Por Ricardo Kotscho, em seu blog:
Acabou-se a ilusão do hexa, a Copa da Rússia está chegando ao fim, e o que sobrou para nós aqui é um país cada vez mais degradado, falido, sem vergonha, amorfo, entregue às baratas do fim de feira da “ponte para o futuro”, que nos levou de volta ao século 19.
Foi o que senti ao ler o noticiário desta sexta-feira, 13 de julho de 2018.
Se algum leitor conseguir encontrar alguma notícia boa para me animar um pouco diante de tudo que aconteceu esta semana, eu agradeço.
Começou com o vexame jurídico do domingo, em que rasgaram a fantasia das togas, e atravessou a semana toda com as pautas-bomba aprovadas no Congresso que inviabilizaram o próximo governo, arrebentando as contas públicas com mais uns R$ 100 bilhões de rombo fiscal.
Foi uma fara: liberaram aumentos e contratações para o funcionalismo, deram desconto de imposto de fábricas da zona franca de Manus, perdão da dívida para micro e pequenas empresas, anistiaram crimes e infrações, liberaram a contratação de cupinchas e parentes nas estatais - , e ninguém, nenhum candidato presidencial ou representante da “elite” disse nada, como bem observou Vinícius Torres Freire em sua coluna de hoje na Folha, com o título “Autodestruição do país continua”.
Destruíram o presente e comprometeram o futuro, não deixaram pedra sobre pedra, deram uma banana para ao distinto eleitorado, a menos de três meses da abertura das urnas.
Mas nada pode expressar melhor o atual momento do que a fotografia publicada no pé da página A8 do mesmo jornal.
Único candidato em campanha aberta, empunhando a faixa presidencial no peito, Jair Bolsonaro aparece eufórico, como se já estivesse comemorando a vitória, ao lado de tipos assustadores como ele, no alto de um carro de som, em Marabá, no sudeste do Pará.
A foto de Ulisses Pompeu pode ir para a capa de um livro quando alguém escrever a história deste Brasil de 2018, que lembra cenas da ascensão do nazismo e do fascismo na Europa dos anos 30 do século passado.
Também não se levava muito a sério os malucos e celerados que apareceram do nada para salvar pátrias derrotadas na Primeira Guerra, e deu no que deu.
Da mesma forma, muita gente do bem das “elites” achou também até bom aparecer um Collor para derrotar Brizola e Lula na primeira eleição direta para presidente ao final da ditadura brasileira, depois do desastre Sarney, outro vice do MDB que chegou ao poder sem votos.
Somos especialistas em repetir farsas com tragédias, gostamos de brincar com fogo à beira do abismo.
Por que só Bolsonaro continua em campanha?
É que o candidato favorito nas pesquisas presidenciais está há 100 dias na cadeia e os outros parecem ter vergonha de se apresentar em público, sem nada para dizer de novo, como se pode ver nas entrevistas e sabatinas da imprensa.
Bolsonaro também não tem. É um poço de sandices, ameaças e contradições cada vez que abre a boca, mas a maioria do eleitorado até aqui está encantada com seu jeitão valente, desafiando a velha política e prometendo melhorar o país a tiros de fuzil.
Será que ninguém está se dando conta do perigo que todos estamos correndo com esta insanidade triunfante faltando poucos dias para decidirmos os destinos do país?
Em Marabá, Bolsonaro se empolgou com a própria voz e mandou ver, como relata Leonêncio Nossa, enviado especial do Estadão:
"O que eles têm nós sabemos. O que temos eles não terão: o povo ao nosso lado”.
Dá para imaginar o que isso quer dizer .
Ao mesmo tempo em que foca seu discurso nas críticas à velha política, o ex-capitão afastado do Exército, não se abala quando o repórter lhe pergunta sobre a aliança que seu partido, o nanico PSL, está tramando com o MDB do Pará.
“Se o nosso foco é a cadeira presidencial, paciência. ”
Esta é a “nova política” que surgiu após a destruição dos partidos, das grandes empresas e das principais lideranças em nome do combate à corrupção para passar o país a limpo.
Quatro anos após o início da Operação Lava Jato e dois depois do impeachment da presidente eleita, é o que temos.
Lamento ter que escrever estas coisas mais uma vez. É como diz o genial Woody Allen, “a realidade é chata, mas é o único lugar onde ainda se pode comer um bom bife”.
Do jeito que as coisas andam, porém, não vai sobrar bife para todos, infelizmente. Nem bife, nem democracia.
Nossa liberdade e o Estado de Direito estão outra vez seriamente ameaçados, apenas 54 anos após o golpe militar que nos jogou nas profundezas da ditadura e três décadas depois de reconquistarmos a democracia.
