Por Osvaldo Bertolino, no site Vermelho:
Uma das formas de manipulação ideológica mais usada pelo bolsonarismo é a de associar ideologias a cores. O caso mais recente é o desse rumoroso posicionamento da ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, de que o Brasil está em "uma nova era" e agora "menino veste azul e menina veste rosa. O mais emblemático, contudo, é o mantra de que a bandeira brasileira jamais será vermelha.
Convenhamos, não é nada inteligente alguém confundir bandeira de entidade, partido ou simplesmente de símbolo ideológico com a bandeira do país. É uma confusão que expressa bem a ausência de honestidade intelectual dos líderes desses manifestantes, que manipulam o sentimento nacional para impor a sua ideologia.
Essa divisão de cores pela direita não é nova. Já na Revolução Socialista de 1917 na Rússia ela organizou os guardas brancos para combater os guardas vermelhos. A pregação ideológica da direita brasileira também guarda semelhança com a dos guardas brancos, que foram buscar na história o pretexto para o discurso anticomunista — a campanha contra os judeus no Império Russo do início do século XX.
A onda de terror, o pogrom — palavra russa usada praticamente em todas as línguas para definir os ataques aos judeus e às suas propriedades, que significa “tempestade” ou “destruição” —, jogou nas costas daquele povo o descontentamento social para apresentar a nobreza czarista como protetora do país.
Mitos execráveis
Os guardas brancos substituíram os judeus pelos comunistas, ou usaram ambos como sinônimos, fórmula incorporada mais tarde pelo nazista Adolf Hitler. O racismo como método de governo, que só se viabiliza pelo terror, foi massacrado pela vitória da democracia e do socialismo na Segunda Guerra Mundial, mas nunca deixou de ter apoio em franjas significativas de muitas sociedades. Em momentos de elevação das mazelas do capitalismo, ele ganha fôlego exatamente pelos motivos usados por czaristas e nazi-fascistas: alguém precisa pagar a conta da crise.
No Brasil atual, é possível ver traços desse racismo em qualquer fotografia das manifestações golpistas. O ódio ao vermelho na verdade traduz o ódio de classe. Mais do que a cor em si, esse ranço conservador é resultado de causas sociais complexas. Ele se manifesta por sentenças como bandido bom é bandido morto, sem mediações de qualquer ordem, e se realiza com a truculência como forma de resolver conflitos sociais. E se propaga como guerra ideológica contra qualquer causa social, considerada sinônimo de comodismo, de inércia e oportunismo.
Números certos
Para a direita, o sentimento de que pertencemos ao mesmo conjunto de seres humanos, de que a relação entre os grupos sociais deve ser regida pela racionalidade, não tem o menor cabimento. Claro que esse pensamento passa ao largo da inteligência, da capacidade de diálogo e raciocínio. Ele joga sobre os pobres toda a responsabilidade pelo caos social e se vale de mitos execráveis como o de que às mulheres cabe o papel de esquentar a barriga no fogão e esfriá-la no tanque. Ou o de que os negros são menos dignos por terem mais melanina em suas peles. É uma ideologia politicamente reacionária e culturalmente conservadora.
É inegável que o ser humano voltado para essa ideia significa um ser humano de costas para conceitos como integridade e bem comum. Essa concepção acaba varrendo do debate a reflexão, a filosofia, e, em consequência, os fundamentos do comportamento ético. Por essa lógica, os ganhos materiais representam o único valor pelo qual vale a pena lutar. O importante na vida é gerar os números certos — o resto é resto. Desse modo, para garantir a diversão em uma noite tediosa, considera-se incinerar alguém. Para extravasar uma raiva qualquer, ou a mera tensão do momento, executa-se sumariamente uma pessoa.
Violência ressentida
A causa social é a antítese de tudo isso. Ela preconiza os valores que nos garantem viver juntos sobre um mesmo pedaço de terra. Defende que caminhemos na direção do civismo, combatendo a tradição de que os que habitam a base da pirâmide social devem assumir goela abaixo responsabilidades que não são suas. E pensa a afirmação da cidadania não como um ponto de educação moral e cívica, mas como meio efetivo de melhorar a qualidade da vida de todos. Ser contra essa causa não passa de mesquinhez e falta de inteligência. Mas é assim que a direita pensa e age.
