Por André Barrocal, na revista CartaCapital:
O lobista da Rede Globo em Brasília, Paulo Tonet Camargo, passou pelo Congresso na terça-feira 17 e foi sondado sobre a posição da empresa quanto à última “flechada” em Michel Temer, a acusação de formação de quadrilha e obstrução da Justiça. Ainda quer a cabeça do presidente, como no caso da mala de propina? Parlamentar que falou com Camargo achou-o evasivo.
A posição da emissora parece ter mudado, na visão de certos deputados. Um fator importante para os acontecimentos em Brasília. Se não tem mesmo poder de interferir na vida nacional como na eleição de 1989, segue um ator que os políticos levam em conta em suas decisões, vide declarações recentes do ex-presidente Lula de que quer derrotar na campanha de 2018 o candidato da Globo.
Para um deputado do PMDB que votou a favor do presidente no episódio da mala e prepara-se para repetir a dose na quarta-feira 25, a unanimidade contra o presidente na Globo virou pó. Já se veria argumento em defesa do peemedebista por ali.
Para outro deputado, da oposição de esquerda, é evidente que o canal perdeu a vontade de derrubar o chefe da nação. Uma suspeita que se ampara com a disposição global para transmitir as “flechadas”.
Na primeira, a da mala de meio milhão de reais em suborno carregada pelas ruas de São Paulo por um então assessor especial de Temer, a “Vênus Platinada” transmitiu ao vivo, em sinal aberto, toda a votação dos deputados. Uma opção que era anunciada com duas semanas de antecedência.
Agora no caso da formação de quadrilha e obstrução de Justiça, a transmissão ao vivo estava incerta até o fim da semana que antecedia a nova votação. Nos corredores da emissora, comentava-se que era possível, mas não garantido, que houvesse transmissão ao vivo. Certo mesmo, só que a Globonews, seu canal exclusivo para quem paga, mostraria tudo.
Quando da primeira “flechada”, a Globo levou ao ar um noticiário francamente desfavorável a Temer desde o estouro do escândalo Friboi, em 17 de maio, até o enterro da denúncia pelos deputados, 2 de agosto. Agora esse ímpeto refluiu, embora o Jornal Nacional tenha deitado e rolado com os vídeos da delação do criminoso doleiro Lúcio Funaro.
Em um lance inédito em seus anais, a Câmara divulgou em seu site todos os vídeos da delação de Funaro gravada perante a Procuradoria-Geral da República. O doleiro é peça-chave da denúncia contra Temer e diz coisas embaraçosas.
O mandatário teria pedido via Eduardo Cunha grana suja para a campanha de Gabriel Chalita, então no PMDB, à prefeitura paulistana em 2012, além de ter se reunido com o próprio doleiro numa igreja. Sabia de todas as bandalheiras correntes dentro do PMDB, pois comandava o partido, e ainda levava uma parte dos lucros das maracutaias de Cunha. E por aí vai.
Os vídeos nada acrescentam ao conteúdo da delação, mas puderam ser reproduzidos por emissoras de tevê, meio de comunicação de maior penetração no País. E tome desgaste para os deputados que topam livrar a cara de Temer.
Os vídeos de Funaro tinham sido enviados à Câmara em 21 e 22 de setembro pelo Supremo Tribunal Federal, onde Temer será julgado, caso os deputados permitam. Foram divulgados dia 29, sem alarde. Só viraram notícia em 14 de outubro, na Folha de S. Paulo, pois até então nenhum jornalista tinha se dado conta da existência do material.
Curiosamente, alguns dias antes, a segunda-feira 2, Maia fora ao STF conversar com a presidente da Corte, Cármen Lúcia, sobre o material. Relator do caso Temer, o juiz Edson Fachin foi chamado por Cármen para a reunião e comentou haver certo conteúdo sigiloso no material. O que significa que outra parte não era. Maia ainda comentou: com 513 deputados, seria impossível guardar segredo.
Profético, hein? O plimplim agradece.
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