Por André Barrocal, na revista CartaCapital:
A desistência do global Luciano Huck de concorrer e o naufrágio do prefeito paulistano João Doria Jr. dentro do PSDB abriram caminho para o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, encarnar o papel de “candidato do ‘mercado’” na eleição presidencial do ano que vem. E o tucano parece pronto para o papel.
É ele quem o “mercado”, essa entidade abstrata formada por bancos, fundos, corretoras, enfim, especuladores em geral, aponta como favorito. Constatação de pesquisa feita com 211 investidores institucionais entre 21 e 23 de novembro por uma das maiores consultorias do País, a XP.
Segundo este levantamento, 46% apostam no triunfo do governador, 19% em Huck, 17% no deputado Jair Bolsonaro, 8% no ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e 3% em Doria Jr.
Este último era a paixão número um do sistema financeiro até ser colocado de lado pelo tucanato, conforme a pesquisa anterior da XP, de agosto. Naquela oportunidade, era indicado como vencedor por 42%, enquanto Alckmin tinha 38%.
A julgar pelos levantamentos de institutos como Vox Populi, Ibope e Datafolha, a mostrar o ex-presidente Lula na liderança das intenções de voto, na casa de uns 35%, a XP captou na verdade mais um desejo pessoal (e comercial) da banca financista do que propriamente uma análise fria da realidade.
Uma suspeita reforçada por um outro conjunto de dados da mesma pesquisa da XP. Perguntou-se o que seria do dólar e da Bolsa em caso de vitória de cada presidenciável. Até com Bolsonaro o cenário é melhor do que com Lula, com a Bolsa mais mais animada e o dólar mais barato.
Foi isso que se viu, aliás, no dia em que saiu a condenação do petista a nove anos de prisão pelo juiz Sérgio Moro, em 12 de julho. O Real valorizou-se 0,6%, a Bolsa subiu 1,4%.
“É o mesmo terrorismo de 2002. Basta que um candidato de centro-esquerda esteja bem que vemos isso”, afirma o professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Renato Perissinotto, presidente da Associação Brasileira de Ciência Política. “No fundo, essas entrevistas deixam a impressão de que eles [do “mercado”] não estão nem aí para a democracia.”
Em uma reunião na terça-feira 28 de dirigentes e analistas de outra grande consultoria, ficou claro. O cavalo em que a empresa jogará as fichas é Alckmin. “O ‘mercado’ vê o Lula favorito, mas acha que ele estará inelegível. E se ele concorrer, não quer que ganhe. O candidato do ‘mercado’ é o Alckmin”, relata um dos participantes.
Um cenário muito parecido ao traçado dentro do Banco Central (BC) nos últimos dias, durante uma reunião a juntar analistas do sistema financeiro. O BC sempre faz esses encontros ao preparar seu relatório trimestral de inflação – o próximo sai em dezembro.
O governador está pronto para encarnar o establishment financeiro. Em documento lançado na quarta-feira 29, o PSDB apresentou as linhas gerais de seu programa eleitoral e até tentou parecer querer ir da direita ao centro. Prega “Estado musculoso” e “distribuição de renda”.
Não conseguiu, porém, botar 20 anos de amor ao financismo de lado. “A agenda do país é reformista”, diz o texto. Reforma da Previdência, impopularíssima, por exemplo. Alckmin, registre-se, deverá assumir o comando do PSDB agora em dezembro.
“O Alckmin tem chances de ser em 2018 um nome mais favorável ao mercado. Ele não precisa falar de austeridade, a cara dele é de austeridade”, afirma o economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito.
“Mas o mercado está excessivamente otimista quanto às chances de vitória de um candidato reformista. A população não quer reformas, por isso o Lula tem 35% nas pesquisas e o governo tem 3% de aprovação.”
“O Alckmin tem trânsito nesse setor, na eleição haverá espaço para a defesa desses interesses”, diz Perissinotto. Que aponta ainda uma última vantagem do governador, proporcionada aparentemente por um outro establishment. “Ele até agora tem sido preservado do bombardeio da Operação Lava Jato. O Ministério Público de São Paulo é muito vinculado ao governo...”.
