Por Marcos Coimbra, na revista CartaCapital:
É longa a lista de notícias falsas e interpretações equivocadas que a “grande” imprensa brasileira ofereceu aos leitores no acompanhamento da eleição presidencial. Inventaram candidaturas, imaginaram cenários e fizeram suposições irreais a respeito daquilo que a população queria. Não conseguiram antecipar o quadro que temos hoje.
Apostaram que os eleitores buscariam a “novidade”, nutriram a ridícula expectativa de que o governo Temer “chegaria forte” à eleição. Mais recentemente, difundiram a convicção de que o embate mais importante voltaria a ser travado entre PSDB e PT.
Dentre vários despropósitos, dois foram os principais. De um lado, a incapacidade de enxergar a força de Lula e do PT. De outro, a recusa de reconhecer que Jair Bolsonaro é mais que um personagem bizarro.
O saldo desses erros é a dificuldade de compreender as duas candidaturas, que, juntas, representam mais de 70% das preferências, tomando como base o voto nominal nas pesquisas recentes. A respeito da força de Lula, o máximo que conseguem é insistir na cantilena de que “os pobres têm saudade de uma época em que viviam (ilusoriamente) melhor”, subtraindo a condição de cidadãos, capazes de fazer escolhas qualificadas, das dezenas de milhões de pessoas que pretendem votar em seu nome e reduzindo-as a estômagos malsatisfeitos.
Em relação a Bolsonaro, o maior equívoco é vê-lo como uma espécie de Celso Russomano, o candidato paulista defensor televisivo dos direitos do consumidor, que sempre começa bem e termina mal as eleições majoritárias.
Não foram poucos os analistas que decretaram que o capitão apenas esquentava o lugar que Geraldo Alckmin ocuparia na hora H, quando o jogo efetivamente começasse e os profissionais entrassem em campo.
Nunca houve qualquer base para essa suposição, até ao contrário. Bolsonaro não nasceu na televisão e não é o tipo de candidato que o eleitor desinteressado e desinformado identifica como alguém familiar, de quem tem algumas vagas referências positivas.
São frequentes os candidatos com esse perfil e quase tivemos um a presidente, quando Luciano Huck namorou a possibilidade de concorrer. Mais sábio que Russomano, logo percebeu que era grande o risco de repeti-lo, preferindo retirar seu nome da disputa.
Bolsonaro vem de outro lugar. Sempre teve um enraizamento real na sociedade, de início limitado à baixa classe média suburbana carioca, em especial à “família militar”, mas que aos poucos adquiriu expressão nacional. Seu conservadorismo é de formação e não de ocasião. Nunca foi figurinha fácil na televisão e recebe dos veículos da “grande” imprensa tratamento de persona non grata.
Sem pedir a opinião de nenhum iluminado ou permissão a ninguém, percebeu que o vento soprava a seu favor, quando subiu a taxa de animosidade na vida política nacional. O ódio visceral dessa imprensa, do empresariado, da maioria do Judiciário e do Ministério Público contra o PT abriu um vasto espaço que poderia ocupar. Veio a ocupá-lo de fato e hoje é favorito a ser o representante maior do antipetismo na eleição.
É verdade que sua performance é inflada pelo grande volume de preferências que ele tem em um público em particular, os homens mais jovens, de classe média e escolaridade elevada, residentes no interior das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Mas é falso que suas intenções de voto estejam circunscritas a esses segmentos.
Ele não alcançaria os números que ostenta se não estivesse presente no imaginário de pessoas pobres, de baixa escolaridade e moradores das periferias metropolitanas. Erra quem supõe que todos os eleitores com esse perfil são lulistas ou estão próximos do PT.
Quem o recrimina por nada ter a dizer em termos programáticos se esquece de que o antipetismo é uma crença sem conteúdo afirmativo, fundamentalmente definido pela negação. Quanto ao reacionarismo e ao obscurantismo de sua agenda moral, as semelhanças com seus companheiros na direita são maiores que as discordâncias.
No fundo, Bolsonaro não é tão diferente do resto dos conservadores brasileiros, mesmo daqueles que se acham “modernos”. O que muda é o estilo (o que, aliás, o aproxima de um pedaço do eleitorado popular).
