Começo a desconfiar da existência de uma estratégia ousada por trás das recorrentes gafes produzidas por Elsinho Mouco, o marqueteiro de Michel Temer, e sua equipe de comunicação. É preciso método para tantos disparates.
Eis a minha tese: diante da impossibilidade de conceber qualquer propaganda ou informação que empreste credibilidade ao governo e retire a popularidade de Temer do lamaçal (a última pesquisa CNT-MDA captou estrondosos 4% de apoio ao emedebista), Mouco recorre à chacota, ao escracho, em busca de alguma empatia com o público. Falem mal, mas falem de mim, prega o ditado.
Seria uma medida desesperada, concordo, mas o marqueteiro não tem nada a perder. Temer é o presidente mais impopular da história e poderia facilmente protagonizar a série “Todo mundo odeia o Chris”, que, por sinal, durou quatro temporadas (um mandato presidencial inteiro no Brasil). Como apregoava o deputado federal Tiririca em sua campanha, “pior do que está não fica”. Ou fica?
De caso pensado ou não, Mouco e sua equipe, temos de admitir, se esforçam. A mais recente pérola estava impressa no convite para a “celebração” de dois anos da tomada de poder por Temer, no qual se lia a brilhante frase: “O Brasil voltou, 20 anos em 2”.
Nem o mais ferrenho dilmista descreveria o período com tamanha precisão. No Twitter, o senador petista Lindbergh Farias foi ao ponto: “Se tirar a vírgula fica perfeito”. Há até quem aponte a modéstia dos marqueteiros: o retrocesso teria sido muito maior. Segundo o jornal O Estado de S.Paulo, o slogan gerou uma crise na comunicação do Palácio do Planalto.
Por que só agora? Fazia algum sentido, por acaso, tentar converter em elogios ao governo o maroto conselho (“É preciso manter isso aí, viu?”) de Temer ao empresário Joesley Batista? Mouco esperava transformar água em vinho: a sugestão entre cúmplices pronunciada às escondidas viraria uma celebração da inexpressiva queda do desemprego e do raquítico crescimento do PIB no ano passado.
A realidade derrubou seus planos. Se havia pouco a comemorar, agora não existe nada. No primeiro trimestre de 2018, o índice de desocupados voltou a crescer e ultrapassou a barreira dos 13% (o Brasil tem o quarto pior percentual do mundo).
A indústria e o comércio patinam e o futuro da economia anda mais nebuloso do que o destino do emedebista após a perda do foro privilegiado. E os brasileiros, quando ouvem a frase, continuam a entende-la perfeitamente: tratou-se de aval para a compra do silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha, condenado por corrupção e parceiro do ex-vice-presidente decorativo na tramoia do impeachment e em outros empreitadas.
Meses antes, Temer quase enfrentou um processo do técnico Felipão por conta de outro insight de seu marqueteiro, que achou criativo recorrer a uma metáfora futebolística: o emedebista seria Tite, enquanto Dilma Rousseff se compararia a Felipão, treinador da Seleção Brasileira na derrota de 7 a 1 para a Alemanha na semifinal da Copa de 2014. A ameaça de ação judicial e a péssima repercussão da tirada obrigaram Mouco a recolher o time de campo.
Tem mais. O marqueteiro demonstrou seu profundo conhecimento das redes sociais a sugerir “mudar esse algoritmo” depois de sua equipe detectar uma onda de “vomitaços” no Facebook dirigidos a Temer. Segundo Mouco, a internet havia sido invadida por petistas. É óbvio, só podem ser simpatizantes do PT os quase 80% de brasileiros que consideram o governo “ruim” ou “péssimo” e que tem náuseas ao ouvir o nome do emedebista.
Nunca entendi o motivo de Temer, tão habilidoso na auto-sabotagem, precisar de uma equipe inteira e remunerada para diariamente imaginar formas de piorar a sua imagem. Quem necessita de um marqueteiro se é capaz de, num impulso, entregar ao vivo uma nota de 50 reais a Silvio Santos, dono do SBT, após este defender fervorosamente a Reforma da Previdência? Em um só gesto, produziu-se a mais perfeita alegoria da maciça distribuição de verbas publicitárias do governo para comprar a opinião dos meios de comunicação a favor das reformas.
Qual a função de Mouco se Temer foi capaz de saudar efusivamente os jornalistas que participaram no Palácio do Planalto de um simulacro de entrevista durante o programa Roda Viva, da TV Cultura (“Cumprimento vocês por mais essa propaganda”)?
E quem teria imaginado, a não ser o próprio, o marcante pronunciamento no Dia Internacional da Mulher, quando, ao lado da esposa, Marcela Temer, acentuou a contribuição feminina à economia: “Ninguém é mais capaz de indicar os desajustes, por exemplo, de preços em supermercados do que a mulher. Ninguém é capaz de identificar melhor eventuais flutuações econômicas do que a mulher, pelo orçamento doméstico.” As senhoras de Santana, enfim representadas, não contiveram as lágrimas.
Obviamente, como tudo indica, posso estar redondamente enganado e Elsinho Mouco não possui uma estratégia de marketing arriscada e incompreendida. Talvez simplesmente não tenha a mínima noção do que fazer. Neste caso, só resta uma explicação: um desejo recôndito, freudiano, irrefreável, de confissão, do tipo que acomete assassinos passionais, crianças que comem doce fora da hora e certos golpistas.