É ele quem o “mercado”, essa entidade abstrata formada por bancos, fundos, corretoras, enfim, especuladores em geral, aponta como favorito. Constatação de pesquisa feita com 211 investidores institucionais entre 21 e 23 de novembro por uma das maiores consultorias do País, a XP.
Segundo este levantamento, 46% apostam no triunfo do governador, 19% em Huck, 17% no deputado Jair Bolsonaro, 8% no ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e 3% em Doria Jr.
Este último era a paixão número um do sistema financeiro até ser colocado de lado pelo tucanato, conforme a pesquisa anterior da XP, de agosto. Naquela oportunidade, era indicado como vencedor por 42%, enquanto Alckmin tinha 38%.
A julgar pelos levantamentos de institutos como Vox Populi, Ibope e Datafolha, a mostrar o ex-presidente Lula na liderança das intenções de voto, na casa de uns 35%, a XP captou na verdade mais um desejo pessoal (e comercial) da banca financista do que propriamente uma análise fria da realidade.
Uma suspeita reforçada por um outro conjunto de dados da mesma pesquisa da XP. Perguntou-se o que seria do dólar e da Bolsa em caso de vitória de cada presidenciável. Até com Bolsonaro o cenário é melhor do que com Lula, com a Bolsa mais mais animada e o dólar mais barato.
Foi isso que se viu, aliás, no dia em que saiu a condenação do petista a nove anos de prisão pelo juiz Sérgio Moro, em 12 de julho. O Real valorizou-se 0,6%, a Bolsa subiu 1,4%.
“É o mesmo terrorismo de 2002. Basta que um candidato de centro-esquerda esteja bem que vemos isso”, afirma o professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Renato Perissinotto, presidente da Associação Brasileira de Ciência Política. “No fundo, essas entrevistas deixam a impressão de que eles [do “mercado”] não estão nem aí para a democracia.”
Em uma reunião na terça-feira 28 de dirigentes e analistas de outra grande consultoria, ficou claro. O cavalo em que a empresa jogará as fichas é Alckmin. “O ‘mercado’ vê o Lula favorito, mas acha que ele estará inelegível. E se ele concorrer, não quer que ganhe. O candidato do ‘mercado’ é o Alckmin”, relata um dos participantes.
Um cenário muito parecido ao traçado dentro do Banco Central (BC) nos últimos dias, durante uma reunião a juntar analistas do sistema financeiro. O BC sempre faz esses encontros ao preparar seu relatório trimestral de inflação – o próximo sai em dezembro.
O governador está pronto para encarnar o establishment financeiro. Em documento lançado na quarta-feira 29, o PSDB apresentou as linhas gerais de seu programa eleitoral e até tentou parecer querer ir da direita ao centro. Prega “Estado musculoso” e “distribuição de renda”.
Não conseguiu, porém, botar 20 anos de amor ao financismo de lado. “A agenda do país é reformista”, diz o texto. Reforma da Previdência, impopularíssima, por exemplo. Alckmin, registre-se, deverá assumir o comando do PSDB agora em dezembro.
“O Alckmin tem chances de ser em 2018 um nome mais favorável ao mercado. Ele não precisa falar de austeridade, a cara dele é de austeridade”, afirma o economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito.
“Mas o mercado está excessivamente otimista quanto às chances de vitória de um candidato reformista. A população não quer reformas, por isso o Lula tem 35% nas pesquisas e o governo tem 3% de aprovação.”
“O Alckmin tem trânsito nesse setor, na eleição haverá espaço para a defesa desses interesses”, diz Perissinotto. Que aponta ainda uma última vantagem do governador, proporcionada aparentemente por um outro establishment. “Ele até agora tem sido preservado do bombardeio da Operação Lava Jato. O Ministério Público de São Paulo é muito vinculado ao governo...”.
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