Por Ricardo Kotscho, em seu blog:
Em seus delírios autoritários, Jair Bolsonaro já prometeu fazer o Brasil voltar a viver no paraíso de 40, 50 anos atrás, “quando não havia violência nem corrupção”.
Eram os tempos da ditadura militar a que o capitão serviu, antes de ser afastado do Exército, tempos tão violentos e corruptos como hoje, só que a imprensa na época não podia noticiar porque era censurada.
Com a vitória na eleição já praticamente garantida, Bolsonaro deixou bem claro no domingo, em seu apoteótico discurso ao vivo pelo celular, na avenida Paulista, que não é candidato a presidente, da República, mas a ditador.
Quer simplesmente prender ou banir do país seus adversários políticos, disse-o com todas as palavras, em seu linguajar tosco e beligerante.
Resta apenas saber qual é o seu modelo de ditador: Emílio Médici ou Adolfo Hitler.
Pois basta rever filmes antigos da Alemanha, mostrando a escalada de Hitler ao poder nos anos 30 do século passado, e comparar com o discurso do capitão no domingo, para encontrar a resposta mais correta.
Perto dele, o general Médici, o mais cruel dos ditadores brasileiros, pode agora parecer um estadista de perfil moderado.
O general jamais falou nada parecido com as ameaças feitas pelo capitão, muito menos antes de tomar posse, em substituição a uma junta militar, no impedimento do marechal Costa e Silva.
Com a grande imprensa mundial muito mais assustada e preocupada do que a nossa, diante da ameaça iminente que o capitão reformado representa para a democracia brasileira, o nazismo alemão voltou a ser tratado como um assunto do presente, renascendo nos trópicos.
De Reading, no Reino Unido, o engenheiro Otto Silveira enviou mensagem à coluna Painel do Leitor, na Folha, que resume bem o que o mundo pensa de nós:
“Acompanho do exterior com apreensão o desfecho das eleições deste ano, com a nítida impressão de que estamos à beira de um abismo e da barbárie, e não nos damos conta, cegos pelo clima de ódio e radicalismo que se instaurou. Espero que não estejamos prestes a reviver a história da Alemanha”.
Minha mãe alemã não está mais entre nós para relembrar as histórias que me contava quando criança sobre os horrores da guerra, em meio à perseguição dos nazistas contra a nossa família.
Podem dizer que estou muito apavorado, mas mas sei do que estou falando ao tratar deste assunto, no momento em que o Brasil caminha para eleger um ex-militar celerado, despreparado e inconsequente, no melhor estilo do Führer alemão, que jogou o mundo na guerra e se tornou o maior criminoso do século 20.
Comparem os discursos do Jair e do Adolfo, tem tudo no Google.
Podemos voltar não apenas 40, 50 anos no tempo, como anunciou o capitão, mas bem mais para trás, quando o nazifascismo começou a se instalar na Europa.
A Alemanha estava arruinada e desgovernada após a Primeira Guerra Mundial, em busca de um salvador da pátria, mais ou menos como nós estamos hoje, nos estertores do moribundo governo Temer, entronizado após o Golpe de 2016.
Não quero que meus netos passem pelo mesmo sofrimento atroz que seus bisavós enfrentaram antes de virem para o Brasil em busca de paz e trabalho.
Domingo mesmo escrevi uma carta pra eles, que publiquei aqui no blog, fazendo um apelo para que fiquem no Brasil e não me deixem sozinho na terra adotada pelos meus pais.
Mas, depois de ouvir o discurso de Bolsonaro (ver post anterior), me dei conta de que posso estar sendo egoísta, porque quero ficar aqui, e colocando em risco o futuro deles.
Temo ficar sem argumentos para impedir o exílio da minha pequena família, a exemplo do que já fizeram os três filhos e 10 netos de meu único irmão.
Se acham que estou exagerando, leiam apenas estes trechos do discurso do ensandecido candidato, que está prestes a vencer a eleição:
“Nós somos a maioria. Nós somos o Brasil de verdade”.
“A faxina agora será muito mais ampla, essa turma, se quiser ficar aqui, vai ter que se colocar sob a lei de todos nós. Ou vão para fora ou vão para a cadeia. Esses marginais vermelhos serão banidos de nossa pátria”.
“Petralhada, vocês não terão mais vez na nossa pátria (…) Será uma limpeza nunca vista na história do Brasil”.
“Ou vocês se enquadram e se submetem às leis ou vão fazer companhia ao cachaceiro lá em Curitiba”.
“Nós ganharemos essa guerra”.
Adolfo Hitler também dizia isso, pouco antes de se suicidar num bunker em Berlim.
No asfalto da elegante avenida Paulista, a platéia amestrada urrava de satisfação e prazer, só esperando uma ordem do chefe para avançar sobre os adversários.
O que poderá acontecer no Brasil na noite de domingo se eles vencerem?
Temos agora poucas horas agora para cair na realidade e impedir esta tragédia anunciada.
Em suas ameaças, o bolsonarismo em marcha acenava com o perigo do Brasil se transformar numa Venezuela, mas agora a ameaça é real de virar coisa muito pior.
Vida que segue.
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