Por Miguel do Rosário, no blog Cafezinho:
A capa do Globo de hoje poderia levar um analista afoito a afirmar, pela enésima vez, que “o governo Temer acabou”, ou, para ser mais dramático, que “o governo Temer morreu”.
Entretanto, a afirmação, mesmo correta, levaria a uma falsa conclusão, porque o governo Temer, como se sabe, já nasceu morto. É um governo de morto-vivos, controlado remotamente por articulações entre barões de mídia, a alta burocracia, banqueiros e empresários.
Estando morto, o governo Temer não pode ser morto, da mesma forma que não se pode assassinar um cadáver.
Entretanto, mesmo morto, o governo Temer… resiste, administra, nomeia e demite, e continua liderando o mais brutal e acelerado processo de desmonte do Estado da nossa história.
É, aparentemente, um mistério, mas que se explica porque os verdadeiros donos do poder, o judiciário e a mídia, permitem que o governo siga em frente, desde que ele se limite estritamente a levar adiante o programa de desmonte.
Ora, sobre Dilma jamais pesou nenhuma suspeita de tamanha gravidade (tanto que seu impeachment se deu por conta de esotéricas “pedaladas fiscais”) e mesmo assim era atacada na mídia com uma virulência diária que a mídia nunca usou contra Michel Temer.
O posicionamento da Globo em relação a Temer é repleto de ambiguidades e jogo duplo. A Globo apoia Michel Temer, cujo governo bancou o seu novo “centro de jornalismo”, mas finge um posicionamento crítico, porque sabe que a sua força deriva de seu poder de fogo. No dia em que a classe política deixar de ter medo da Globo, então poderemos pensar numa regulamentação da mídia que possibilite a criação de um sistema de comunicação mais democrático e plural.
Por exemplo, durante o julgamento do mensalão, Chico Caruso fazia charges brutais contra os réus. Algumas delas eram positivamente sádicas, com os réus nus, expostos. Nada disso jamais foi feito contra Aécio Neves ou Michel Temer. Sobretudo, nada de maneira sistemática, repetitiva.
Temer, no entanto, possui três trunfos importantes, que garantem o apoio da elite:
1) As “reformas”, trabalhista e previdenciária. Temer precisa entregá-las, e só ele tem a desonestidade suficiente para fazê-lo, assim como apenas Eduardo Cunha possuía o mau caratismo e o cinismo necessários para liderar o impeachment. Para aprovar as reformas, é preciso corromper os deputados, visto que estes temem o desgaste político e eleitoral de se alinharem a um governo tão impopular, e a reformas tão odiadas pela população. O discurso ético das elites e sua “indignação moral”, portanto, sempre foram radicalmente falsos.
2) A estabilidade econômica e política. O país está exausto. Desde, pelo menos, junho de 2013, que vivemos uma interminável crise política. O processo de impeachment foi uma aposta desesperada da elite, que não deu certo. Mas o jogo foi perigoso, porque a instabilidade gerou um desemprego monstruoso, que ameaça engolfar as cidades numa incontrolável onda de violência. O risco de convulsão social aumenta a cada dia. Temer, apesar de ter sido o responsável pela maior instabilidade de todas, que foi a ruptura política trazida pelo impeachment, hoje joga com a carta da estabilidade.
3) O medo de Lula e a falta de um plano B das elites. As elites conspiraram para derrubar a presidenta eleita com 54 milhões de votos, e a substituíram por um presidente medíocre e submisso aos ditames do mercado. Mas elas não tem um plano B sem houver necessidade de se livrar de Michel Temer. Além disso, Lula cresce nas pesquisas. É evidente que os conspiradores não investiram tão pesado na crise, não foram tão fundo em sua loucura destrutiva, para que o poder voltasse às mãos do PT. Temer sabe disso, e não é por outra razão que seus apoiadores (declarados ou ocultos), no judiciário, no MP, e na mídia, continuam operando para jogar a opinião pública contra o PT. Daí os desdobramentos incessantes da Lava Jato, as conduções coercitivas de funcionários do BNDES, as manchetes sensacionalistas em torno de denúncias escritas às pressas.
Essas são as razões pelas quais, mesmo que Rodrigo Janot aferrolhe os últimos parafusos no caixão de Michel Temer, isso não fará muita diferença. Temer continuará exercendo a presidência de dentro do caixão.
Por outro lado, se Temer é um morto-vivo, não podemos falar o mesmo da política. A política continua muito viva, e por isso mesmo ela vai se afastando cada vez mais de Temer e seu governo. Essa é a razão para a ascensão de Lula nas pesquisas: a população o vê como o político com melhores condições de derrotar o governo morto-vivo de Michel Temer.
Quanto aos outros candidatos, como Doria, Bolsonaro e Moro, eles se beneficiam da ignorância do eleitorado e da manipulação da mídia, que não os associa, como deveria, ao governo Temer, do qual eles são aliados e fiadores. Mas essa é uma verdade que vai ficar cada vez mais evidente, a cada dia, e a mídia, ao esconder isso, perderá ela também o pouco prestígio que ainda lhe resta.
Sobre a denúncia propriamente dita contra Michel Temer, vamos esperar que ela ocorra, para tecer comentários sobre ela.
