Recomendaria o bom-senso que os plantonistas da Lava Jato tivessem uma manhã tranquila.
Do ponto de vista técnico, jurídico, nada fundamentaria uma decisão de Sérgio Moro de, a partir do espetáculo pirotécnico dos rapazes da Força Tarefa da Força Tarefa do MP, decretar a prisão de Lula.
É quase uma unanimidade jurídica que lhe falta densidade mínima para isso e uma unanimidade política – amebas não contam como dissenção – de que a profusão de “power points” (ferramenta que se presta, como se sabe, para adestrar e não para refletir) de Deltan Dallagnol se presta para espetáculos e não para convencimento jurídico.
Ocorre que não estamos no reinado do bom-senso, mas do espetáculo.
E de um espetáculo de cálculos políticos que são absolutamente insondáveis por quem, advogado ou não, ainda conduz seu raciocínio por alguma lógica jurídica, não apenas pela lógica política de um projeto fanático, onde um beato crê-se dono da verdade e capaz de enfeixar o poder que o fanatismo lhe outorga.
Ainda mais quando julga que não lhe há mais limites: as trombetas da mídia o saudarão e os velhos e fracos integrantes das instituições que o poderiam deter estão acoelhados, trêmulos ou, quando não, cúmplices do Centurião das Araucárias.
Temos hoje, apontarei a exceção a seguir, “miniministros” do STF, minilíderes da magistratura, miniOAB, minichefes do Legislativo e um minipresidente da República, nenhum deles com estatura moral para ser freio ao despotismo provinciano.
Salvo, por paradoxal que pareça, um: Gilmar Mendes, que oscila entre a conveniência política que tudo isso lhe traz e o sentimento, óbvio, que a autoridade (a sua) sobre o Judiciário está em risco.
Ou alguém imagina um Fachin, um Barroso, uma Weber se insurgindo contra um arreganho destes? Fux, talvez? Ou Teori Zavascki, ali entre o Natal e o Carnaval, dizendo que aquilo não poderia ser feito?
Por isso, mesmo improvável pelo lado jurídico a desaconselhá-lo, ninguém acredite que não teremos o guapo condenado Japonês da Federal com seu aparato bélico, seu colete `prova de bala e a tornozeleira eletrônica de condenado por contrabando protagonizando a cena de escoltar o seu troféu máximo.
Na madrugada de amanhã, na outra, ou ainda numa outra, mais distante.
Não se pode prever exatamente quando, mas se pode prever exatamente o quê.
Como não se pode prever o que isso despertará nas ruas, com um governo que mal tem 10% de popularidade aposto que também Michel Temer, ainda que na sua miudez, esteja apavorado diante de um novo incêndio de confronto social.
O país está à mercê de um homem, cuja indizível fome de poder e projeção, adubada por dois anos ininterruptos de mídia e conveniência política fazem lembrar a planta carnívora de Seymour, em sua Pequena Loja dos Horrores.
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