar de o modelo mercantil estar agonizando e apesar dos interesses políticos que transformam o jornalismo em panfleto.
Surgem todos os dias novos veículos, em formatos variados. Cooperativas de jornalistas, coletivos de comunicação colaborativa, sites com modelo de financiamento coletivo, blogs. Rádios e tevês comunitárias e via web se estruturam para propor uma narrativa diferente dos acontecimentos daquela que é noticiada pela grande mídia.
A tese da isenção cada vez mais cai por terra, mas cresce a percepção de que, mesmo que seja impossível ser totalmente neutro diante dos fatos, é plenamente possível e imperiosamente desejável que se seja plural. Que se permita o confronto dos pontos de vistas distintos, que se estabeleça o debate entre as partes diferentes para se produzir uma notícia de qualidade.
É disso que o jornalismo está precisando e é isso que o jornalista precisa buscar. Muitos dizem que o compromisso do jornalista é com a notícia. Eu prefiro dizer que o compromisso do jornalista deve ser com a democracia e com os direitos individuais e coletivos. Porque a notícia não precisa tanto mais do jornalista como antes, mas a democracia está carente demais deste profissional.
Parabéns a todos os amigos e amigas que constroem e fazem da sua profissão um instrumento da democracia.
Hoje, 07 de abril, é dia do Jornalista. Não sei se temos muito o que comemorar. Acredito que o momento exige de nós, jornalistas e de toda a sociedade, uma reflexão profunda sobre esta profissão, que por diversos motivos vem se deteriorando diante do desenvolvimento das novas tecnologias, diante da pressão capitalista (sim, amigos e amigas, o capitalismo impacta sobre o fazer profissional) e diante dos impasses econômicos, políticos e culturais dos tempos atuais.
Ser jornalista e fazer jornalismo nos dias atuais tem sido uma tarefa difícil. Mas apesar dos dilemas com os quais a profissão e o profissional se defrontam, a sua existência não perdeu relevância. Não somos um profissional sem ofício.
A missão do jornalista e do jornalismo de informar a sociedade, de selecionar os acontecimentos e fatos mais importantes e transformá-los em notícia está em xeque. Porque até chegar aos grandes meios de comunicação (telejornais, revistas e jornais impressos), as notícias já são coisa do passado. Mesmo nos sites jornalísticos da internet, os acontecimentos noticiados já não o são em primeira mão. Eles já circularam antes, na maior parte das vezes, nos grupos de whatsapp, no facebook, ou foram publicados originalmente direto pelo que antes era a fonte exclusiva do jornalista. Ou seja, o deputado, por exemplo, posta direto no seu twitter ou whatsapp. Ou a Câmara dos Deputados divulga a notícia em sua página, que se transforma na fonte dos jornalistas. Claro, que há excessões, destaco antes de ser apedrejada. Mas são exatamente as excessões que confirmam a regra.
Neste novo ambiente, o jornalismo precisa se reinventar. Mas mais ainda o modelo de negócios da empresa jornalistica precisa se renovar, para sobreviver à queda da audiência, da venda de exemplares, da redução de anunciantes. Se a notícia é o que conferia valor monetário ao jornal, à revista, ao telejornal e se ela já está velha quando são divulgadas por estes meios, então ela perdeu o seu valor. As previsões alarmistas sobre o fim dos jornais já vem sendo vaticinadas há algum tempo. Eles não acabaram, mas em todo o mundo empresas jornalísticas encerram a publicação de seus veículos impressos. Os que se mantém, reduziram suas tiragens. Uma parte considerável destas empresas está mergulhada em dívidas importantes.
A consequência disso tem sido demissões em massa de jornalistas e a abusiva precarização das relações de trabalho dentro das redações. Isso cria uma situação de desvalorização da profissão, uma vez que para sobreviver, o jornalista vende sua força de trabalho a preço de babana, para garantir o pão nosso de cada dia.
Em número menor nas redações, precarizado e desvalorizado, o jornalista é assediado cotidianamente e pressionado por seus patrões para aumentar a sua produtividade. O mesmo profissional produz conteúdo para multiplataformas. A partir da definição da pauta, o mesmo jornalista tem que apurar, ir a campo cobrir o fato, ouve as fontes, faz a fotografia, muitas vezes o vídeo com o celular e escreve a notícia. Vale dizer que aquele jornalista que sai da redação para fazer a matéria é um profissional em extinção. A maioria trabalha numa mesa, de frente a um computador conectado à internet, com um rádio do lado e uma TV na parede. O ctrl C+ ctrl V virou o comando rei da notícia.
Então, na busca desesperada da notícia original, do “furo jornalístico”, da fonte exclusiva, pressionado pelo editor e pelo desejo de se diferenciar na redação e sair da condição de “operário do jornal” o jornalista comete erros graves, ou é obrigado a cometê-los para aumentar a audiência e as vendas.
Além disso, o assédio moral também ocorre para garantir que a notícia seja publicada nem sempre de acordo com os fatos e ouvidas as múltiplas fontes que participam daquele acontecimento, dando espaço ao contraditório. Não, este jornalismo praticamente deixou de existir – se é que algum dia existiu de fato como regra da profissão. O que impera nos jornais, revistas e outros veículos é a notícia espetáculo, com viés político, ideológico. O acontecimento não tem valor, mas a espetacularização dele pode ser muito rentável. Acusações e condenações midiáticas se transformam num circo. A sociedade tão acostumada ao lazer da novela, dos reality shows e seriados, embarcam na narrativa novelesca que está se consagrando no jornalismo.
E isso não se resume à cobertura da Lava Jato. Esta é a novela da vez. Talvez a mais importante pelo caráter golpista e de afronta à democracia. Mas há outros que podem ser lembrados. O caso Eloá por exemplo, foi uma narrativa novelesca e cruel para dar audiência e vender jornal. Se a Lava Jato ataca o Estado Democrático de Direito, o caso Eloá foi uma absurda violação de direitos humanos.
E tudo em nome da notícia, tudo feito sob o pretexto da informação e com a máscara da imparcialidade.
Mas em meio a crise surgem oportunidades. Percebendo a falência do jornalismo mercadoria, muitos jornalistas estão buscando outros caminhos, outras formas de manter viva a atividade jornalística. Porque o jornalismo não morreu, apesar de o modelo mercantil estar agonizando e apesar dos interesses políticos que transformam o jornalismo em panfleto.
Surgem todos os dias novos veículos, em formatos variados. Cooperativas de jornalistas, coletivos de comunicação colaborativa, sites com modelo de financiamento coletivo, blogs. Rádios e tevês comunitárias e via web se estruturam para propor uma narrativa diferente dos acontecimentos daquela que é noticiada pela grande mídia.
A tese da isenção cada vez mais cai por terra, mas cresce a percepção de que, mesmo que seja impossível ser totalmente neutro diante dos fatos, é plenamente possível e imperiosamente desejável que se seja plural. Que se permita o confronto dos pontos de vistas distintos, que se estabeleça o debate entre as partes diferentes para se produzir uma notícia de qualidade.
É disso que o jornalismo está precisando e é isso que o jornalista precisa buscar. Muitos dizem que o compromisso do jornalista é com a notícia. Eu prefiro dizer que o compromisso do jornalista deve ser com a democracia e com os direitos individuais e coletivos. Porque a notícia não precisa tanto mais do jornalista como antes, mas a democracia está carente demais deste profissional.
Parabéns a todos os amigos e amigas que constroem e fazem da sua profissão um instrumento da democracia.
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