Com convidados que mais pareciam formar uma convenção do PSDB, entre eles, Geraldo Alckmin, Aécio Neves, João Doria, José Serra e Alexandre de Moraes (ministro da Justiça), a revista IstoÉ promoveu na noite de ontem (6), uma festa para premiar o presidente Michel Temer como o "grande brasileiro do ano de 2016", bem como o juiz federal de primeira instância Sergio Moro, eleito pelos critérios da revista o "brasileiro do ano na Justiça".
Durante a cerimônia, numa das casas de espetáculos preferidas da classe média paulistana, o Citibank Hall, Moro em momento algum pareceu incomodado por permanecer no palco ao lado do presidente do PSDB, o senador Aécio Neves, com quem conversava todo sorridente e descontraído, aos cochichos e muitas vezes rindo solto.
Recordemos, Aécio é citado por muitos dos delatores premiados da Lava Jato – como o doleiro Alberto Youssef, e executivos das empreiteiras Odebrecht e OAS – e é investigado pelo caso conhecido como Lista de Furnas .
Mas na festiva noite organizada pela Editora Três, dona da IstoÉ, a atenção de Moro não estava voltada apenas para Aécio. Ele e a esposa, Rosangela Moro, deixaram-se fotografar alegremente em um animado bate-papo com outro chefão tucano, o ministro das Relações Exteriores, José Serra.
Recordemos também, Serra já foi citado inúmeras vezes por delatores de empreiteiras e acusado, no âmbito da Lava Jato por executivos da Odebrecht de ter recebido R$ 23 milhões via caixa dois, em contas na Suíça.
Mas nada disso abalou o "bom astral" do juiz federal, visivelmente à vontade durante todo o tempo que durou o festivo encontro.
Ao agradecer pelo prêmio dado pela revista, Moro cumprimentou Michel Temer de maneira protocolar e disse que o ano "foi muito cansativo". Por sua vez, Temer discursou sem citar Moro, deixando no ar a impressão de que estava um tanto chateado, talvez por ter sido excluído dos melhores momentos das animadas conversas do juiz com os tucanos, como mostram algumas fotos do evento.
No final da festa, Moro e políticos, na grande maioria encrencados na Lava Jato, fizeram um selfie coletiva, uma verdadeira celebração entre amigos.
Mas o evento da IstoÉ de ontem não foi o primeiro da semana em que Moro confraternizou-se com tucanos envolvidos em caso de corrupção.
Na segunda-feira (5), o governador de Mato Grosso, Pedro Taques, lançou o novo Portal Transparência do Poder Executivo do estado, numa cerimônia que teve Sergio Moro como convidado de honra. Até aí nada de mais, não fosse o fato de, na semana passada, o empresário Giovani Guizardi afirmar, em mais um acordo de delação premiada, que o esquema de corrupção na Secretaria de Educação do Mato Grosso, investigado na operação Rêmora da Polícia Federal, teve origem no pagamento de dívidas de campanha do tucano Pedro Taques ao governo estadual, em 2014. Segundo o empresário, foram repassados R$ 300 mil para o então candidato e que outro empresário integrante do esquema, teria dado mais R$ 10 milhões que foram "investidos" na campanha de Taques.
A operação investiga irregularidades em licitações para construção e reforma de escolas realizadas pela pasta de Educação do Mato Grosso em outubro de 2015. O esquema, segundo o Ministério Público, envolve servidores públicos e empresários. De acordo com o MP, os servidores recebiam informações privilegiadas sobre as licitações e organizavam reuniões com empreiteiros para fraudar as licitações.
De volta ao futuro
A menos que a festa de premiação tenha saído de graça, o que certamente não foi o caso, a Editora Três deveria ter economizado os recursos que vêm recebendo pelas publicidades que passou a receber do governo Temer para pagar seus funcionários. A empresa acumula problemas na justiça trabalhista.
Ontem mesmo, dia da festa do "puxa-saquismo", o portal Comunique-se publicou que, a Editora Três, em recuperação judicial, decidiu parcelar em cinco vezes o 13° dos profissionais da IstoÉ.
Além disso, um processo movido por uma ex-funcionária pode colocar à venda a mansão da família Alzugaray, dona da editora, avaliada em R$ 2,8 milhões, depois que uma juíza da 44ª Vara do Trabalho rejeitou pedido da família para que sua mansão no bairro do Morumbi não fosse penhorada para pagar a dívida trabalhista da profissional, atualmente estimada em cerca de R$ 1,4 milhão.
Ao Comunique-se, o advogado da ex-funcionária da revista Kiyomori Mori avalia a situação da empresa como "lamentável". "Infelizmente a IstoÉ sempre escolhe o caminho que mais prejudica o jornalista, como parcelar o 13º salário, mas quando casos assim chegam à Justiça e terminam em condenações elevadas, ela reclama do que chama de 'custo Brasil'".
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