Por Ricardo Kotscho, em seu blog:
Durante dois anos, em 2003 e 2004, tive a oportunidade de viajar com Lula para 26 países, como secretário de Imprensa do ex-presidente.
Lula manteve encontros com os principais líderes mundiais da época e, com todos eles, falou de igual para igual, de forma altiva, serena e respeitosa, como se espera do presidente de um país soberano como o Brasil.
“Eles não são melhores nem piores do que eu. Não tenho medo de nenhum deles. Cada um tem que defender os interesses do seu país e é conversando que a gente se entende”, disse-me Lula, num intervalo da sua primeira viagem ao exterior, em janeiro de 2003.
Fomos ao Fórum de Davos, na Suíça, onde ele seria longamente aplaudido, ao final do seu discurso de meia hora, e não deixou nenhuma pergunta sem resposta.
Teve encontros com todos os presidentes e empresários que lhe solicitaram audiência, concedeu um sem número de entrevistas a jornalistas brasileiros e estrangeiros, não parou um minuto.
Na viagem de volta, ainda visitou a França e a Alemanha, e levou um susto em Berlim, quando, do lado de fora do palácio, começaram a gritar seu nome, já tarde da noite. Eram brasileiros aplaudindo seu presidente. O primeiro ministro alemão, cujo nome não me recordo, ficou encantado com a cena.
O presidente da França era o conservador Jacques Chirac, eleito no ano anterior numa campanha acirrada, em que Lula apoiou seu adversário, do Partido Socialista, o que fez nossa diplomacia temer pelo encontro.
Ao final de uma longa reunião-almoço, os dois já pareciam velhos amigos, na hora da conferência de imprensa, num salão superlotado de jornalistas do mundo inteiro.
Lula estava tão à vontade que, durante a fala de Chirac, ele me fez um sinal para ir falar com ele.
“Ricardinho, dá uma olhada naquela mulher de chapéu verde no fundo do salão… Você já viu mulher mais feia?”
Claro que os colegas brasileiros queriam saber o que de tão importante ele me falou no ouvido. Maior saia justa, mas escapei ileso com uma desculpa qualquer.
Não era fácil ser assessor do Lula, que não seguia muito os protocolos e os horários, e parava no caminho para atender qualquer pessoa que queria falar com ele.
Nem parece que Lula e Jair Bolsonaro são do mesmo país. Quanta diferença!
Diante do comportamento sabujo e subalterno do atual presidente nos Estados Unidos, na sua primeira viagem oficial a outro país em quase três meses de mandato, Lula mandou um recado direto e duro para o capitão nesta segunda-feira, interpretando o sentimento da maioria dos brasileiros:
“Tem gente que confunde defender a soberania brasileira, independência e cabeça erguida com anti-americanismo. Está explicada a submissão atual. Ninguém respeita quem não se respeita”.
Antes mesmo de desembarcar, Bolsonaro tinha se vangloriado no Twitter de ser “o primeiro presidente brasileiro não anti-americano a visitar os Estados Unidos em muitos anos” e, suprema honra, ficar hospedado na Blair House, a casa oficial de hóspedes do governo americano.
Duas basófias, fake news, mentiras. Por acaso, Fernando Henrique Cardoso pode ser chamado de anti-americano? Pois ele, Dilma e Lula ficaram hospedados na mesma Blair House.
Além disso, todo mundo sabe que Lula tinha excelentes relações com George Bush e Barack Obama, os dois presidentes americanos com quem se encontrou durante seus dois mandatos.
Obama, como até Bolsonaro deve se lembrar, foi aquele que chamou Lula de “o cara”, dizendo que tinha inveja da popularidade dele.
Eram tão amigos os dois que saiam juntos de reuniões para fumar um cigarrinho escondidos do lado de fora.
Com posições políticas muitas vezes antagônicas, Bush e Lula se tratavam como velhos companheiros.
Certa vez, em Guadalajara, no México, se a memória não me falha, num encontro de presidentes da região, encontrei os dois conversando sozinhos, às gargalhadas, sem intérprete, no fundo do salão, quando as portas foram abertas.
Como ambos tinham dificuldades para falar inglês, perguntei depois ao nosso ex-presidente em que língua eles estavam conversando.
“Você sabe de onde é o Bush? Do Texas, pô. E onde fica o Texas? Não é encostado no México? Pois, então, falamos em bom portunhol…
Quando eu quis saber o assunto, Lula desconversou:
“E você acha que vou contar pra você assuntos de chefes de Estado?” E deu outra gargalhada.
Ao contrário da cara sempre sombria e tensa de Bolsonaro, Lula tirava essas viagens de letra, e até se divertia, lembrando de causos engraçados que aconteciam nas conversas de fim de semana no Alvorada ou no Torto.
Pois agora Bolsonaro quer passar como um panzer sobre as conquistas de Lula na área social e na política externa, como se estivesse à frente de um exército de ocupação para dizimar o adversário.
Na pajelança da extrema-direita deste domingo, na Embaixada do Brasil, parece que o capitão endoidou de vez.
Depois de dizer que o Brasil “caminhava para o comunismo” (com Michel Temer???), teve a coragem de dizer estas barbaridades à turma convocada por Olavo de Carvalho e Steve Bannon, seus dois gurus:
“O Brasil não é um terreno aberto onde nós pretendemos construir coisas para o nosso povo. Nós temos é que desconstruir muita coisa. Desfazer muita coisa. Para depois nós começarmos a fazer. Que eu sirva para que, pelo menos, eu possa ser um ponto de inflexão, já estou muito feliz”.
Que Deus nos livre e guarde diante desta ameaça.
Só espero que os americanos não o levem muito a sério. Ele não sabe o que diz.
