Por Ricardo Kotscho, em seu blog:
Já pensaram numa eleição com Bolsonaro e Huck no segundo turno, uma disputa entre a extrema-direita e a direita, agora chamada de “centro-liberal-reformista”?
Pelas últimas movimentações no tabuleiro da campanha eleitoral, isso já não é tão improvável.
Aos poucos, o cenário vai afunilado para poucos nomes competitivos, embora a cada dia apareçam novos candidatos, como o inacreditável Fernando Collor, ele mesmo.
Vejam as jogadas em curso neste momento:
- Em entrevista de manhã à rádio Jovem Pan, que tenta reviver Carlos Lacerda no cerco a Getúlio em 1954, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, agora em sua fase modernista, praticamente rifou o candidato tucano Geraldo Alckmin e encheu a bola de Luciano Huck. “É bom ter gente como o Luciano porque precisa arejar, botar em perigo a política tradicional, mesmo que seja do meu partido”. Ao Estadão, o prefeito de Manaus Arthur Virgílio, que quer disputar a prévia presidencial no PSDB, disse que o governador paulista é um “barco furado”, sem chances na eleição.
- Na mesma segunda-feira, à noite, assim que tomou posse na presidência do Tribunal Superior Eleitoral, o ministro Luiz Fux fulminou a candidatura de Lula, condenado em segunda instância: “Vale dizer: ficha suja está fora do jogo democrático”. E acrescentou em entrevista ao jornal O Globo com um neologismo: “Político ficha-suja é irregistrável”.
- Na hora do almoço, o mercado financeiro fez festa para Jair Bolsonaro no 19º CEO Conference, um encontro de banqueiros. Arrancou risadas ao falar de Dilma, foi aplaudido de pé e levou meia hora tirando selfies para conseguir sair do salão do Hotel Hyatt, depois de defender uma “pauta econômica híbrida”, ao mesmo tempo liberal e estatista.
- Com Henrique Meirelles e Rodrigo Maia já considerados cartas fora do baralho, onde nem deveriam ter entrado, e Geraldo Alckmin precocemente cristianizado no PSDB, Bolsonaro e Huck voltam a ser opções para o establishment, que só não queria mais ver Lula na disputa. Fora dele, qualquer um serve.
O que sobra para o eleitor? Marina Silva, da Rede, que poderia ser uma das herdeiras dos votos petistas, saiu da toca e deu uma entrevista ao Estadão recheada de platitudes.
Ao ser perguntada como pretende conquistar estes votos, respondeu que “o voto não pertence nem aos partidos, nem às figuras políticas. Se reduzirmos a eleição a pessoas, ainda que sejam muito importantes, a gente vai diminuir a importância do debate para os problemas que estamos vivendo”.
O que será que ela queria dizer com isso? Marina Silva não disse quais eram esses problemas nem que soluções propõe, nem nenhuma palavra sobre seu programa de governo.
Resta Ciro Gomes, do PDT, sobre quem já falei em post anterior. Como o prazo da campanha oficial foi encurtado este ano, teremos menos tempo de televisão e de debates para que o eleitor possa escolher seu candidato neste deserto de personagens e de ideias.
Tanto fizeram para tirar Lula do jogo, que se esqueceram de encontrar uma alternativa viável, o que explica o alto índice de não votos nas pesquisas (brancos, nulos e abstenções).
O grande objetivo agora é decretar a prisão do ex-presidente o mais rápido possível para ver qual será a reação popular, se é que vai haver. Só depois disso haverá nova mexida no tabuleiro.
Enquanto isso, é Carnaval, a violência se alastra pelo Rio de Janeiro e o governo insiste em empossar Cristiane Brasil no Ministério do Trabalho.
Vida que segue.
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