Não é por outros motivos que boa parte da aliança antipetista esteja pronta a apoiá-lo em um segundo turno contra o PT. Do qual estaremos poupados se Lula for candidato, pois suas chances de vitória no dia 7 de outubro são reais.
Apostaram que os eleitores buscariam a “novidade”, nutriram a ridícula expectativa de que o governo Temer “chegaria forte” à eleição. Mais recentemente, difundiram a convicção de que o embate mais importante voltaria a ser travado entre PSDB e PT.
Dentre vários despropósitos, dois foram os principais. De um lado, a incapacidade de enxergar a força de Lula e do PT. De outro, a recusa de reconhecer que Jair Bolsonaro é mais que um personagem bizarro.
O saldo desses erros é a dificuldade de compreender as duas candidaturas, que, juntas, representam mais de 70% das preferências, tomando como base o voto nominal nas pesquisas recentes. A respeito da força de Lula, o máximo que conseguem é insistir na cantilena de que “os pobres têm saudade de uma época em que viviam (ilusoriamente) melhor”, subtraindo a condição de cidadãos, capazes de fazer escolhas qualificadas, das dezenas de milhões de pessoas que pretendem votar em seu nome e reduzindo-as a estômagos malsatisfeitos.
Em relação a Bolsonaro, o maior equívoco é vê-lo como uma espécie de Celso Russomano, o candidato paulista defensor televisivo dos direitos do consumidor, que sempre começa bem e termina mal as eleições majoritárias.
Não foram poucos os analistas que decretaram que o capitão apenas esquentava o lugar que Geraldo Alckmin ocuparia na hora H, quando o jogo efetivamente começasse e os profissionais entrassem em campo.
Nunca houve qualquer base para essa suposição, até ao contrário. Bolsonaro não nasceu na televisão e não é o tipo de candidato que o eleitor desinteressado e desinformado identifica como alguém familiar, de quem tem algumas vagas referências positivas.
São frequentes os candidatos com esse perfil e quase tivemos um a presidente, quando Luciano Huck namorou a possibilidade de concorrer. Mais sábio que Russomano, logo percebeu que era grande o risco de repeti-lo, preferindo retirar seu nome da disputa.
Bolsonaro vem de outro lugar. Sempre teve um enraizamento real na sociedade, de início limitado à baixa classe média suburbana carioca, em especial à “família militar”, mas que aos poucos adquiriu expressão nacional. Seu conservadorismo é de formação e não de ocasião. Nunca foi figurinha fácil na televisão e recebe dos veículos da “grande” imprensa tratamento de persona non grata.
Sem pedir a opinião de nenhum iluminado ou permissão a ninguém, percebeu que o vento soprava a seu favor, quando subiu a taxa de animosidade na vida política nacional. O ódio visceral dessa imprensa, do empresariado, da maioria do Judiciário e do Ministério Público contra o PT abriu um vasto espaço que poderia ocupar. Veio a ocupá-lo de fato e hoje é favorito a ser o representante maior do antipetismo na eleição.
É verdade que sua performance é inflada pelo grande volume de preferências que ele tem em um público em particular, os homens mais jovens, de classe média e escolaridade elevada, residentes no interior das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Mas é falso que suas intenções de voto estejam circunscritas a esses segmentos.
Ele não alcançaria os números que ostenta se não estivesse presente no imaginário de pessoas pobres, de baixa escolaridade e moradores das periferias metropolitanas. Erra quem supõe que todos os eleitores com esse perfil são lulistas ou estão próximos do PT.
Quem o recrimina por nada ter a dizer em termos programáticos se esquece de que o antipetismo é uma crença sem conteúdo afirmativo, fundamentalmente definido pela negação. Quanto ao reacionarismo e ao obscurantismo de sua agenda moral, as semelhanças com seus companheiros na direita são maiores que as discordâncias.
No fundo, Bolsonaro não é tão diferente do resto dos conservadores brasileiros, mesmo daqueles que se acham “modernos”. O que muda é o estilo (o que, aliás, o aproxima de um pedaço do eleitorado popular).
Não é por outros motivos que boa parte da aliança antipetista esteja pronta a apoiá-lo em um segundo turno contra o PT. Do qual estaremos poupados se Lula for candidato, pois suas chances de vitória no dia 7 de outubro são reais.
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