Apesar de tudo, bom final de semana e de Copa para todos.
Vida que segue.
Foi o que senti ao ler o noticiário desta sexta-feira, 13 de julho de 2018.
Se algum leitor conseguir encontrar alguma notícia boa para me animar um pouco diante de tudo que aconteceu esta semana, eu agradeço.
Começou com o vexame jurídico do domingo, em que rasgaram a fantasia das togas, e atravessou a semana toda com as pautas-bomba aprovadas no Congresso que inviabilizaram o próximo governo, arrebentando as contas públicas com mais uns R$ 100 bilhões de rombo fiscal.
Foi uma fara: liberaram aumentos e contratações para o funcionalismo, deram desconto de imposto de fábricas da zona franca de Manus, perdão da dívida para micro e pequenas empresas, anistiaram crimes e infrações, liberaram a contratação de cupinchas e parentes nas estatais - , e ninguém, nenhum candidato presidencial ou representante da “elite” disse nada, como bem observou Vinícius Torres Freire em sua coluna de hoje na Folha, com o título “Autodestruição do país continua”.
Destruíram o presente e comprometeram o futuro, não deixaram pedra sobre pedra, deram uma banana para ao distinto eleitorado, a menos de três meses da abertura das urnas.
Mas nada pode expressar melhor o atual momento do que a fotografia publicada no pé da página A8 do mesmo jornal.
Único candidato em campanha aberta, empunhando a faixa presidencial no peito, Jair Bolsonaro aparece eufórico, como se já estivesse comemorando a vitória, ao lado de tipos assustadores como ele, no alto de um carro de som, em Marabá, no sudeste do Pará.
A foto de Ulisses Pompeu pode ir para a capa de um livro quando alguém escrever a história deste Brasil de 2018, que lembra cenas da ascensão do nazismo e do fascismo na Europa dos anos 30 do século passado.
Também não se levava muito a sério os malucos e celerados que apareceram do nada para salvar pátrias derrotadas na Primeira Guerra, e deu no que deu.
Da mesma forma, muita gente do bem das “elites” achou também até bom aparecer um Collor para derrotar Brizola e Lula na primeira eleição direta para presidente ao final da ditadura brasileira, depois do desastre Sarney, outro vice do MDB que chegou ao poder sem votos.
Somos especialistas em repetir farsas com tragédias, gostamos de brincar com fogo à beira do abismo.
Por que só Bolsonaro continua em campanha?
É que o candidato favorito nas pesquisas presidenciais está há 100 dias na cadeia e os outros parecem ter vergonha de se apresentar em público, sem nada para dizer de novo, como se pode ver nas entrevistas e sabatinas da imprensa.
Bolsonaro também não tem. É um poço de sandices, ameaças e contradições cada vez que abre a boca, mas a maioria do eleitorado até aqui está encantada com seu jeitão valente, desafiando a velha política e prometendo melhorar o país a tiros de fuzil.
Será que ninguém está se dando conta do perigo que todos estamos correndo com esta insanidade triunfante faltando poucos dias para decidirmos os destinos do país?
Em Marabá, Bolsonaro se empolgou com a própria voz e mandou ver, como relata Leonêncio Nossa, enviado especial do Estadão:
"O que eles têm nós sabemos. O que temos eles não terão: o povo ao nosso lado”.
Dá para imaginar o que isso quer dizer .
Ao mesmo tempo em que foca seu discurso nas críticas à velha política, o ex-capitão afastado do Exército, não se abala quando o repórter lhe pergunta sobre a aliança que seu partido, o nanico PSL, está tramando com o MDB do Pará.
“Se o nosso foco é a cadeira presidencial, paciência. ”
Esta é a “nova política” que surgiu após a destruição dos partidos, das grandes empresas e das principais lideranças em nome do combate à corrupção para passar o país a limpo.
Quatro anos após o início da Operação Lava Jato e dois depois do impeachment da presidente eleita, é o que temos.
Lamento ter que escrever estas coisas mais uma vez. É como diz o genial Woody Allen, “a realidade é chata, mas é o único lugar onde ainda se pode comer um bom bife”.
Do jeito que as coisas andam, porém, não vai sobrar bife para todos, infelizmente. Nem bife, nem democracia.
Nossa liberdade e o Estado de Direito estão outra vez seriamente ameaçados, apenas 54 anos após o golpe militar que nos jogou nas profundezas da ditadura e três décadas depois de reconquistarmos a democracia.
Apesar de tudo, bom final de semana e de Copa para todos.
Vida que segue.
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