Por Tereza Cruvinel, no Jornal do Brasil:
Em uma semana, o novo regime começou a mostrar a cara. Pelo focinho é que se conhece o bicho.
Surpresos, só os que acreditavam que a retórica de campanha não se tornaria forma de governo. No primeiro dia como presidente eleito, Jair Bolsonaro reiterou ameaças aos adversários e ameaçou retaliar veículos que não se portarem bem.
Pelo Twitter, confirmou ministros e desmentiu notícias. Está claro que apostará na comunicação pessoal e direta com o povo, através das redes sociais, dispensando a mediação da imprensa, e que no Congresso buscará votos ao largo dos partidos. Focinho de populismo autoritário, que saído das urnas, pode ser mais forte que o gerado por tanques.
Sendo autoindulgentes, podemos debitar ao torpor do resultado eleitoral a falta de reação à altura de duas coisas graves que ele disse, na segunda-feira, na entrevista ao Jornal Nacional.
Sobre a ameaça de “varrer estes bandidos vermelhos”, mandando-os para a prisão ou o exílio, confirmou ter se referido às cúpulas do PT e do PSOL. Na mesma fala, havia dito que faria o ex-presidente Lula apodrecer na cadeia e para lá mandaria o senador Lindbergh e o concorrente Haddad. É aterrador, mas foi assimilado.
Atacou violentamente a Folha de S. Paulo e ameaçou cortar verbas publicitárias de veículos críticos.
É antirrepublicano, mas passou.
Houve registros críticos e solidários, mas também aquém da gravidade da fala.
Agora está nas redes sociais o empresário Luciano Hang, dono das lojas Havan, apontado pela Folha como um dos empresários que pagou pelos disparos de mensagens antipetistas pelo Whatsapp no primeiro turno, pregando o boicote às maquinas Pagseguro.
De propriedade do grupo Folha, elas devem garantir faturamento que blinda seus veículos contra a dependência das verbas governamentais.
Na quinta-feira, a primeira entrevista coletiva foi concedida com os microfones colocados sobre uma prancha de bodyboard, na residência do eleito, numa desorganização que parece proposital, destinada a mostrar como ele é simples e prático, diferente de “tudo que está aí”.
Os jornais Folha de S. Paulo, O Globo, Valor Econômico, O Estado de S. Paulo, a EBC e a CBN não puderam entrar.
Se a decisão não foi dele, como alegou, foi tomada por quem pensa como ele.
A falta de uma assessoria de imprensa profissional não é casual.
Na sexta-feira, ele voltou as usar a rede social para desmentir notícias sobre a recriação de uma CPMF.
“Desautorizo informações prestadas junto à mídia por qualquer grupo intitulado ‘equipe de Bolsonaro’.”
E com isso, a informação “off the record” não valerá.
Em entrevista ao jornal O Globo, seu filho Eduardo, deputado federal eleito, confirmou que o pai, no governo, continuará fazendo uso intensivo das redes sociais quando estiver governando: “Com certeza. As nossas redes sociais são grandes porque temos uma conexão com o povo. Quando explicarmos as reformas, os nossos eleitores ficarão cientes. Certamente funcionarão como agentes multiplicadores. Nem vou expor os colegas deputados, mas aqueles que forem contra vão ter que explicar suas posições”. Em miúdos, a articulação política fará uso do terror digital.
Os partidos, especialmente o PT, só entenderam o esquema quando ficou evidente a força da máquina de fake news no primeiro turno. O campo democrático, para além da esquerda que será perseguida, não pode repetir o erro.
O esquema digital agora será usado para sustentar um projeto de poder.
Isso é assustador, num país como o Brasil, num ambiente social envenenado.
Estudo da organização Avaaz concluiu que 98,21% dos eleitores de Bolsonaro foram expostos a uma ou mais notícias falsas na campanha, e que 89,77% deles acreditaram que eram verdadeiras.
Do kit gay ao comunismo do PT. Por este caminho, o regime pode ser longevo.
Mas como governos não produzem soluções na velocidade das redes, pode sobrevir uma enorme frustração de expectativas, e as reações podem levar ao mergulho total no autoritarismo.
Moro, que apitou o jogo e entrou pro time vencedor, terá nas mãos todo o aparato repressivo.
