Por João Sicsú, na revista CartaCapital:
Está em curso uma crise econômica mundial que teve início em 2007-8 nos Estados Unidos. Ficou mais nítida quando chegou de forma intensa à Europa em 2011-2012. Hoje, vivemos o seu prolongamento. Ainda estamos dentro da crise iniciada com a quebra do Lheman Brothers (e dos títulos americanos subprime) que se espalhou para a vida real, social e política mundial e que ainda não foi superada.
Desde o fundo do poço da crise, houve uma mudança no padrão mundial de taxas de crescimento. Segundo dados do Banco Mundial, o mundo crescia em média entre 4 e 5% ao ano no período entre 2004 e 2008. Em 2009, encolheu 2%. Hoje, cresce entre 2 e 3% ao ano.
A crise atual guarda fortes semelhanças com a crise de 1929. A crise dos dias de hoje também teve início na maior economia do mundo. Tem se estendido por muitos anos. Houve e há suspiros de aparente superação. Manteve as economias em estado de fragilidade. Transformou, para algumas economias, o desemprego em problema agudo e epidêmico. Tem gerado expectativas voláteis e extremadas. Tem provocado descrédito nas propostas políticas e econômicas de continuidade. Tem enfraquecido governos e estruturas de Estado.
No século passado, os Estados Unidos reagiram à crise de 1929, sob a liderança F.D. Roosevelt, lançando o conhecido New Deal, que era um ousado programa de gastos públicos. Foi relativamente bem-sucedido – não houve uma recuperação linear, existiram ainda solavancos ao longo dos anos 1930. A mesmice do laissez-faire foi abandonada e Roosevelt tomou a iniciativa política com um programa que buscava reduzir o desemprego. A inovação americana foi o keynesianismo.
Durante os anos 1930, a Alemanha ficou paralisada porque estava contaminada pelas ideias do liberalismo econômico. Deixou o caminho aberto para A.Hitler ganhar hegemonia política e cultural, transformar o Estado, encontrar culpados internos e externos e fazer guerra. A Alemanha se tornou nacional-ariana, antiliberal econômica e defensora dos seus despossuídos e desempregados. Perseguiu democratas, comunistas, homossexuais, ciganos, negros e judeus. A inovação alemã foi o nazismo.
Da paralisia política alemã e do crescente desemprego surgiu o nazismo. Da iniciativa política americana e do aumento do desemprego surgiu o keynesianismo. Ambos os movimentos foram bem-sucedidos na busca da elevação do emprego, embora somente com a Segunda Grande Guerra que as principais economias se aqueceram e houve a superação definitiva da crise iniciada em 1929.
Ficaram as lições. O Brasil em 2009 tomou iniciativas para escapar da crise internacional. Foi bem-sucedido. Adotou políticas de gastos públicos e de ampliação da rede de proteção social - dentro do espírito keynesiano. Por exemplo, fez crescer de forma acelerada os investimentos públicos e das Estatais e lançou o programa Minha Casa Minha Vida.
A partir de 2011, o país decidiu voltar a navegar nas ondas da crise mundial. Por exemplo, reduziu drasticamente a taxa de crescimento dos investimentos públicos e das Estatais. E, além disso, deixou de ampliar a rede de proteção social abrindo mão de receitas orçamentárias através de desonerações aos empresários. O desemprego subiu drasticamente. A economia estagnou e depois entrou em recessão.
Diante dessa grave situação, banqueiros, rentistas e o capital internacional, associados a vários outros segmentos políticos e econômicos decidiram tomar a iniciativa política. Deram um golpe na democracia. Afastaram através de uma fraude a presidente eleita Dilma que obteve 54 milhões de votos nas urnas.
Agora, estão aplicando um programa para serem recompensados pelas perdas da crise mundial que está em curso: desnacionalização da economia, privatizações em setores estratégicos, comercialização internacional de recursos naturais e entrega do orçamento público aos interesses rentistas.
