Por Gustavo Noronha, no site Brasil Debate:
Henrique saiu de Anápolis, Goiás, primeiro para o curso de engenharia em São Paulo, depois para os EUA no antigo Banco de Boston. Ganhou o mundo, foi presidente do banco e da sua sucessora, a FleetBoston Financial, mas não chegou a ver sua incorporação ao Bank of America. O que ele viu de perto foi a corte do ex-presidente estadunidense Bill Clinton, há quem diga que ali ele era bem popular.
Quando voltou ao Brasil, já não era mais um brasileiro, embora nunca tenha perdido formalmente a nacionalidade. Com uma vultosa aposentadoria, hoje em R$ 250 mil, desembolsou, em 2002, R$ 887 mil para se eleger deputado federal. Investimento recompensado quando o então presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva o convidou para presidir o Banco Central. Não viram à época qualquer contradição de o presidente da autoridade monetária receber mais de um agente do mercado financeiro do que o salário pago pela sua função pública.
Henrique foi um dos fiadores da relação do ex-presidente com o mercado, essa entidade apócrifa que nos tem governado por um longo período. Quem não esquece que, apesar de todos os ganhos das classes subalternas nos governos petistas, nunca os bancos faturaram tanto? Esse era o papel de Henrique, assegurar que os bancos nunca perdessem sua fatia do bolo. Esse continua sendo o seu papel, mas ainda não chegamos lá.
Em 2012, já fora do Governo, Henrique tornou-se presidente da J&F, holding do grupo JBS. Depois, no mesmo grupo, ele viria a assumir a presidência do Banco Original. Em diversos círculos se comentava o aumento da quantidade de anúncios do Banco na grande mídia no período que antecedeu e logo após o golpe. Golpe que conduziu Henrique ao Ministério da Fazenda.
É importante frisar aqui que o período petista foi favorecido por um superciclo de commodities, ainda assim, diante destas condições externas favoráveis, houve políticas fiscais, de crédito e distributivas que asseguraram um período curto e não muito comum na história brasileira: crescimento econômico com distribuição de renda. Todavia, ainda no governo Dilma, a desaceleração econômica começou a deteriorar os resultados fiscais.
Os sacerdotes do Deus Mercado (seria Henrique um deles?) enganaram tolos com a narrativa de que havia um descontrole dos gastos públicos. E apesar de Dilma em sua campanha em 2014 ter pregado contra a religião dominante, logo após sua vitória, os jornais diziam que Lula queria Henrique cuidando da economia. Ele foi preterido por Joaquim, outro sacerdote da mesma fé, que não hesitou em impor a penitência do projeto derrotado nas urnas.
De um religioso não praticante, o petismo voltou-se para o fundamentalismo que criticara e perdeu sua base social. Tentava sem sucesso redimir seus pecados por ter desafiado dogmas menores da religião suprema ao ter promovido algumas políticas sociais com efeitos positivos para os de baixo. Sem apoio efetivo dos que garantiram sua ascensão ao poder, o governo foi submetido à inquisição, que expôs o infame pecado das pedaladas e num golpe assumiu o poder. Henrique, um guardião da doutrina e da fé, não seria esquecido, é claro.
Michel, o usurpador, assumiu a Presidência. Para mostrar sua devoção, chamou Henrique. Com ele veio a agenda que pretende devolver o Brasil para o início do século XX. Passou sem sustos a emenda constitucional do teto dos gastos públicos. Lançou o bode na sala da reforma da previdência e quando se olhou para o lado estava aprovada uma reforma trabalhista desconstruindo elementos importantes de proteção ao trabalhador que existiam na CLT.
O curioso é que o atual governo é atingido por inúmeras denúncias de corrupção, mas nada toca Henrique. Ignoram inclusive que o tal do Joesley, que gravou o Michel e dedurou meio mundo, não só foi parceiro de Henrique, como teve todo o cuidado de preservá-lo e, quando possível, exaltá-lo em suas delações. Não se sabe se é verdade, mas rola nos jornais por aí que Henrique já mandou avisar que podem tirar o Michel que ele vai continuar lá, a doutrina e a fé estão garantidas.
Importante lembrar que lá nos idos de 2002, quando escolhido para o Banco Central, Henrique disse que seria presidente do Brasil. Justo o sujeito que defende interesses que não são do Brasil. O cara que diz que precisa reformar a previdência, mas ganha por mês a título de aposentadoria mais que a maioria dos brasileiros ganha em um ano – obviamente Henrique não vê constrangimento de acumular o cargo de ministro da Fazenda e receber uma generosa aposentadoria (maior que o salário de ministro) paga por um importante agente do mercado.
O Henrique que sonhava ser presidente é hoje o homem poderoso de Pindorama, imperador Henrique I do Brasil. Um monarca que sintetiza o que Kalecki chamou de especialistas ligados à banca, ele é um especialista. Nos vende a ilusão da religião do mercado e de toda a mitologia da austeridade que tem fracassado mundo afora. Henrique não é uma pessoa, é uma ideia. E como Brecht já nos lembrava, “pergunta a cada ideia: serves a quem?”. A quem serve Henrique?