Em uma semana, o novo regime começou a mostrar a cara. Pelo focinho é que se conhece o bicho.
Surpresos, só os que acreditavam que a retórica de campanha não se tornaria forma de governo. No primeiro dia como presidente eleito, Jair Bolsonaro reiterou ameaças aos adversários e ameaçou retaliar veículos que não se portarem bem.
Pelo Twitter, confirmou ministros e desmentiu notícias. Está claro que apostará na comunicação pessoal e direta com o povo, através das redes sociais, dispensando a mediação da imprensa, e que no Congresso buscará votos ao largo dos partidos. Focinho de populismo autoritário, que saído das urnas, pode ser mais forte que o gerado por tanques.
Sendo autoindulgentes, podemos debitar ao torpor do resultado eleitoral a falta de reação à altura de duas coisas graves que ele disse, na segunda-feira, na entrevista ao Jornal Nacional.
Sobre a ameaça de “varrer estes bandidos vermelhos”, mandando-os para a prisão ou o exílio, confirmou ter se referido às cúpulas do PT e do PSOL. Na mesma fala, havia dito que faria o ex-presidente Lula apodrecer na cadeia e para lá mandaria o senador Lindbergh e o concorrente Haddad. É aterrador, mas foi assimilado.
Atacou violentamente a Folha de S. Paulo e ameaçou cortar verbas publicitárias de veículos críticos.
É antirrepublicano, mas passou.
Houve registros críticos e solidários, mas também aquém da gravidade da fala.
Agora está nas redes sociais o empresário Luciano Hang, dono das lojas Havan, apontado pela Folha como um dos empresários que pagou pelos disparos de mensagens antipetistas pelo Whatsapp no primeiro turno, pregando o boicote às maquinas Pagseguro.
De propriedade do grupo Folha, elas devem garantir faturamento que blinda seus veículos contra a dependência das verbas governamentais.
Na quinta-feira, a primeira entrevista coletiva foi concedida com os microfones colocados sobre uma prancha de bodyboard, na residência do eleito, numa desorganização que parece proposital, destinada a mostrar como ele é simples e prático, diferente de “tudo que está aí”.
Os jornais Folha de S. Paulo, O Globo, Valor Econômico, O Estado de S. Paulo, a EBC e a CBN não puderam entrar.
Se a decisão não foi dele, como alegou, foi tomada por quem pensa como ele.
A falta de uma assessoria de imprensa profissional não é casual.
Na sexta-feira, ele voltou as usar a rede social para desmentir notícias sobre a recriação de uma CPMF.
“Desautorizo informações prestadas junto à mídia por qualquer grupo intitulado ‘equipe de Bolsonaro’.”
E com isso, a informação “off the record” não valerá.
Em entrevista ao jornal O Globo, seu filho Eduardo, deputado federal eleito, confirmou que o pai, no governo, continuará fazendo uso intensivo das redes sociais quando estiver governando: “Com certeza. As nossas redes sociais são grandes porque temos uma conexão com o povo. Quando explicarmos as reformas, os nossos eleitores ficarão cientes. Certamente funcionarão como agentes multiplicadores. Nem vou expor os colegas deputados, mas aqueles que forem contra vão ter que explicar suas posições”. Em miúdos, a articulação política fará uso do terror digital.
Os partidos, especialmente o PT, só entenderam o esquema quando ficou evidente a força da máquina de fake news no primeiro turno. O campo democrático, para além da esquerda que será perseguida, não pode repetir o erro.
O esquema digital agora será usado para sustentar um projeto de poder.
Isso é assustador, num país como o Brasil, num ambiente social envenenado.
Estudo da organização Avaaz concluiu que 98,21% dos eleitores de Bolsonaro foram expostos a uma ou mais notícias falsas na campanha, e que 89,77% deles acreditaram que eram verdadeiras.
Do kit gay ao comunismo do PT. Por este caminho, o regime pode ser longevo.
Mas como governos não produzem soluções na velocidade das redes, pode sobrevir uma enorme frustração de expectativas, e as reações podem levar ao mergulho total no autoritarismo.
Moro, que apitou o jogo e entrou pro time vencedor, terá nas mãos todo o aparato repressivo.
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