Eis a minha tese: diante da impossibilidade de conceber qualquer propaganda ou informação que empreste credibilidade ao governo e retire a popularidade de Temer do lamaçal (a última pesquisa CNT-MDA captou estrondosos 4% de apoio ao emedebista), Mouco recorre à chacota, ao escracho, em busca de alguma empatia com o público. Falem mal, mas falem de mim, prega o ditado.
Seria uma medida desesperada, concordo, mas o marqueteiro não tem nada a perder. Temer é o presidente mais impopular da história e poderia facilmente protagonizar a série “Todo mundo odeia o Chris”, que, por sinal, durou quatro temporadas (um mandato presidencial inteiro no Brasil). Como apregoava o deputado federal Tiririca em sua campanha, “pior do que está não fica”. Ou fica?
De caso pensado ou não, Mouco e sua equipe, temos de admitir, se esforçam. A mais recente pérola estava impressa no convite para a “celebração” de dois anos da tomada de poder por Temer, no qual se lia a brilhante frase: “O Brasil voltou, 20 anos em 2”.
Nem o mais ferrenho dilmista descreveria o período com tamanha precisão. No Twitter, o senador petista Lindbergh Farias foi ao ponto: “Se tirar a vírgula fica perfeito”. Há até quem aponte a modéstia dos marqueteiros: o retrocesso teria sido muito maior. Segundo o jornal O Estado de S.Paulo, o slogan gerou uma crise na comunicação do Palácio do Planalto.
Por que só agora? Fazia algum sentido, por acaso, tentar converter em elogios ao governo o maroto conselho (“É preciso manter isso aí, viu?”) de Temer ao empresário Joesley Batista? Mouco esperava transformar água em vinho: a sugestão entre cúmplices pronunciada às escondidas viraria uma celebração da inexpressiva queda do desemprego e do raquítico crescimento do PIB no ano passado.
A realidade derrubou seus planos. Se havia pouco a comemorar, agora não existe nada. No primeiro trimestre de 2018, o índice de desocupados voltou a crescer e ultrapassou a barreira dos 13% (o Brasil tem o quarto pior percentual do mundo).
A indústria e o comércio patinam e o futuro da economia anda mais nebuloso do que o destino do emedebista após a perda do foro privilegiado. E os brasileiros, quando ouvem a frase, continuam a entende-la perfeitamente: tratou-se de aval para a compra do silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha, condenado por corrupção e parceiro do ex-vice-presidente decorativo na tramoia do impeachment e em outros empreitadas.
Meses antes, Temer quase enfrentou um processo do técnico Felipão por conta de outro insight de seu marqueteiro, que achou criativo recorrer a uma metáfora futebolística: o emedebista seria Tite, enquanto Dilma Rousseff se compararia a Felipão, treinador da Seleção Brasileira na derrota de 7 a 1 para a Alemanha na semifinal da Copa de 2014. A ameaça de ação judicial e a péssima repercussão da tirada obrigaram Mouco a recolher o time de campo.
Tem mais. O marqueteiro demonstrou seu profundo conhecimento das redes sociais a sugerir “mudar esse algoritmo” depois de sua equipe detectar uma onda de “vomitaços” no Facebook dirigidos a Temer. Segundo Mouco, a internet havia sido invadida por petistas. É óbvio, só podem ser simpatizantes do PT os quase 80% de brasileiros que consideram o governo “ruim” ou “péssimo” e que tem náuseas ao ouvir o nome do emedebista.
Nunca entendi o motivo de Temer, tão habilidoso na auto-sabotagem, precisar de uma equipe inteira e remunerada para diariamente imaginar formas de piorar a sua imagem. Quem necessita de um marqueteiro se é capaz de, num impulso, entregar ao vivo uma nota de 50 reais a Silvio Santos, dono do SBT, após este defender fervorosamente a Reforma da Previdência? Em um só gesto, produziu-se a mais perfeita alegoria da maciça distribuição de verbas publicitárias do governo para comprar a opinião dos meios de comunicação a favor das reformas.
Qual a função de Mouco se Temer foi capaz de saudar efusivamente os jornalistas que participaram no Palácio do Planalto de um simulacro de entrevista durante o programa Roda Viva, da TV Cultura (“Cumprimento vocês por mais essa propaganda”)?
E quem teria imaginado, a não ser o próprio, o marcante pronunciamento no Dia Internacional da Mulher, quando, ao lado da esposa, Marcela Temer, acentuou a contribuição feminina à economia: “Ninguém é mais capaz de indicar os desajustes, por exemplo, de preços em supermercados do que a mulher. Ninguém é capaz de identificar melhor eventuais flutuações econômicas do que a mulher, pelo orçamento doméstico.” As senhoras de Santana, enfim representadas, não contiveram as lágrimas.
Obviamente, como tudo indica, posso estar redondamente enganado e Elsinho Mouco não possui uma estratégia de marketing arriscada e incompreendida. Talvez simplesmente não tenha a mínima noção do que fazer. Neste caso, só resta uma explicação: um desejo recôndito, freudiano, irrefreável, de confissão, do tipo que acomete assassinos passionais, crianças que comem doce fora da hora e certos golpistas.
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