A capa do Globo de hoje poderia levar um analista afoito a afirmar, pela enésima vez, que “o governo Temer acabou”, ou, para ser mais dramático, que “o governo Temer morreu”.
Entretanto, a afirmação, mesmo correta, levaria a uma falsa conclusão, porque o governo Temer, como se sabe, já nasceu morto. É um governo de morto-vivos, controlado remotamente por articulações entre barões de mídia, a alta burocracia, banqueiros e empresários.
Estando morto, o governo Temer não pode ser morto, da mesma forma que não se pode assassinar um cadáver.
Entretanto, mesmo morto, o governo Temer… resiste, administra, nomeia e demite, e continua liderando o mais brutal e acelerado processo de desmonte do Estado da nossa história.
É, aparentemente, um mistério, mas que se explica porque os verdadeiros donos do poder, o judiciário e a mídia, permitem que o governo siga em frente, desde que ele se limite estritamente a levar adiante o programa de desmonte.
Ora, sobre Dilma jamais pesou nenhuma suspeita de tamanha gravidade (tanto que seu impeachment se deu por conta de esotéricas “pedaladas fiscais”) e mesmo assim era atacada na mídia com uma virulência diária que a mídia nunca usou contra Michel Temer.
O posicionamento da Globo em relação a Temer é repleto de ambiguidades e jogo duplo. A Globo apoia Michel Temer, cujo governo bancou o seu novo “centro de jornalismo”, mas finge um posicionamento crítico, porque sabe que a sua força deriva de seu poder de fogo. No dia em que a classe política deixar de ter medo da Globo, então poderemos pensar numa regulamentação da mídia que possibilite a criação de um sistema de comunicação mais democrático e plural.
Por exemplo, durante o julgamento do mensalão, Chico Caruso fazia charges brutais contra os réus. Algumas delas eram positivamente sádicas, com os réus nus, expostos. Nada disso jamais foi feito contra Aécio Neves ou Michel Temer. Sobretudo, nada de maneira sistemática, repetitiva.
Temer, no entanto, possui três trunfos importantes, que garantem o apoio da elite:
1) As “reformas”, trabalhista e previdenciária. Temer precisa entregá-las, e só ele tem a desonestidade suficiente para fazê-lo, assim como apenas Eduardo Cunha possuía o mau caratismo e o cinismo necessários para liderar o impeachment. Para aprovar as reformas, é preciso corromper os deputados, visto que estes temem o desgaste político e eleitoral de se alinharem a um governo tão impopular, e a reformas tão odiadas pela população. O discurso ético das elites e sua “indignação moral”, portanto, sempre foram radicalmente falsos.
2) A estabilidade econômica e política. O país está exausto. Desde, pelo menos, junho de 2013, que vivemos uma interminável crise política. O processo de impeachment foi uma aposta desesperada da elite, que não deu certo. Mas o jogo foi perigoso, porque a instabilidade gerou um desemprego monstruoso, que ameaça engolfar as cidades numa incontrolável onda de violência. O risco de convulsão social aumenta a cada dia. Temer, apesar de ter sido o responsável pela maior instabilidade de todas, que foi a ruptura política trazida pelo impeachment, hoje joga com a carta da estabilidade.
3) O medo de Lula e a falta de um plano B das elites. As elites conspiraram para derrubar a presidenta eleita com 54 milhões de votos, e a substituíram por um presidente medíocre e submisso aos ditames do mercado. Mas elas não tem um plano B sem houver necessidade de se livrar de Michel Temer. Além disso, Lula cresce nas pesquisas. É evidente que os conspiradores não investiram tão pesado na crise, não foram tão fundo em sua loucura destrutiva, para que o poder voltasse às mãos do PT. Temer sabe disso, e não é por outra razão que seus apoiadores (declarados ou ocultos), no judiciário, no MP, e na mídia, continuam operando para jogar a opinião pública contra o PT. Daí os desdobramentos incessantes da Lava Jato, as conduções coercitivas de funcionários do BNDES, as manchetes sensacionalistas em torno de denúncias escritas às pressas.
Essas são as razões pelas quais, mesmo que Rodrigo Janot aferrolhe os últimos parafusos no caixão de Michel Temer, isso não fará muita diferença. Temer continuará exercendo a presidência de dentro do caixão.
Por outro lado, se Temer é um morto-vivo, não podemos falar o mesmo da política. A política continua muito viva, e por isso mesmo ela vai se afastando cada vez mais de Temer e seu governo. Essa é a razão para a ascensão de Lula nas pesquisas: a população o vê como o político com melhores condições de derrotar o governo morto-vivo de Michel Temer.
Quanto aos outros candidatos, como Doria, Bolsonaro e Moro, eles se beneficiam da ignorância do eleitorado e da manipulação da mídia, que não os associa, como deveria, ao governo Temer, do qual eles são aliados e fiadores. Mas essa é uma verdade que vai ficar cada vez mais evidente, a cada dia, e a mídia, ao esconder isso, perderá ela também o pouco prestígio que ainda lhe resta.
Sobre a denúncia propriamente dita contra Michel Temer, vamos esperar que ela ocorra, para tecer comentários sobre ela.
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