Bem, eles são governados por Donald Trump…
Vida que segue.
Lula manteve encontros com os principais líderes mundiais da época e, com todos eles, falou de igual para igual, de forma altiva, serena e respeitosa, como se espera do presidente de um país soberano como o Brasil.
“Eles não são melhores nem piores do que eu. Não tenho medo de nenhum deles. Cada um tem que defender os interesses do seu país e é conversando que a gente se entende”, disse-me Lula, num intervalo da sua primeira viagem ao exterior, em janeiro de 2003.
Fomos ao Fórum de Davos, na Suíça, onde ele seria longamente aplaudido, ao final do seu discurso de meia hora, e não deixou nenhuma pergunta sem resposta.
Teve encontros com todos os presidentes e empresários que lhe solicitaram audiência, concedeu um sem número de entrevistas a jornalistas brasileiros e estrangeiros, não parou um minuto.
Na viagem de volta, ainda visitou a França e a Alemanha, e levou um susto em Berlim, quando, do lado de fora do palácio, começaram a gritar seu nome, já tarde da noite. Eram brasileiros aplaudindo seu presidente. O primeiro ministro alemão, cujo nome não me recordo, ficou encantado com a cena.
O presidente da França era o conservador Jacques Chirac, eleito no ano anterior numa campanha acirrada, em que Lula apoiou seu adversário, do Partido Socialista, o que fez nossa diplomacia temer pelo encontro.
Ao final de uma longa reunião-almoço, os dois já pareciam velhos amigos, na hora da conferência de imprensa, num salão superlotado de jornalistas do mundo inteiro.
Lula estava tão à vontade que, durante a fala de Chirac, ele me fez um sinal para ir falar com ele.
“Ricardinho, dá uma olhada naquela mulher de chapéu verde no fundo do salão… Você já viu mulher mais feia?”
Claro que os colegas brasileiros queriam saber o que de tão importante ele me falou no ouvido. Maior saia justa, mas escapei ileso com uma desculpa qualquer.
Não era fácil ser assessor do Lula, que não seguia muito os protocolos e os horários, e parava no caminho para atender qualquer pessoa que queria falar com ele.
Nem parece que Lula e Jair Bolsonaro são do mesmo país. Quanta diferença!
Diante do comportamento sabujo e subalterno do atual presidente nos Estados Unidos, na sua primeira viagem oficial a outro país em quase três meses de mandato, Lula mandou um recado direto e duro para o capitão nesta segunda-feira, interpretando o sentimento da maioria dos brasileiros:
“Tem gente que confunde defender a soberania brasileira, independência e cabeça erguida com anti-americanismo. Está explicada a submissão atual. Ninguém respeita quem não se respeita”.
Antes mesmo de desembarcar, Bolsonaro tinha se vangloriado no Twitter de ser “o primeiro presidente brasileiro não anti-americano a visitar os Estados Unidos em muitos anos” e, suprema honra, ficar hospedado na Blair House, a casa oficial de hóspedes do governo americano.
Duas basófias, fake news, mentiras. Por acaso, Fernando Henrique Cardoso pode ser chamado de anti-americano? Pois ele, Dilma e Lula ficaram hospedados na mesma Blair House.
Além disso, todo mundo sabe que Lula tinha excelentes relações com George Bush e Barack Obama, os dois presidentes americanos com quem se encontrou durante seus dois mandatos.
Obama, como até Bolsonaro deve se lembrar, foi aquele que chamou Lula de “o cara”, dizendo que tinha inveja da popularidade dele.
Eram tão amigos os dois que saiam juntos de reuniões para fumar um cigarrinho escondidos do lado de fora.
Com posições políticas muitas vezes antagônicas, Bush e Lula se tratavam como velhos companheiros.
Certa vez, em Guadalajara, no México, se a memória não me falha, num encontro de presidentes da região, encontrei os dois conversando sozinhos, às gargalhadas, sem intérprete, no fundo do salão, quando as portas foram abertas.
Como ambos tinham dificuldades para falar inglês, perguntei depois ao nosso ex-presidente em que língua eles estavam conversando.
“Você sabe de onde é o Bush? Do Texas, pô. E onde fica o Texas? Não é encostado no México? Pois, então, falamos em bom portunhol…
Quando eu quis saber o assunto, Lula desconversou:
“E você acha que vou contar pra você assuntos de chefes de Estado?” E deu outra gargalhada.
Ao contrário da cara sempre sombria e tensa de Bolsonaro, Lula tirava essas viagens de letra, e até se divertia, lembrando de causos engraçados que aconteciam nas conversas de fim de semana no Alvorada ou no Torto.
Pois agora Bolsonaro quer passar como um panzer sobre as conquistas de Lula na área social e na política externa, como se estivesse à frente de um exército de ocupação para dizimar o adversário.
Na pajelança da extrema-direita deste domingo, na Embaixada do Brasil, parece que o capitão endoidou de vez.
Depois de dizer que o Brasil “caminhava para o comunismo” (com Michel Temer???), teve a coragem de dizer estas barbaridades à turma convocada por Olavo de Carvalho e Steve Bannon, seus dois gurus:
“O Brasil não é um terreno aberto onde nós pretendemos construir coisas para o nosso povo. Nós temos é que desconstruir muita coisa. Desfazer muita coisa. Para depois nós começarmos a fazer. Que eu sirva para que, pelo menos, eu possa ser um ponto de inflexão, já estou muito feliz”.
Que Deus nos livre e guarde diante desta ameaça.
Só espero que os americanos não o levem muito a sério. Ele não sabe o que diz.
Bem, eles são governados por Donald Trump…
Vida que segue.
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