Por isso ela é violenta, de baixa cognitividade política, intolerante. A ideologia que manteve a escravidão até às barbas do século XX está impregnada na sua alma. Não é por outro motivo que o jeito como a elite brasileira reage às ações sociais expressa rancor e violência ressentida. O comportamento das manifestações da extrema direita reflete exatamente esse cenário.
Convenhamos, não é nada inteligente alguém confundir bandeira de entidade, partido ou simplesmente de símbolo ideológico com a bandeira do país. É uma confusão que expressa bem a ausência de honestidade intelectual dos líderes desses manifestantes, que manipulam o sentimento nacional para impor a sua ideologia.
Essa divisão de cores pela direita não é nova. Já na Revolução Socialista de 1917 na Rússia ela organizou os guardas brancos para combater os guardas vermelhos. A pregação ideológica da direita brasileira também guarda semelhança com a dos guardas brancos, que foram buscar na história o pretexto para o discurso anticomunista — a campanha contra os judeus no Império Russo do início do século XX.
A onda de terror, o pogrom — palavra russa usada praticamente em todas as línguas para definir os ataques aos judeus e às suas propriedades, que significa “tempestade” ou “destruição” —, jogou nas costas daquele povo o descontentamento social para apresentar a nobreza czarista como protetora do país.
Mitos execráveis
Os guardas brancos substituíram os judeus pelos comunistas, ou usaram ambos como sinônimos, fórmula incorporada mais tarde pelo nazista Adolf Hitler. O racismo como método de governo, que só se viabiliza pelo terror, foi massacrado pela vitória da democracia e do socialismo na Segunda Guerra Mundial, mas nunca deixou de ter apoio em franjas significativas de muitas sociedades. Em momentos de elevação das mazelas do capitalismo, ele ganha fôlego exatamente pelos motivos usados por czaristas e nazi-fascistas: alguém precisa pagar a conta da crise.
No Brasil atual, é possível ver traços desse racismo em qualquer fotografia das manifestações golpistas. O ódio ao vermelho na verdade traduz o ódio de classe. Mais do que a cor em si, esse ranço conservador é resultado de causas sociais complexas. Ele se manifesta por sentenças como bandido bom é bandido morto, sem mediações de qualquer ordem, e se realiza com a truculência como forma de resolver conflitos sociais. E se propaga como guerra ideológica contra qualquer causa social, considerada sinônimo de comodismo, de inércia e oportunismo.
Números certos
Para a direita, o sentimento de que pertencemos ao mesmo conjunto de seres humanos, de que a relação entre os grupos sociais deve ser regida pela racionalidade, não tem o menor cabimento. Claro que esse pensamento passa ao largo da inteligência, da capacidade de diálogo e raciocínio. Ele joga sobre os pobres toda a responsabilidade pelo caos social e se vale de mitos execráveis como o de que às mulheres cabe o papel de esquentar a barriga no fogão e esfriá-la no tanque. Ou o de que os negros são menos dignos por terem mais melanina em suas peles. É uma ideologia politicamente reacionária e culturalmente conservadora.
É inegável que o ser humano voltado para essa ideia significa um ser humano de costas para conceitos como integridade e bem comum. Essa concepção acaba varrendo do debate a reflexão, a filosofia, e, em consequência, os fundamentos do comportamento ético. Por essa lógica, os ganhos materiais representam o único valor pelo qual vale a pena lutar. O importante na vida é gerar os números certos — o resto é resto. Desse modo, para garantir a diversão em uma noite tediosa, considera-se incinerar alguém. Para extravasar uma raiva qualquer, ou a mera tensão do momento, executa-se sumariamente uma pessoa.
Violência ressentida
A causa social é a antítese de tudo isso. Ela preconiza os valores que nos garantem viver juntos sobre um mesmo pedaço de terra. Defende que caminhemos na direção do civismo, combatendo a tradição de que os que habitam a base da pirâmide social devem assumir goela abaixo responsabilidades que não são suas. E pensa a afirmação da cidadania não como um ponto de educação moral e cívica, mas como meio efetivo de melhorar a qualidade da vida de todos. Ser contra essa causa não passa de mesquinhez e falta de inteligência. Mas é assim que a direita pensa e age.
Por isso ela é violenta, de baixa cognitividade política, intolerante. A ideologia que manteve a escravidão até às barbas do século XX está impregnada na sua alma. Não é por outro motivo que o jeito como a elite brasileira reage às ações sociais expressa rancor e violência ressentida. O comportamento das manifestações da extrema direita reflete exatamente esse cenário.
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