Tal programa deixa de fora a quase totalidade da população brasileira, cada vez mais despossuída e sem esperança. Não resolve o problema do desemprego e está desfazendo a precária rede de proteção social existente. Tanto o nazismo alemão quanto keynesianismo americano tiveram outros propósitos, tentavam envolver em suas propostas de solução a maioria da população. O carro-chefe foi o combate ao desemprego.
No Brasil, a mancha de desesperança social se espalha. O campo está aberto. O desemprego aumenta rapidamente pelo terceiro ano consecutivo. Grande parte da classe média e dos micros, pequenos e médios empreendedores já perceberam que estão fora do programa que está sendo aplicado pelo governo de Michel Temer. A degradação social e econômica provoca o descrédito no que existe: judiciário, mídia, polícias, partidos e políticos. Os escândalos midiáticos de corrupção funcionam como aceleradores do descrédito e do desânimo.
O campo está cada vez mais propício para alternativas que guardam semelhança com o nazismo. Já existem alternativas políticas, enraizadas na sociedade, que são racistas, homofóbicas, xenofóbicas, intolerantes, violentas e defensoras de costumes conservadores. E estão crescendo. Falta a elas um programa econômico que tenha uma narrativa de combate ao desemprego.
Mas se existe desemprego e degradação social, também existe espaço para alternativas relacionadas ao keynesianismo. E elas já existem dentro da sociedade. Defendem genericamente a justiça social e o emprego para todos. A essas faltam elaborar uma estratégia mais completa de país, conseguir superar o cerco midiático e aumentar a sua comunicação com os trabalhadores e despossuídos.
São essas duas as alternativas que mais podem crescer nas condições atuais da crise mundial e brasileira de recessão e desemprego. Do ponto de vista econômico estamos entre variantes do nazismo e o keynesianismo. Do ponto de vista político e ideológico, estamos entre projetos nítidos da ultradireita e da esquerda. A direita neoliberal não tem potencial porque reproduz a mesmice das reformas estruturais e das privatizações sem atacar o problema do desemprego.
Ambas, a esquerda de viés keynesiano e a ultradireita variante do nazismo, são mais do que projetos eleitorais, são alternativas que têm um vasto potencial organizador da sociedade.
Está em curso uma crise econômica mundial que teve início em 2007-8 nos Estados Unidos. Ficou mais nítida quando chegou de forma intensa à Europa em 2011-2012. Hoje, vivemos o seu prolongamento. Ainda estamos dentro da crise iniciada com a quebra do Lheman Brothers (e dos títulos americanos subprime) que se espalhou para a vida real, social e política mundial e que ainda não foi superada.
Desde o fundo do poço da crise, houve uma mudança no padrão mundial de taxas de crescimento. Segundo dados do Banco Mundial, o mundo crescia em média entre 4 e 5% ao ano no período entre 2004 e 2008. Em 2009, encolheu 2%. Hoje, cresce entre 2 e 3% ao ano.
A crise atual guarda fortes semelhanças com a crise de 1929. A crise dos dias de hoje também teve início na maior economia do mundo. Tem se estendido por muitos anos. Houve e há suspiros de aparente superação. Manteve as economias em estado de fragilidade. Transformou, para algumas economias, o desemprego em problema agudo e epidêmico. Tem gerado expectativas voláteis e extremadas. Tem provocado descrédito nas propostas políticas e econômicas de continuidade. Tem enfraquecido governos e estruturas de Estado.
No século passado, os Estados Unidos reagiram à crise de 1929, sob a liderança F.D. Roosevelt, lançando o conhecido New Deal, que era um ousado programa de gastos públicos. Foi relativamente bem-sucedido – não houve uma recuperação linear, existiram ainda solavancos ao longo dos anos 1930. A mesmice do laissez-faire foi abandonada e Roosevelt tomou a iniciativa política com um programa que buscava reduzir o desemprego. A inovação americana foi o keynesianismo.
Durante os anos 1930, a Alemanha ficou paralisada porque estava contaminada pelas ideias do liberalismo econômico. Deixou o caminho aberto para A.Hitler ganhar hegemonia política e cultural, transformar o Estado, encontrar culpados internos e externos e fazer guerra. A Alemanha se tornou nacional-ariana, antiliberal econômica e defensora dos seus despossuídos e desempregados. Perseguiu democratas, comunistas, homossexuais, ciganos, negros e judeus. A inovação alemã foi o nazismo.