Henrique saiu de Anápolis, Goiás, primeiro para o curso de engenharia em São Paulo, depois para os EUA no antigo Banco de Boston. Ganhou o mundo, foi presidente do banco e da sua sucessora, a FleetBoston Financial, mas não chegou a ver sua incorporação ao Bank of America. O que ele viu de perto foi a corte do ex-presidente estadunidense Bill Clinton, há quem diga que ali ele era bem popular.
Quando voltou ao Brasil, já não era mais um brasileiro, embora nunca tenha perdido formalmente a nacionalidade. Com uma vultosa aposentadoria, hoje em R$ 250 mil, desembolsou, em 2002, R$ 887 mil para se eleger deputado federal. Investimento recompensado quando o então presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva o convidou para presidir o Banco Central. Não viram à época qualquer contradição de o presidente da autoridade monetária receber mais de um agente do mercado financeiro do que o salário pago pela sua função pública.
Henrique foi um dos fiadores da relação do ex-presidente com o mercado, essa entidade apócrifa que nos tem governado por um longo período. Quem não esquece que, apesar de todos os ganhos das classes subalternas nos governos petistas, nunca os bancos faturaram tanto? Esse era o papel de Henrique, assegurar que os bancos nunca perdessem sua fatia do bolo. Esse continua sendo o seu papel, mas ainda não chegamos lá.
Em 2012, já fora do Governo, Henrique tornou-se presidente da J&F, holding do grupo JBS. Depois, no mesmo grupo, ele viria a assumir a presidência do Banco Original. Em diversos círculos se comentava o aumento da quantidade de anúncios do Banco na grande mídia no período que antecedeu e logo após o golpe. Golpe que conduziu Henrique ao Ministério da Fazenda.
É importante frisar aqui que o período petista foi favorecido por um superciclo de commodities, ainda assim, diante destas condições externas favoráveis, houve políticas fiscais, de crédito e distributivas que asseguraram um período curto e não muito comum na história brasileira: crescimento econômico com distribuição de renda. Todavia, ainda no governo Dilma, a desaceleração econômica começou a deteriorar os resultados fiscais.
Os sacerdotes do Deus Mercado (seria Henrique um deles?) enganaram tolos com a narrativa de que havia um descontrole dos gastos públicos. E apesar de Dilma em sua campanha em 2014 ter pregado contra a religião dominante, logo após sua vitória, os jornais diziam que Lula queria Henrique cuidando da economia. Ele foi preterido por Joaquim, outro sacerdote da mesma fé, que não hesitou em impor a penitência do projeto derrotado nas urnas.
De um religioso não praticante, o petismo voltou-se para o fundamentalismo que criticara e perdeu sua base social. Tentava sem sucesso redimir seus pecados por ter desafiado dogmas menores da religião suprema ao ter promovido algumas políticas sociais com efeitos positivos para os de baixo. Sem apoio efetivo dos que garantiram sua ascensão ao poder, o governo foi submetido à inquisição, que expôs o infame pecado das pedaladas e num golpe assumiu o poder. Henrique, um guardião da doutrina e da fé, não seria esquecido, é claro.
Michel, o usurpador, assumiu a Presidência. Para mostrar sua devoção, chamou Henrique. Com ele veio a agenda que pretende devolver o Brasil para o início do século XX. Passou sem sustos a emenda constitucional do teto dos gastos públicos. Lançou o bode na sala da reforma da previdência e quando se olhou para o lado estava aprovada uma reforma trabalhista desconstruindo elementos importantes de proteção ao trabalhador que existiam na CLT.
O curioso é que o atual governo é atingido por inúmeras denúncias de corrupção, mas nada toca Henrique. Ignoram inclusive que o tal do Joesley, que gravou o Michel e dedurou meio mundo, não só foi parceiro de Henrique, como teve todo o cuidado de preservá-lo e, quando possível, exaltá-lo em suas delações. Não se sabe se é verdade, mas rola nos jornais por aí que Henrique já mandou avisar que podem tirar o Michel que ele vai continuar lá, a doutrina e a fé estão garantidas.
Importante lembrar que lá nos idos de 2002, quando escolhido para o Banco Central, Henrique disse que seria presidente do Brasil. Justo o sujeito que defende interesses que não são do Brasil. O cara que diz que precisa reformar a previdência, mas ganha por mês a título de aposentadoria mais que a maioria dos brasileiros ganha em um ano – obviamente Henrique não vê constrangimento de acumular o cargo de ministro da Fazenda e receber uma generosa aposentadoria (maior que o salário de ministro) paga por um importante agente do mercado.
O Henrique que sonhava ser presidente é hoje o homem poderoso de Pindorama, imperador Henrique I do Brasil. Um monarca que sintetiza o que Kalecki chamou de especialistas ligados à banca, ele é um especialista. Nos vende a ilusão da religião do mercado e de toda a mitologia da austeridade que tem fracassado mundo afora. Henrique não é uma pessoa, é uma ideia. E como Brecht já nos lembrava, “pergunta a cada ideia: serves a quem?”. A quem serve Henrique?
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