Da paralisia política alemã e do crescente desemprego surgiu o nazismo. Da iniciativa política americana e do aumento do desemprego surgiu o keynesianismo. Ambos os movimentos foram bem-sucedidos na busca da elevação do emprego, embora somente com a Segunda Grande Guerra que as principais economias se aqueceram e houve a superação definitiva da crise iniciada em 1929.
Ficaram as lições. O Brasil em 2009 tomou iniciativas para escapar da crise internacional. Foi bem-sucedido. Adotou políticas de gastos públicos e de ampliação da rede de proteção social - dentro do espírito keynesiano. Por exemplo, fez crescer de forma acelerada os investimentos públicos e das Estatais e lançou o programa Minha Casa Minha Vida.
A partir de 2011, o país decidiu voltar a navegar nas ondas da crise mundial. Por exemplo, reduziu drasticamente a taxa de crescimento dos investimentos públicos e das Estatais. E, além disso, deixou de ampliar a rede de proteção social abrindo mão de receitas orçamentárias através de desonerações aos empresários. O desemprego subiu drasticamente. A economia estagnou e depois entrou em recessão.
Diante dessa grave situação, banqueiros, rentistas e o capital internacional, associados a vários outros segmentos políticos e econômicos decidiram tomar a iniciativa política. Deram um golpe na democracia. Afastaram através de uma fraude a presidente eleita Dilma que obteve 54 milhões de votos nas urnas.
Agora, estão aplicando um programa para serem recompensados pelas perdas da crise mundial que está em curso: desnacionalização da economia, privatizações em setores estratégicos, comercialização internacional de recursos naturais e entrega do orçamento público aos interesses rentistas.
Tal programa deixa de fora a quase totalidade da população brasileira, cada vez mais despossuída e sem esperança. Não resolve o problema do desemprego e está desfazendo a precária rede de proteção social existente. Tanto o nazismo alemão quanto keynesianismo americano tiveram outros propósitos, tentavam envolver em suas propostas de solução a maioria da população. O carro-chefe foi o combate ao desemprego.
No Brasil, a mancha de desesperança social se espalha. O campo está aberto. O desemprego aumenta rapidamente pelo terceiro ano consecutivo. Grande parte da classe média e dos micros, pequenos e médios empreendedores já perceberam que estão fora do programa que está sendo aplicado pelo governo de Michel Temer. A degradação social e econômica provoca o descrédito no que existe: judiciário, mídia, polícias, partidos e políticos. Os escândalos midiáticos de corrupção funcionam como aceleradores do descrédito e do desânimo.
O campo está cada vez mais propício para alternativas que guardam semelhança com o nazismo. Já existem alternativas políticas, enraizadas na sociedade, que são racistas, homofóbicas, xenofóbicas, intolerantes, violentas e defensoras de costumes conservadores. E estão crescendo. Falta a elas um programa econômico que tenha uma narrativa de combate ao desemprego.
Mas se existe desemprego e degradação social, também existe espaço para alternativas relacionadas ao keynesianismo. E elas já existem dentro da sociedade. Defendem genericamente a justiça social e o emprego para todos. A essas faltam elaborar uma estratégia mais completa de país, conseguir superar o cerco midiático e aumentar a sua comunicação com os trabalhadores e despossuídos.
São essas duas as alternativas que mais podem crescer nas condições atuais da crise mundial e brasileira de recessão e desemprego. Do ponto de vista econômico estamos entre variantes do nazismo e o keynesianismo. Do ponto de vista político e ideológico, estamos entre projetos nítidos da ultradireita e da esquerda. A direita neoliberal não tem potencial porque reproduz a mesmice das reformas estruturais e das privatizações sem atacar o problema do desemprego.
Ambas, a esquerda de viés keynesiano e a ultradireita variante do nazismo, são mais do que projetos eleitorais, são alternativas que têm um vasto potencial organizador da sociedade.
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